VALORES, CRENÇAS, ATITUDES E COMPORTAMENTOS

13/09/2013 22:14

 
Tudo o que fazemos se expressa através de comportamentos. Comportamentos são as ações que praticamos. É através deles que damos e nos é dado conhecer as demais pessoas.
 
Retomando a figura que postamos no dia 27/03/2013, no textoTrabalhando as Expectativas – parte1, verificamos que a maior parte do que somos não é conhecida pelas demais pessoas através do nosso próprio comportamento.
 
Uma metáfora que é muito usada para representar esta afirmação é a doiceberg. Segundo os especialistas no assunto, o iceberg é um grande bloco de gelo, cuja parte visível (que está acima da superfície da água) representa somente 1/8 de seu volume total. Portanto, 7/8 estão submersos e, à primeira vista, não são percebidos ou identificados por aqueles que o estão observando.
 

No nosso iceberg pessoal fica evidente que aquilo que percebemos das demais pessoas são suas ações – comportamentos, que podem ou não estar revelando suas verdadeiras intenções. Mas, independentemente da intenção que está no outro (e eu não sou capaz de vê-la), é importante ter claro que sou eu que atribuo significado a este comportamento, segundo os meus próprios paradigmas e padrões. Como dizia C.G.Jung – “O mundo não existe meramente em si mesmo, mas da forma como ele se apresenta a mim”. Somos nós que moldamos a realidade. O que vemos é uma versão única colorida por nossas experiências passadas e por nossas expectativas.
 
Mas, antes mesmo de dar significados aos comportamentos das outras pessoas, e este é um processo racional, experimentamos sentimentos que mobilizam nossas emoções involuntárias reagindo com simpatia ou antipatia a suas presenças. Quando o sentimento experimentado é de simpatia, nossas ações imediatas buscam nos aproximar, prestar e dar a devida atenção ao outro, de procurar saber mais sobre as ideias e colocações da outra pessoa, etc. Quando o sentimento experimentado é de antipatia, nossos comportamentos imediatos são de nos afastar ou permanecer quietos, evitando a aproximação, a conversa e troca de significados.
 
Chris Argyres mostrou este fenômeno muito bem na sua ‘escada de inferência’. Como precisamos dar significado aos acontecimentos em nossas vidas, a partir da leitura que fazemos dos comportamentos das pessoas, nós ‘inferimos’ as razões que explicam estes comportamentos. 
 

A escada é uma representação gráfica de nosso processo de raciocínio. Sempre que entramos em um contexto ou em uma experiência, como uma reunião ou uma conversa com outra pessoa, estamos no pé da escada e nos movemos para cima. A velocidade com a qual ascendemos é incrível (é a velocidade do pensamento), não leva mais que um nanosegundo para irmos do pé ao topo. Tudo antes do degrau “empreender ação”, geralmente abaixo do nível da consciência. Coletamos dados, agregamos significados, fazemos suposições, chegamos a conclusões, tomamos decisões e empreendemos ações.
 
Pautamos nosso comportamento muito mais pelo que concluímos a partir de nossos significados do que pela real necessidade das situações concretas que estão presentes no relacionamento com outras pessoas. Os problemas de comunicação e relacionamentos interpessoais presentes no nosso dia a dia que o digam.
 
As consequências previsíveis destas constatações são preocupantes tanto nos aspectos pessoais dos seus relacionamentos quanto nos aspectos profissionais. Neste último, mais ainda, pois na medida em que esteja desempenhando um papel de liderança nas organizações, você tem como uma de suas principais atribuições lidar com o desempenho de outras pessoas.
 
A gestão do desempenho se coloca hoje como uma competência das mais requeridas para líderes e gestores nos ambientes organizacionais, podendo ser o diferencial daqueles que são considerados ‘bem sucedidos’ em suas carreiras.
 
Este é o tema que trataremos nos próximos textos. 
 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Outro breve conceito. O que é uma atitude? (sexta parte)

 

No senso comum a atitude se confunde com o comportamento da pessoaassume o significado das ações praticadas por ela. Contudo, quando vamos um pouco mais fundo no conceito, verificamos que a atitude antecede o comportamento. Isto mesmo, ela funciona como um componente aglutinador de todos os elementos presentes em nossa mente para realizarmos um julgamento e uma escolha sobre qual ação adotar. Neste sentido, podemos entender a atitude como o nosso processo decisório individual, frente a todas as situações que experimentamos ao nos relacionarmos com o mundo (pessoas, objetos, animais, natureza, etc.).
 
O seu significado pode ser enunciado como: um estado de disponibilidade psicofísica (predisposição para agir) marcado pela experiência e que exerce influência diretiva e dinâmica sobre o comportamento.
 
As nossas atitudes são dinâmicas, como dinâmica é a vida. Sua formação decorre da reunião de todos os elementos que compõem o nosso modelo mental, que, relembrando, os mais importantes são: as crenças, os valores, as necessidades, as experiências, os conhecimentos, as habilidades, as expectativas e outros elementos.
 
As nossas atitudes podem ou não ser reveladas através de nossos comportamentos, e isto ocorre por uma leitura muito imediata das eventuais consequências positivas ou negativas que antevemos no momento de adotar a ação.  
 
Mas ainda, nós podemos ‘mentir’, adotando comportamentos que não são condizentes com as nossas verdadeiras ‘crenças e valores’, quase sempre achando que as demais pessoas não perceberão a nossa mentira.
 
Voltando aos personagens que usamos no exemplo inicial, quais foram as ‘atitudes’ que orientaram os comportamentos que adotaram?
  • A atitude de Antonio foi de ‘omitir’ sua verdadeira opinião sobre o chefe. E por que ele agiu assim? Muito provavelmente, por medo das consequências adversas que teria que enfrentar. Ficou frustrado consigo mesmo, algo que ele já está acostumado, mas não terá que enfrentar a ira autoritária do chefe e nem verá seu emprego ameaçado. Lá no fundo de seus sentimentos, talvez passe uma autocrítica sobre sua covardia, mas imediatamente vem a ‘razão’ lhe salvar: pensando bem, com um chefe assim só me restava esta alternativa.
  • A atitude de José foi de ‘revelar’, ainda que com cautela, somente para a mulher, o que pensava fazer. Viu-se surpreendido com a reação dela e descobriu o quanto os laços familiares eram importantes para a esposa, mesmo causando alguns transtornos para eles. Ficou frustrado quanto aos parentes, mas aliviado quanto ao seu relacionamento. Pensando bem, o fato de falar o que sentia, ainda que só para a mulher, foi mais positivo do que negativo. Isto lhe abriu as portas para outras reflexões sobre como poderá conduzir futuras situações.  
  • A atitude de Carlos foi de ‘esperar’, ficando num dilema entre falar ou não falar. Esta espera ou falta de posicionamento (decisão) não pode durar muito tempo, pois constantemente seus pensamentos e sentimentos se voltam para o assunto, causando pré-ocupações, isto é, ocupando sua mente várias vezes com o mesmo assunto, sem resolvê-los. Os dilemas são consumidores de nossas energias e, provavelmente, inibidores das ações. Sentimentos de incertas, dúvida sobre sua capacidade de supervisionar podem ser os ‘fantasmas’ que sempre assombram sua mente.  
  
Buscamos, de forma muito simples, trazer algumas explicações sobre estes fenômenos que são inerentes à natureza humana, mas são muito complexos e exigiriam análises e estudos muito mais profundos para uma compreensão ampliada sobre os fundamentos do comportamento humano, mas são suficientes para uma base inicial.
 
 
 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Valores, Crenças, Atitudes e Comportamentos (terceira parte)

 
 
Vamos retomar o tema, relembrando rapidamente o texto anterior. 
 
Vimos que todos nós, ao longo do processo de crescimento e educação, aprendemos que nem sempre podemos falar aquilo que realmente acreditamos. De fato, aprendemos a adotar uma série de “condutas sociais” que evita expor as próprias crenças e não enfrentar as consequências tão negativas caso as tivéssemos revelado. Esta habilidade de disfarçar, mudar de assunto ou mesmo de se omitir frente a situações embaraçosas ou que possam trazer implicações negativas para o alcance dos objetivos desejados, é desenvolvida e aprimorada desde a primeira infância.
 
Recomendo a leitura do livro “Por que Mentimos – Fundamentos Biológicos e Psicológicos da Mentira”, de David Livingstone Smith, muito interessante e que pode ajudar a ter uma compreensão mais ampla sobre esta ‘habilidade de enganar ou mentir’. Diz ele no trecho inicial do livro:
 
“O engano é, e provavelmente sempre foi, uma grande preocupação da cultura humana... Temos falado, escrito e cantado a respeito do engano desde que Eva disse a Deus: ‘a serpente me enganou, e eu comi’...”
 
“Nosso aparentemente insaciável apetite por histórias de enganos vai de um extremo a outro da cultura, desde Rei Lear até Chapeuzinho Vermelho... Esses contos são cativantes porque falam de algo fundamental na condição humana. O engano é uma dimensão crucial de todas as associações humanas, sempre à espreita nos bastidores dos relacionamentos entre pais e filhos, maridos e esposas, empregados e empregadores, profissionais liberais e seus pacientes, governos e cidadãos. A mentira é obrigatória devido à sua própria natureza, para cobrir rastros, pois, para mentirmos de maneira eficaz, temos de mentir sobre o fato de mentir. Isto representa um problema para qualquer um que esteja querendo provar a onipresença do engano... Apesar de afirmarmos que valorizamos a verdade acima de tudo, também temos ao menos uma obscura consciência de que há algo de antissocial na franqueza em excesso... Eu defino a mentira como qualquer forma de comportamento cuja função seja fornecer aos outros informações falsas ou privá-los de informações verdadeiras. Mentir pode ser um ato consciente ou inconsciente, verbal ou não verbal, declarado ou não declarado. Pense por um instante em todas as formas de desonestidade que não requerem o uso das falsidades verbais explícitas: implantes de seios, apliques, doenças fictícias, orgasmos fingidos e sorrisos falsos... De acordo com o folclore do engano, pessoas comuns, decentes, mentem apenas de forma ocasional e irrelevante... O engano nos persegue do nascimento até a morte e penetra em todos os aspectos de nossas vidas pública e privada. A maioria de nós diz que ensina os filhos a não mentir. Embora seja verdade que as crianças ouvem que não devem mentir, aprendem mais frequentemente a mentir de uma maneira socialmente aceitável.”
 
 
 
“Os adultos ensinam as crianças a enganar por meio de exemplos, enganando-as com ‘canções de ninar, promessas, desculpas, histórias para dormir e ameaças sobre os perigos do mundo’... À medida que envelhecemos nosso talento para a dissimulação se torna mais aperfeiçoado... No mundo dos negócios, é difícil imaginar a indústria da publicidade sem ele. A desonestidade quase calculada dos políticos é lendária...”
 
O que tem isto a ver com crenças e valores? Bem, para mim tem tudo a ver. Vejam como é difícil identificar os verdadeiros valores e crenças das pessoas, na medida em que isto só é possível através das inferências que fazemos a partir de seus comportamentos! Não raro estes comportamentos estão falseando as verdadeiras crenças e intenções das pessoas, e nossa percepção está captando uma ‘mensagem enganosa’ e considerando-a como verdadeira.
 
Mas voltemos aos nossos personagens da primeira parte, vocês se colocaram no papel deles? Vamos ver as possíveis reações que eles tiveram.
 
Para Antonio, no momento em que ele vai se encaminhando para falar com o chefe, pensa melhor e analisa que é mais provável que seu chefe não goste do ‘feedback não solicitado’ que ele está para dar e, aos invés de falar as ‘verdades’ que queria, desconversa e até mesmo o elogia por algum outro aspecto de sua conduta.Implicações de seu comportamento: nenhuma consequência. Seu chefe continua achando que ele é um cara legal e promissor. No entanto, lá no fundo, continua achando o chefe um cara autoritário, que não gosta de ser contestado e muito menos de receber feedback.
 
José, antes de falar com os parentes, informa para a mulher das suas intenções de mostrar a eles o incômodo que suas visitas causam. Qual não é sua surpresa ao ver a reação de sua mulher em não concordar com sua ação e aceitando os incômodos que por vezes eles causam. José volta atrás e absolutamente deixa a coisa do jeito que está e esquece o assunto. Implicações de seu comportamento: evitou uma grande ‘briga’ com a mulher, o que seria muito ruim para o relacionamento deles, mas vai ter que suportar as visitas dos parentes que continuarão a acontecer.  
 
Carlos, no momento em que estava organizando a agenda para falar com cada um dos seus subordinados, reflete um pouco mais e percebe que talvez esta sua conduta possa ser muito mal recebida. Alguns poderiam se sentir assediados moralmente e, até mesmo, fazer uma reclamação junto ao RH da empresa. Carlos fica num dilema, por um lado precisa apontar as deficiências, mas por outro precisa cuidar com bastante habilidade de sua própria reputação junto à equipe e na própria empresa. Implicações de seu comportamento: como não tomou nenhuma ação imediata, acha que precisa pensar numa estratégia mais adequada, provavelmente envolvendo o pessoal do RH, e ser muito claro no processo de comunicação com a sua equipe.    
 

No próximo texto trataremos do tema das crenças. 
 
 
 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Valores, Crenças, Atitudes e Comportamentos (primeira parte)

 
Dando continuidade ao tema “Expectativas”, que tratamos nos dois últimos textos, vamos ampliar um pouco mais a compreensão sobre as variáveis que influenciam fortemente a formação das expectativas e, por fim, dos comportamentos praticados pelas pessoas.

Começo pela pergunta: meu comportamento reflete de fato as coisas em que eu acredito? Uma pergunta simples, mas que exige uma resposta bastante complexa.

Acredito que em grande parte as ações que as pessoas praticam refletem suas crenças e convicções. E isto é muito salutar, pois demonstra coerência e integridade na conduta. 

Mas nem sempre isto acontece. Em determinadas situações os comportamentos praticados pela pessoa não refletem suas crenças e pode até mesmo ser contrários a elas. Por que será que isto acontece?

Em geral isto tem a ver com a pré-visão das possíveis consequências negativas (punições) que a pessoa enfrentaria se revelasse suas verdadeiras crenças sobre as pessoas, coisas ou situações com as quais está lidando.

Você não pode sair por aí falando tudo que sente e pensa! Desde muito cedo aprendeu que é preciso ‘medir’ as palavras, como diz o velho ditado “falar é prata, mas calar é ouro”. De fato, ao longo do processo de crescimento aprendeu que nem sempre se pode falar aquilo que realmente se acredita. No período educacional nos ensinaram a adotar uma série de ‘condutas sociais’ que evitava (e muito provavelmente, continua evitando) a exposição das próprias convicções sobre pessoas, coisas e/ou situações e, assim, não enfrentar as situações embaraçosas caso as tivéssemos revelado.

Neste sentido, a ação ou reação da pessoa sobre o fato é de ‘esconder’ ou ‘amenizar’ suas reais crenças sobre o assunto, e isto é reforçado socialmente.  Na realidade, ela se vê na condição de ‘disfarçar’ sua verdadeira opinião, por uma série de razões que também não são reveladas. Tal conduta pode ser chamada de ‘mentir’, o que já soa como um grande incômodo ao imaginar que é você que a está praticando. 

Mas o que é mais comum mesmo é se ‘omitir’, isto é, não revelar o que está sentindo e pensando sobre a situação, num certo sentido ‘fingir que não é com você’. Tornamo-nos habilidosos em adotar comportamentos desta natureza.

O problema é que, muitas vezes, somos chamados a dar a nossa opinião diretamente e fica impossível se omitir, nestes casos não resta alternativa além de falar a verdade ou mentir.
 
Vamos a alguns exemplos bem simples e comuns:
  • Antonio resolve que hoje ele vai falar o que pensa sobre o comportamento do seu chefe.
  • José decide mostrar para os parentes de sua mulher como são inoportunas suas visitas a sua casa sem nenhum aviso e em horários inapropriados.
  • Carlos assume que vai falar claramente para os seus subordinados sobre as suas deficiências comportamentais.

São situações corriqueiras que provavelmente todos nós já nos deparamos em nossas vidas. Que tal você, pensar sobre como agiria, colocando-se no lugar de cada um dos personagens?