Você é conformista?
Às vezes, a pessoa não percebe os sinais de um comportamento conformista porque mergulha em um esquema de vida que a impede de apreciá-la. Ela pensa que está, simplesmente, cumprindo com seu dever e que é apenas isso que se espera dela. No entanto, não para para refletir se suas realizações lhe permitem evoluir ou não.
É comum que por trás do conformismo se esconda a insegurança. A pessoa não tenta algo novo, nem dá um passo adiante porque o medo é muito forte. Muitas vezes ela evita admitir que está sendo conformista porque isso significaria enfrentar a dissonância de assumir um adjetivo que não deseja para si.
A pergunta chave é: você se sente satisfeito ou satisfeita com sua maneira de viver? Se a resposta for positiva, não importa como vive, você está fazendo certo. Se a resposta for negativa, possivelmente você está sendo conformista… simplesmente pelo medo provocado pela ideia de explorar novos caminhos.
Como saber se isso está acontecendo? A seguir, damos três dicas que podem ajudá-lo a responder.
Sinais de um comportamento conformista
“Certa vez, alguém disse que a única coisa de que o mal necessita para triunfar é que os homens bons não façam nada”.
-Filme Lágrimas do sol –
A identificação plena com as figuras de poder muitas vezes é um dos sinais de um comportamento conformista. Por identificação, entende-se o processo pelo qual se tomam como próprios as características e os valores alheios. Isso é normal e saudável. Passamos a fazer parte da cultura por identificação com características e padrões familiares.
No entanto, às vezes a identificação não representa realmente nossos desejos e nossas necessidades. Muitas vezes tornamos nossos os valores de uma figura de poder, por um sentimento de insignificância em relação a nós mesmos ou por medo de quem exerce a autoridade.
É nesse momento que, por exemplo, você se torna conformista porque assim é exigido pelo seu líder político, social ou profissional. Por fim, para as figuras de poder, sempre é conveniente que os demais sejam submissos. Por isso, de forma imperceptível, você está sendo conformista.

2. Interiorização inconsciente da norma
Esse é um caso parecido com o anterior, mas aplicado às normas, não às figuras de poder. Consiste em incorporar passivamente as regras e normas, sem questionar sua validade ou conveniência. É isso que as crianças fazem durante sua fase de formação. Nos adultos, deveria operar um mecanismo diferente.
Durante a infância, não possuímos maturidade emocional ou intelectual para avaliar a conveniência de uma regra. As coisas são feitas porque uma figura de autoridade assim exige. Crescer envolve, entre outras conquistas, desenvolver um critério próprio para orientar nossa conduta.
Se você não conquista isso, acaba se apegando a valores que não compreende, simplesmente porque são os da maioria, ou porque assim determina uma figura de poder. Isso priva sua liberdade. Primeiro, você renuncia a sua própria consciência e, em seguida, se torna conformista e passivo frente ao que, talvez, só seja conveniente para os outros, não para você.

3. Zelo excessivo pelo cumprimento
O zelo excessivo pelo cumprimento também é uma conduta que, muitas vezes, oculta o medo de ser livre e autônomo. Ocorre quando você não cumpre com um compromisso por convicção ou por prazer, mas porque sente que não poderia fazer algo diferente disso. Você cumpre, como uma criança condicionada, para não despertar perturbações em quem você sente que tem autoridade sobre você.
O pior disso tudo é que o desejo de cumprir rigorosamente o leva à angústia ou à frustração. Você aprende a avaliar o que faz pelos olhos de quem exerce poder sobre você. Você deixa de lado seu próprio critério para adotar o do outro, seja por identificação ou para obter reconhecimento.

Não se trata de se rebelar contra toda forma de poder ou autoridade. Às vezes, essa atitude só é reflexo de um problema. No entanto, o importante é se perguntar, honestamente, se você está sendo conformista. Se a resposta for “sim”, é hora de avaliar com sinceridade o que está acontecendo.
Se você perceber que por trás disso só existem inseguranças e medos, talvez tenha chegado o momento de repensar algumas de suas normas ou orientações de vida. É possível que você esteja deixando muito de si ao longo do caminho, em troca de pouca coisa.
Na vida, em muitas ocasiões “nos conformamos”
João tinha um trabalho que não lhe agradava em nada, uma esposa que evitava ver e muito pouca esperança no futuro. Pensava que já era velho e que a vida na qual estava assentado, ainda que desagradável e infeliz, o protegia dos riscos aos quais poderia ser exposto se fosse tentar mudá-la
Pedro tinha sofrido um acidente de carro fazia dois meses, sua coluna tinha sofrido danos e os médicos lhe haviam dado muito pouca esperança de voltar a caminhar. No começo colocou todo seu empenho, mas vendo que a melhora não era constante, se desanimou. Teve dois meses muito ruins, pouco a pouco foi se refugiando em casa e perdendo o contato social. Um dia, fazendo compras, travou uma conversa com outro homem em uma cadeira de rodas. Rapidamente se tornaram amigos e começaram a sair juntos, e inclusive se inscreveram em uma associação que organizava eventos especialmente pensados para pessoas que não podiam caminhar.
José estava furioso porque deram a promoção que ele esperava há vários anos a outra pessoa. A raiva lhe durou vários dias e só começou a passar quando a sua mulher o pegou pelas mãos e lhe disse: “Esse momento não vai voltar, nem a decisão vai ser mudada. Contudo, você pode mudar o que vai acontecer hoje, amanhã e depois…”
O conformismo é uma atitude frente à vida, que se escolhida a partir da reflexão, pode nos trazer muita satisfação, já que nos permite aceitar e desfrutar do que acontece em nosso dia a dia e impede que vivamos em constante lamentação daquilo que não podemos mudar. Por outro lado, existe o risco de que o conformismo seja uma limitação em nossas vidas, já que podemos nos acomodar e nos resignarmos àquilo que podemos mudar e com o que não estamos satisfeitos.
Você é conformista? Com frequência costumamos confundir o “Como sou” com “Como me comporto”. Isto é, que eu me conforme com frequência não quer dizer que o seja, simplesmente é uma atitude que escolho com frequência, mas não significa que seja conformista. Contudo, se essa é a minha atitude mais frequente, convém observar como me sinto quando ajo assim.
Em algumas ocasiões, nos sentimos bem, já que, escolhemos “nos conformar”, aceitando e desfrutando da realidade. É o momento de se adaptar e se acomodar ao momento presente. No entanto, em outras ocasiões, essa atitude nos faz sofrer, ao renunciar aos nossos próprios interesses, ao nos bloquear, limitar-nos e paralisar-nos no caminho que queríamos percorrer.
Eu decido…
Seria conveniente entender o que nos leva, com frequência, ao conformismo, e descobrir se é medo, relaxamento, covardia, anulação de conflitos ou resignação, pois somente descobrindo poderemos superá-lo. Os sentimentos que carrega e as circunstâncias que o rodeiam definem a sua natureza: uma ajuda ou um veneno. Uma ajuda para José e um veneno para João.
Quando superamos os medos ou a resignação, e admitimos a possibilidade de ter algo melhor do que temos, já não haverá motivo para o conformismo daninho. Então, será momento de refletir, e dizer se vale a pena seguir em frente, “sem conformar-se”, buscando mais caminhos, mais opções, mais oportunidades… Já que nada nos limita.
E somente quando eu decidir e me sentir bem com isso, “me conformarei”, porque isso me permitirá desfrutar e aceitar a realidade, adaptando-me melhor à vida em todas as etapas.
Foto cortesia de Anton Zabielskyi


