Viver sem vontade!“O contrário do amor não é ódio, e sim a apatia”.

03/10/2020 19:30

 

A tristeza, a apatia e a falta de vontade são sintomas de que alguma coisa não vai bem. No entanto, muitas pessoas carregam esse sentimento consigo, sem intervir, sem se comunicar e sem pedir ajuda. Por que elas escondem a forma como se sentem? O que podemos fazer quando somos nós que estamos nessa situação?

 

Viver sem vontade é o reflexo global da apatia e da desmotivação em relação ao que esperamos do presente e do futuro. Acordar todos os dias nesse estado pode se tornar um suplício. Uma montanha a escalar que se torna realmente íngreme por causa da inércia que governa nosso estado mental.

Não devemos nos esquecer de que, para as pessoas que vivem sem vontade, levantar da cama todos os dias implica dedicar tempo a determinadas tarefas com a sensação de não ter forças para realizá-las.

De certo modo, elas precisam fazer um esforço extra, requerido pelo fardo que carregam, para alcançar objetivos pouco custosos (tomar café da manhã, trocar de roupa, tomar banho…). A apatia é tão elevada que, para elas, é extremamente difícil tomar a iniciativa.

“O contrário do amor não é ódio, e sim a apatia”.
-Leo Buscaglia-

Mulher desanimada em sua cama

 

Viver sem vontade em silêncio

Por vezes, a apatia passa despercebida porque a pessoa supre a carência de motivação com esforço. Assim, quem convive com uma pessoa que vive em uma espiral de falta de vontade pode não perceber a dor que ela pode estar sentindo.

Vamos pensar: como conseguir perceber que aquela pessoa está sentindo uma constante apatia se ela se comporta como sempre? Esse é um ponto relevante.

Muitas vezes, não damos a importância devida ao estado emocional do outro pela ausência de sintomas externos relevantes. A pessoa continua desempenhando seu trabalho, suas obrigações familiares, comparecendo às reuniões sociais…, inclusive, em seu rosto podemos encontrar sorrisos.

No entanto, internamente não existe esperança.

“A tristeza também é um tipo de defesa”.
-Ivo Andric-

Diante da apatia, evite os clichês

Quando alguém que está nesse estado nos conta como se sente, tendemos a responder com as típicas frases: “isso não é nada”, “você vai ver como vai passar”, “isso acontece com todo mundo”, “fique feliz”, “não dê tanta importância a isso”.

Precisamos destacar que, embora a intenção seja ajudar, para uma pessoa que vive sem vontade, as típicas frases motivadoras podem não ser reconfortantes. Pelo contrário, a sensação de não ser entendida pode fazer com que ela corte os canais de comunicação e se feche.

Então, o que podemos fazer se uma pessoa nos contar que se sente apática? Bem, essa pessoa pode estar precisando do seu apoio e da sua escuta ativasentir que você a entende, que compreende o que ela está passando, e que você vai estar ao lado dela.

É provável que seja reconfortante para ela poder expressar o que significa viver sem vontade, e explicar como é ter que fazer um esforço constante para realizar cada tarefa.

“O desânimo é a pedra em que inevitavelmente você tem que pisar para atravessar o rio. Pode ser que você caia, mas sempre poderá se levantar ou nadar para terminar de atravessá-lo”.
-Anônimo-

Homem abraçando mulher sem motivação

 

Além da apatia

Viver sem vontade, com apatia, pode ter um componente fisiológico, assim como afirmado por um grupo de pesquisaA desmotivação e a apatia estão associadas a circuitos cerebrais muito específicos que, em certos momentos, podem evidenciar determinadas anomalias em seu funcionamento.

Vamos pensar que, por trás da falta de vontade, é possível que existam condicionantes que vão além das circunstâncias externas.

A apatia poderia esconder certas patologias e problemas psicológicos subjacentes, tais como a depressão maior ou a distimia. Por isso, um dos primeiros passos para superar esse estado é descartar problemas médicos (fatores causais hormonais ou orgânicos) e/ou psicológicos.

Deixando de lado a origem da apatia, é importante procurar apoio. Podemos fazer isso tanto no nosso entorno mais próximo quanto no campo de profissionais especializados, pois o sofrimento às vezes fica maior do que nós mesmos, de forma que precisamos de ajuda externa para superá-lo.

As sombras que habitam por trás da desmotivação e da fadiga

Para superar a preguiça e a apatia, não necessários mais do que conselhos. Quando esses estados não são pontuais no tempo, mas se tornam crônicos, a pessoa (e seu ambiente) devem estar cientes de que uma mudança é necessária. Para isso, é uma prioridade ter um diagnóstico preciso que nos permita começar a fazer pequenas inovações em nossa rotina e em nossa abordagem pessoal para sair desse poço antes mencionado.

Algo que sem dúvida temos que deixar de lado nessas situações são os termos pejorativos. Muitos pacientes que sofrem de preguiça e apatia não são “preguiçosos” por vontade própria. Devemos evitar categorizar a inatividade e a falta de interesse como fraqueza de personalidade, porque não é nem útil nem preciso. Vejamos, portanto, o que realmente existe por trás de muitos desses estados.

Fatores que determinam a aparição da preguiça e da apatia

  • Falta de senso de autoeficácia. Muitas vezes, e por diversas circunstâncias, a pessoa deixa de confiar em sua eficiência para alcançar as coisas, para ter sucesso, para se sentir útil em suas responsabilidades diárias. Algo assim é devastador.
  • Falta de apoio emocional. Quando nosso ambiente não está emocionalmente disponível ou quando o que nos cerca é a frieza ou o desinteresse, esses estados de apatia e desmotivação podem surgir.
  • O medo, medo do fracasso, medo de tentar e repetir os mesmos erros de antes. Medo de sair da nossa zona de conforto, ansiedade pelas mudanças de hábitos, inquietação pelas coisas novas e desconhecidas… Todos esses fatores minam nossos desejos e coragem.
Homem chateado diante de janela

Por outro lado, e não menos importante, devemos levar em conta os fatores orgânicos e/ou neurológicos. Condições como a fibromialgia, o hipotireoidismo ou mesmo a doença de Alzheimer medeiam essa sensação permanente de falta de energia, apatia e desmotivação. Da mesma forma, não podemos esquecer que nos transtornos depressivos é comum que a preguiça e a falta de interesse se manifestem.

Como superar a preguiça e a apatia

Para superar a preguiça e a apatia, precisamos de apoio. Apoio especializado e também das pessoas ao nosso redor. Da mesma forma, é necessário que percebamos a partir delas um sentido autêntico de compreensão, e não de censura. Porque a falta de desejo, entusiasmo e motivação afundam mais se o que recebemos são críticas ou desprezo…

Para entender melhor como superar esse estado, precisamos nos lembrar de um detalhe. Muitas vezes, acreditamos que para criar um estado emocional, para melhorar a motivação, basta “mudar” o pensamento. Agora, a famosa regra de “pensar bem para viver melhor” nem sempre é 100% cumprida. Não se não estamos bem, não se há um cérebro com falta de serotonina ou se há um corpo doente.

Foi William James quem nos disse, em primeiro lugar, que o pensamento nem sempre precede a ação. Quando falamos de motivação, “ação e sentimento” sempre andam de mãos dadas.

O cérebro, a mente e o nosso corpo devem estar em plena harmonia para encontrar esse impulso, essa energia interna com a qual recuperar o ânimo. Vamos refletir agora sobre as seguintes dimensões, aquelas que podem nos permitir superar a preguiça e a apatia.

Mulher observando o sol

Chaves para superar a falta de motivação e a apatia

  • A primeira coisa que faremos é descartar problemas médicos.
  • Descartados os fatores hormonais ou outros problemas orgânicos, devemos entender o que está subjacente ao nosso humor.
  • Em seguida, vamos estabelecer um período de transição. Nele faremos apenas uma coisa: resolveremos problemas. Vamos pensar em maneiras de lidar com essa insatisfação, esse medo, essa decepção… Vamos estabelecer um processo de desapego diante de tudo que nos imobiliza.
  • Mudanças graduais. Vamos começar introduzindo pequenas mudanças em nossas rotinas. Por exemplo, podemos mudar nossa dieta ou estabelecer novos horários. Mais tarde, e à medida que assumirmos essas pequenas variações, será hora de iniciar mudanças maiores. Aquelas que devem nos trazer bem-estar, aquelas que se encaixam em nossas expectativas de vida.
  • Direcionar o olhar para objetivos específicos. Para as coisas que podemos conseguir no dia a dia e que nos satisfazem.
  • Desafiar a apatia. Uma vez que incorporamos novas rotinas e conquistamos metas diárias, precisamos aprender a desafiar esse estado incapacitante. Quando notarmos que esse sentimento aparece, vamos procurar uma alternativa. Por exemplo, podemos pensar em algo novo e motivador para fazê-la desaparecer.

 

Superar a preguiça e a apatia não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível. No entanto, não podemos esquecer que essas sombras são muito reincidentes e geralmente nos visitam com frequência. Quando isso acontecer, devemos estar preparados, prontos para desativá-las, para ventilar nossos cômodos emocionais com brisas frescas e novos projetos.

“Se você não aprendeu com a tristeza, não conseguirá apreciar a felicidade”.
-Nana Mouskouri-