Viciada em compras
01/02/2014 22:01
Entrevista cedida por Tatiana Berta, Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva pela Universidade de São Paulo (USP). Matéria sobre Consumo Consciente para a revista CIÊNCIAS SOCIAIS, da Editora Alto Astral, Seção "Ação Social" - Paula Ignácio, jornalista.
1) Porque as pessoas não se contentam por muito tempo com os produtos que consomem?
As pessoas, de maneira geral, encontram dificuldades em lidar com as frustrações, ou seja: com a necessidade de encarar o espaço existente entre algo idealizado e o que aquilo que é, de fato, possível de ser realizado. Muitas vezes, dificuldades do cotidiano como a perda ou falta de algo real ou imaginário do qual acreditam necessitar, podem levar indivíduos mais desgastados ou com baixa tolerância à frustração, a desenvolverem comportamentos alternativos e nem sempre adaptados, com a função de reparar essa perda, dentre os quais podemos citar o consumo excessivo de bens ou produtos ou até mesmo o gosto pelos jogos ou a dependência de um relacionamento. Comprar excessivamente pode ser um evento, interpretado por nosso cérebro como algo que traz um alívio momentâneo, possível e fácil de ser adquirido: uma espécie de “recompensa”, que ativa justamente as áreas responsáveis pelas sensações de bem-estar em nosso complexo sistema de funcionamento. No entanto, tal atitude pode tornar-se freqüente e desproporcional, tornando-se um sinal de dependência, trazendo prejuízo e sofrimento por comprometer outros aspectos, como relacionamentos e orçamento familiar, por exemplo.
2) Porque consomem tanto – principais motivos que estão por trás dos hábitos excessivos de consumo?
Um dos motivos que leva ao consumismo exagerado é a exposição constante e inevitável às estratégias do comércio, que acaba por determinar o que seria importante ou conveniente para a pessoa. Quanto mais fragilizada a autoestima, mais facilidade o indivíduo terá de ceder às tentações do consumo, uma vez que, normalmente, possui regras de que é impossível viver sem a aprovação social. Quem é que nunca se sentiu tentado a comprar tal celular ou usar tal grife para ser visto como alguém que “está na moda” ou “dentro de determinada categoria”? O problema, no entanto, não é ceder ao desejo eventual de comprar, mas fazer disso uma necessidade real, o que acaba por afetar a forma como as pessoas se colocam no cotidiano e a comprometer seu autoconceito, quando não é possível adquirir o que se colocou como obrigação. Isso sem contar os problemas práticos, como ver a casa abarrotada de coisas que não tem uma real utilidade e a conta bancária comprometida.
3) Os estímulos da mídia levam ao consumo para aceitação social. Já teve muitos pacientes com esse tipo de questionamento? Eles se sentiam fora de grupos por não possuírem determinados padrões de consumo?
É comum vermos no consultório pessoas que sofrem por não se sentirem parte integrante de um grupo determinado, ao qual gostariam de pertencer. Muitos pacientes chegam a fazer dívidas para comprar objetos ou bens materiais que não seriam realmente necessários, por alimentarem a “crença” de que se tornariam mais felizes após adquiri-los. Como conseqüência, além de terem que encarar o fato de que a felicidade não veio como conseqüência do gasto, ainda precisam, muitas vezes, arcar com os custos desproporcionais ao orçamento próprio. Normalmente, essa necessidade instalada de consumo está relacionada a um padrão de pensamentos disfuncionais e rotineiros, que determina a necessidade de não frustrar o outro, uma vez que desagradá-lo poderia acarretar o risco de ser excluído. É um padrão de comportamento, de forma geral, próprio de pessoas com a autoestima fragilizada e que passaram por experiências, no decorrer de seu desenvolvimento, que não favoreceram o treino necessário para que se colocassem de uma forma assertiva no mundo. Quanto maior a expectativa de ser aceito socialmente, mais elevado se torna o padrão de auto-exigência, o que acarreta, inevitavelmente, em mais sofrimento e mais perdas, pois no que se refere a relacionamentos e aceitação social, não é possível ter o controle sobre o curso dos acontecimentos, uma vez que ser aceito não depende exclusivamente da ação individual ou vontade própria, mas de uma série de variáveis, dentre as quais também da vontade do outro, que é parte da relação.
4) O trecho abaixo é um dos parágrafos que escrevi para a matéria sobre Consumo Consciente. Poderia comentar um pouco esse texto, apenas para acrescentar o modo de pensar de uma especialista?
“CONSUMO DE BENS PARA MOSTRAR E NÃO PARA DESFRUTAR. As pessoas se preocupam em ter as coisas, mas não se preocupam em serem elas mesmas. É muito bom quando podemos nos mostrar aos outros como somos, sem medo. O consumo traz a falsa sensação de segurança e tranquilidade que muitas pessoas buscam quando se vestem com determinadas roupas ou mostram que possuem determinadas coisas. Precisamos parar de acreditar nas fantasias que os informes publicitários nos impõem.”
O consumo excessivo faz parte de um padrão disfuncional de comportamentos por acarretar prejuízos tanto no aspecto individual como nas relações. No entanto, pelo imediatismo imposto em nosso cotidiano, termina-se por aprender que é possível que sejam supridas, ainda que momentaneamente e de forma disfuncional, algumas lacunas reais ou imaginárias provocadas pela falta do que foi interpretado como necessidade. Muitas vezes, pode parecer bem mais fácil e confortável, aceitar um parcelamento interminável no cartão de crédito, a fim de que seja adquirida a bolsa mais cara e desejada, do que realmente olhar para si próprio, a fim de começar a entender quais são as reais necessidades para que se tenha mais segurança nas relações e, consequentemente, na vida. Cuidar-se implica em observar o que precisa ser mudado e, para isso, dispender a energia necessária na modificação dos comportamentos que não estão trazendo resultado e que geram desgaste. Muitas vezes, é mais fácil permanecer na zona de conforto, ainda que esta não traga felicidade. O ser humano tornou-se imediatista, buscando resultados mais fáceis e com isso acaba, muitas vezes, criando armadilhas como ceder ao alívio momentâneo proporcionado por algumas atitudes que, embora pareçam a solução dos problemas, tornam-se grandes vilões, trazendo dependência e sofrimento. Após a maratona de compras, instalam-se as culpas, o medo e a necessidade real de reparar um dano que poderia ser evitado, caso houvesse o treino de colocar o autocuidado como prioridade nas relações. Uma autoestima fragilizada se mostra em comportamentos inseguros, que levam a padrões inseguros de relacionamento e à possibilidade de frustração.
Tatiana Berta
Psicóloga Comportamental e CognitivViciada em compras
1) Porque as pessoas não se contentam por muito tempo com os produtos que consomem?
Psicóloga: As pessoas estão cada vez mais focadas no prazer imediato. Ao adquirir um produto em uma loja temos a sensação de plenitude, a sensação de que agora seremos “felizes” pois temos o objeto que nos completará. Esta sensação maravilhosa é intensificada com o embrulho no qual este objeto nos é entregue, a beleza da loja, a atenção dos vendedores, tudo isso nos dá a sensação de que acabamos de comprar a felicidade. Mas ao chegar em casa, ao usar por algum tempo este objeto, a realidade nos é apresentada e percebemos que se trata de apenas mais um objeto. Neste momento volta a necessidade de sentir novamente aquela plenitude da compra anterior e nos dirigimos a mais uma compra sem necessidade.
2) Porque consomem tanto – principais motivos que estão por trás dos hábitos excessivos de consumo?
Psicóloga: Carência e ansiedade. As pessoas que não aprenderam a desfrutar a vida em sua forma mais simples e honesta acaba se entregando ao consumismo como forma de satisfazer necessidades maiores. Chega até a ser um pouco de preguiça, pois se a pessoa percebe que o que falta em sua vida são relacionamentos significativos ela também perceberá que trabalhar para atingir esta meta será muito mais trabalhosa do que ir rápida e simplesmente a uma loja e comprar satisfação. Sim, ela tem razão, dá muito mais trabalho desenvolver relacionamentos saudáveis, mas ela não percebe que será muito mais gratificante e com resultados a longuíssimos prazos.
3) Os estímulos da mídia levam ao consumo para aceitação social. Já teve muitos pacientes com esse tipo de questionamento? Eles se sentiam fora de grupos por não possuírem determinados padrões de consumo?
Psicóloga: Claro, e cada grupo tem sua lista de itens que “devem” se adquiridos sob pena de exclusão social. As mulheres precisam não só de certas grifes, sejam ela de roupas, maquiagem ou produtos para casa como também de frequentar, por exemplo, salão de cabeleireiros que apresentem glamour. De nada adianta chegar com um corte de cabelo maravilhoso se ele foi feito no salãozinho de bairro. Os homens tem seus itens clássicos como carros e eletrônicos. O interessante é que a finalidade nem sempre é de impressionar o sexo oposto, mas se apenas se sentirem admirados e portanto incluídos em seu próprio grupo.
Este sentimento não é claramente expresso, ou seja, as pessoas não dizem “não vou sair com fulana porque ela usa maquiagem barata”, mas dizem “sinto que não temos nada em comum, temos valores diferentes”. Esta é uma forma de racionalizar e não admitir que a futilidade impera.
4) O trecho abaixo é um dos parágrafos que escrevi para a matéria sobre Consumo Consciente. Poderia comentar um pouco esse texto, apenas para acrescentar o modo de pensar de uma especialista?
“CONSUMO DE BENS PARA MOSTRAR E NÃO PARA DESFRUTAR. As pessoas se preocupam em ter as coisas, mas não se preocupam em serem elas mesmas. É muito bom quando podemos nos mostrar aos outros como somos, sem medo. O consumo traz a falsa sensação de segurança e tranquilidade que muitas pessoas buscam quando se vestem com determinadas roupas ou mostram que possuem determinadas coisas. Precisamos parar de acreditar nas fantasias que os informes publicitários nos impõem.”
Psicóloga: O que seria da propaganda se não vendessem um monte de ilusões junto com seus produtos. Nenhuma publicidade apresenta o produto em si, mas tenta te convencer que você será mais bacana, mais desejado, mais admirado se comprar aquele produto. Meus deus!!!! Falamos de uma simples margarina mas acreditamos que nossa família será mais unida e feliz se comermos aquela gordura desnecessária!!!. É claro que todos querem uma família feliz e unida, e se conseguiremos isso apenas comprando a margarina X pra que chamar as pessoas desta família para um bate papo que realmente trará a união? Convidar a família para uma atividade juntos pode trazer muita frustração, as pessoas podem não responder tão bem, talvez tenha que fazer outras tentativas, talvez tenha que mudar de atividades ou estratégias. Quanto trabalho! Acho que vou comprar margarina – mesmo que a fantasia de família feliz se desfaça no minuto seguinte.
O que as pessoas precisam saber é que a vida pode ser muito divertida sem comprar tudo que for supérfluo. A sensação de realização é muito maior quando nos construímos internamente e olhamos para dentro de nós mesmos e percebemos que erramos, acertamos, mas acima de tudo desfrutamos as verdadeiras conquistas.
1) Porque as pessoas não se contentam por muito tempo com os produtos que consomem?
Psicóloga: As pessoas estão cada vez mais focadas no prazer imediato. Ao adquirir um produto em uma loja temos a sensação de plenitude, a sensação de que agora seremos “felizes” pois temos o objeto que nos completará. Esta sensação maravilhosa é intensificada com o embrulho no qual este objeto nos é entregue, a beleza da loja, a atenção dos vendedores, tudo isso nos dá a sensação de que acabamos de comprar a felicidade. Mas ao chegar em casa, ao usar por algum tempo este objeto, a realidade nos é apresentada e percebemos que se trata de apenas mais um objeto. Neste momento volta a necessidade de sentir novamente aquela plenitude da compra anterior e nos dirigimos a mais uma compra sem necessidade.
2) Porque consomem tanto – principais motivos que estão por trás dos hábitos excessivos de consumo?
Psicóloga: Carência e ansiedade. As pessoas que não aprenderam a desfrutar a vida em sua forma mais simples e honesta acaba se entregando ao consumismo como forma de satisfazer necessidades maiores. Chega até a ser um pouco de preguiça, pois se a pessoa percebe que o que falta em sua vida são relacionamentos significativos ela também perceberá que trabalhar para atingir esta meta será muito mais trabalhosa do que ir rápida e simplesmente a uma loja e comprar satisfação. Sim, ela tem razão, dá muito mais trabalho desenvolver relacionamentos saudáveis, mas ela não percebe que será muito mais gratificante e com resultados a longuíssimos prazos.
3) Os estímulos da mídia levam ao consumo para aceitação social. Já teve muitos pacientes com esse tipo de questionamento? Eles se sentiam fora de grupos por não possuírem determinados padrões de consumo?
Psicóloga: Claro, e cada grupo tem sua lista de itens que “devem” se adquiridos sob pena de exclusão social. As mulheres precisam não só de certas grifes, sejam ela de roupas, maquiagem ou produtos para casa como também de frequentar, por exemplo, salão de cabeleireiros que apresentem glamour. De nada adianta chegar com um corte de cabelo maravilhoso se ele foi feito no salãozinho de bairro. Os homens tem seus itens clássicos como carros e eletrônicos. O interessante é que a finalidade nem sempre é de impressionar o sexo oposto, mas se apenas se sentirem admirados e portanto incluídos em seu próprio grupo.
Este sentimento não é claramente expresso, ou seja, as pessoas não dizem “não vou sair com fulana porque ela usa maquiagem barata”, mas dizem “sinto que não temos nada em comum, temos valores diferentes”. Esta é uma forma de racionalizar e não admitir que a futilidade impera.
4) Comente o texto abaixo sobre consumo consciente:
“CONSUMO DE BENS PARA MOSTRAR E NÃO PARA DESFRUTAR. As pessoas se preocupam em ter as coisas, mas não se preocupam em serem elas mesmas. É muito bom quando podemos nos mostrar aos outros como somos, sem medo. O consumo traz a falsa sensação de segurança e tranquilidade que muitas pessoas buscam quando se vestem com determinadas roupas ou mostram que possuem determinadas coisas. Precisamos parar de acreditar nas fantasias que os informes publicitários nos impõem.”
Psicóloga: O que seria da propaganda se não vendessem um monte de ilusões junto com seus produtos. Nenhuma publicidade apresenta o produto em si, mas tenta te convencer que você será mais bacana, mais desejado, mais admirado se comprar aquele produto. Meus deus!!!! Falamos de uma simples margarina mas acreditamos que nossa família será mais unida e feliz se comermos aquela gordura desnecessária!!!. É claro que todos querem uma família feliz e unida, e se conseguiremos isso apenas comprando a margarina X pra que chamar as pessoas desta família para um bate papo que realmente trará a união? Convidar a família para uma atividade juntos pode trazer muita frustração, as pessoas podem não responder tão bem, talvez tenha que fazer outras tentativas, talvez tenha que mudar de atividades ou estratégias. Quanto trabalho! Acho que vou comprar margarina – mesmo que a fantasia de família feliz se desfaça no minuto seguinte.
O que as pessoas precisam saber é que a vida pode ser muito divertida sem comprar tudo que for supérfluo. A sensação de realização é muito maior quando nos construímos internamente e olhamos para dentro de nós mesmos e percebemos que erramos, acertamos, mas acima de tudo desfrutamos as verdadeiras conquistas.
A compulsão em compras é mais comum nas mulheres? Se sim, qual o motivo?
Psicóloga: Sim, é mais comum nas mulheres. Há dois componentes que promovem esta característica:
1- As mulheres elaboram mais seus pensamentos, chegam a ruminar muito um mesmo assunto por dias. Este pensamento repetitivo se transforma em comportamento repetitivo na forma de compulsões.
2- A pessoa ansiosa procura meios de diminuir esta angustia. A própria vida já mostrou que fazer compras é uma atividade muito prazerosa. Toda atividade prazerosa é tida como antidoto para os momentos ruins da vida. Consequência: Fazer compras (assim como comer chocolate, etc) é uma atividade que se torna repetitiva na busca de amenizar ansiedades e angustias da vida.
- Como saber qual é a hora de começar a se preocupar com a compulsão?
Psicóloga: O critério para identificar a patologia é perceber se há prejuízo em alguma área da vida, seja ela financeira, pessoal, social, etc. Por exemplo, está comprando coisas que não pode pagar ou que não terão a menor utilidade? Está deixando de fazer outras atividades saudáveis para fazer compras? Seu armário tem mais coisas do que seria possível armazenar?
- Como é feito do tratamento em casos mais graves?
Psicóloga: A terapia cognitiva comportamental é a indicada para estes casos. Esta linha de psicoterapia irá ajudar a pessoa a identificar qual a real necessidade desta pessoa e a acompanhará na satisfação desta necessidade inicial que foi substituída pelas compras, irá ajuda-la a identificar os pensamentos repetitivos e disfuncionais que a levam as compras e introduzirá novas formas de pensar através da reestruturação cognitiva.
- Quais são as principais consequências para quem sofre com o problema?
Psicóloga: Prejuízo financeiro em primeiro lugar, mas também o circulo vicioso de precisar de novas compras para amenizar a ansiedade causada pelas compras desnecessárias anteriores.
- Qual a importância de tratar um assunto como este dentro de uma novela?
Psicóloga: Muito importante devido ao apelo popular das novelas. Usar este meio para informar a população é algo admirável e deve ser copiado por todas as mídias. A novela coloca em discussão e trata com seriedade um assunto que poderia, até então, estar elegado ao descaso. Muitos transtornos de comportamento são considerados apenas desvios de caráter, como por exemplo o pânico, que já foi considerado “frescura” ou “piripaque” depois que alguns artistas, como o cantor Lobão por exemplo, passaram a flar abertamente sobre suas dificuldades as pessoas começaram a respeitarem mais esta doença e a tratata-la com psicoterapias, que são eficientes, e passaram a ter uma vida muito mais digna.
Outro exemplo é o Cantor Roberto Carlos , antes considerado “exentrico” pelas manias como por exemplo de não usar e nem permitir que usem roupas da cor marrom , agora pe visto como portador de TOC, que não é nada engraçado e sim muito sofrido mas com boas chances de cura com o tratamento da Terapia Cognitiva comportamental.
Há até pouco tempo atrás não havia diagnóstico para quem tivesse sintomas compulsivos, principalmente quando a compulsão estava dirigida ao ato de comprar.
Considerava-se esta pessoa “irresponsável”, sem compreender todo seu sofrimento interno.
O cérebro do compulsivo é viciado. Toda compulsão oferece, num primeiro momento, um prazer extremo, a sensação de ser recompensado é intensa ao adquirir aquele sapato maravilhoso, aquela bolsa esplendorosa. Mas não é de se estranhar que em pouco tempo todo o maravilhamento da compra se esvai. O tal sapato já não trás mais satisfação alguma, e como o cérebro desta pessoa já “aprendeu” a se satisfazer a traves de compras, a pessoa é impulsionada a repetir o ato de compra. E repete, repete até o cartão de crédito estourar, os empréstimos se acumularem, a família se indispor por completo.
Algumas pessoas tem uma fragilidade maior para adquirir vícios. Alguns autores defendem a tese de haver personalidades com esta tendência. Mas de toda forma o que há em comum com todas as pessoas compulsivas é a necessidade em suprir carências internas.
O ato da compra dá uma sensação de plenitude, uma sensação de que agora tudo será perfeito, com a aquisição deste produto nada mais faltará e tudo será perfeito, mas a realidade aparece em pouco tempo.
O caminho para superação é difícil, mas não impossível. A terapia envolve tanto a compreensão racional de seus atos, a busca de soluções práticas quanto a formas de pagar as dívidas, como o entendimento das emoções básicas não atendidas que resultaram em compulsão.
Muitas vezes há fortes eventos na história de vida deste compulsivo que colaboraram na instalação do sintoma, mas muitas vezes os eventos não são tão óbvios assim. Informações disfuncionais absorvidas ao longo da vida em doses imperceptíveis, podem ter fortes influencias.
Entrevista cedida ao portal Terra - repórter Alessandra Monteiro. Segue matéria completa:
CONSUMO DESENFREADO PODE SER DISTÚRBIO PSICOLÓGICO
Com a chegada das férias, do Natal e do ano-novo, o movimento nos shoppings, lojas, e comércio em geral aumenta, já que a vontade de presentear familiares, amigos, e a si mesma ganham grandes proporções. O problema é quando as compras saudáveis de fim de ano se tornam algo mais sério, como a compulsão consumista.
A obsessão por consumir, de acordo com a psicóloga comportamental Marisa de Abreu, é identificada quando ocorrem prejuízos de qualquer natureza: pessoal, social ou financeira. “Identificamos o consumo descontrolado ou comportamento obsessivo quando a pessoa percebe que está adquirindo itens que nunca irá usar, que não cabem em seu armário ou pelos quais ela não pode pagar”, diz Marisa.
As diferenças entre quem gosta de gastar e de quem é consumista compulsiva são muito sutis. Por isso, para o correto diagnóstico o que conta mesmo é a quantidade das compras e a intensidade com que se recorre a elas para obter a sensação de prazer e bem-estar. “Em geral, o compulsivo tem carências afetivas e o consumo se torna uma forma de dar vazão a essas necessidades”, diz a psicóloga.
Dicas para gastar menos
Para não cair na tentação de gastar muito e viver bem com menos, Marisa explica que é preciso ter consciência de que é muito mais gostoso gastar apenas o que se pode em um dia e viver os outros 364 em paz com a sua conta bancária, do que gastar o que não se pode e passar o resto do ano sofrendo por ter feito uma compra desnecessária. “O bacana é intensificar a sensação de prazer feita em cada compra”, aconselha.
Uma das dicas antes de sair de casa é fazer uma lista do que irá se comprar e, ao lado, escrever qual será o orçamento destinado às compras. “Estude esse orçamento, mantenha firme sua proposta e, quando estiver comprando, não olhe para o que não está na lista”, indica a psicóloga.
Já em casos mais graves, o tratamento psicológico indicado para o distúrbio é a terapia cognitiva comportamental, que treina os padrões de pensamentos e sensações que levam à compulsão. Eles são analisados e substituídos por outros pensamentos funcionais. O psicólogo, dessa maneira, desenvolve tarefas nas quais o comportamento compulsivo é enfraquecido por meio de enfrentamentos nunca antes vividos pelo paciente.
Mulheres gastam mais?
Segundo a psicóloga, em geral, as mulheres são mais consumistas do que os homens por serem mais sensíveis e emocionais. “Por mais que os homens sejam os “caçadores e provedores” da família, elas administram o quanto de suprimentos é necessário para o consumo”, compara.
Além disso, ela observa que tanto homens quanto mulheres gastam mais do que podem como forma de serem aceitos pelos outros e por si mesmos, carência que pode e deve ser superada. “É importante lembrar que o seu valor como pessoa não está relacionado ao valor de suas aquisições”, finaliza a psicóloga.
Entrevista cedida pela psicóloga Marisa de Abreu para revista Nova
Compulsão por comprar
• Por que o ato de comprar pode se tornar uma compulsão?
Psicóloga: Porque dá prazer. Tudo o que é prazeroso pode se tornar ato compulsivo caso a pessoa seja muito ansiosa e não consiga outra forma de aplacar esta ansiedade. O prazer advindo do ato da compra é uma forma, ineficiente, de trazer paz interior.
• Qual é o perfil dessas pessoas compulsivas?
Psicóloga: São pessoas extremamente ansiosas e com poucos recursos internos (psicologicamente instáveis) para administrar esta ansiedade. A depressão costuma surgir como consequência da compulsão e não como causa. A característica “nervosa” não costuma ter relação direta com o compulsivo, mas pode haver comorbidade, ou seja dois problemas não relacionados que ocorrem juntos.
• A compra é uma válvula de escape ou atua como uma questão de status?
Psicóloga: É sempre uma válvula de escape. Caso a mulher tenha em sua vivencia aprendido que status é algo que deva ser buscado sempre ela terá mais facilidade para ter o comportamento compulsivo de comprar , ou seja uma pessoa que também seja muito ansiosa mas não aprendeu em seu meio cultural a dar importância ao status terá outros comportamentos compulsivos – não será compulsiva por compras, talvez seja compulsiva por limpeza por exemplo.
• Este tipo de problema é maior entre as mulheres?
Psicóloga: Sim, devido a uma característica cultural as mulheres se entregam mais as compras como forma de suprir necessidades internas. Nossa cultura nos ensina que o homem é quem produz, mas quem providencia o atendimento a família é a mulher e nesta função está incluída o ato de providenciar suprimentos, ou realizar compras.
• Como detectar que uma compra que deveria significar um capricho ou mimo se tornou doença?
Psicóloga: Quando a mulher compra muito mais do que seria possível usar ou pagar, isto é quando a compra deixa de ser decidida racionalmente e passa a ser descontrolada.
• De que forma essa compulsão interfere na vida social da mulher?
Psicóloga: Ela pode até pensar que está “fazendo bonito” aparecendo sempre com coisas novas, mas a culpa sempre existe e este sentimento incomoda e deturpa o relacionamento com as outras pessoas pois a pessoa passa a usar desculpas esfarrapadas para justificar as compras “estava em liquidação”, “eu precisava”, “as milhas que vou ganhar no cartão de credito compensa fazer esta compra”.
• Como lidar com os problemas financeiros que a compulsão por compras acarreta?
Psicóloga: Não há como lidar com os problemas financeiros sem eliminar a compulsão, por mais que a pessoa parcele ou faça empréstimos não vai adintar nada pois as compras continuarão. O ideal e cessar as compras imediatamente.
• De que forma prática é possível reverter este quadro?
Psicóloga: Não adianta cortar o cartão de credito que não for resolvido as questões internas que impulsionam as compras. Esta pessoa deve resolver seus conflitos e carências internas. A psicoterapia na abordagem TCC - Terapia Cognitiva Comportamental - apresenta resultados excelentes.
• Como aceitar e amar a vida que se tem sem se prejudicar financeiramente?
Psicóloga: Reconhecendo que o prazer pode vir ao conquistar uma vida equilibrada com muita felicidade interna, aquela que não se compra na loja e se gasta com o tempo.
• Como lidar com a vontade de ter sempre mais?
Psicóloga: identificando de onde vem e de que seria esta vontade – seria uma vontade de ser aceita? . Pode ser que esta pessoa tenha sido muito negligenciada em sua vida e usa as compras para compensar, pode ser que ela tenha dificuldade em fazer amigos a acreditou erroneamente, que se tiver muitos bens seria bem quista socialmente.
• É possível substituir caprichos caros por opções mais baratas e satisfazer suas vontades dentro do orçamento que se tem?
Psicóloga: Sim, mas isto só acontecerá quando houver a tão desejada mudança interna, já vi muitos casos onde a compulsiva tentava esta troca por produtos mais baratos e acabava comprado tudo duas vezes, o mais barato e depois a mesma coisa em verão luxuosa.
É considerado ato compulsivo quando:
- O pensamento compulsivo aparece na mente de forma intrusiva – ou seja, mesmo que a pessoa não queira pensar este pensamento invade sua mente.
- A pessoa tenta neutralizar o pensamento mas não consegue
- Ela se entrega ao ato compulsivo para obter alivio, mas este alivio tem curta duração e logo ela precisa se entregar ao ato novamente
- Há alguma fantasia quanto a algum mal que estaria evitando caso se entregue ao ato compulsivo (evitaria que algo ruim aconteça cada vez que repetir o ato compulsivo)
- O ato compulsivo (ex : comprar) causa sofrimento, arrependimento, etc, mas ainda assim a pessoa se sente compelida a repetir.
Quem tem o pé no chão está no meio do caminho – em equilíbrio.
A meu ver as três categorias de compradoras são:
- mulheres que não compram nem o que precisam,
- as que tem os pés no chão e
- as que compram mais do que precisam.
Todo exagero é disfuncional , se alguém se priva de algumas coisas, passa vontade e não se dá o direito nem de um simples mimo, mesmo que esta compra não abale seu orçamento, também está fora de equilíbrio.
Quem está sempre poupando mesmo depois de suas metas financeiras serem atingidas tem sim o direito de desfrutar e gastar um pouco com pequenos ou até grandes luxos conforme a possibilidade de cada um.
A que está no meio do caminho, comete alguns deslizes mas consegue se reequilibrar – só podemos dizer que ela é um ser humano mais que normal, ou seja, não tem a rigidez da perfeição , o mais importante
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