Use a insatisfação para mudar sua vida
Mire-se no exemplo de mulheres que fizeram da insatisfação um motor para transformar o dia-a-dia. Especialistas ensinam os segredos da criatividade aplicada ao cotidiano.

Diz um famoso provérbio que quem almeja o que nunca teve precisa fazer o que nunca fez. Parece óbvio, mas nem sempre essa sabedoria é aplicada. “Muitos indivíduos preferem manter os mesmos comportamentos, ainda que estejam insatisfeitos, pois acomodar-se gasta menos energia mental e emocional”, explica a psicóloga Márcia Belmiro, sócia-diretora da Humanitas Consultoria em RH, no Rio de Janeiro, e membro da Sociedade Brasileira de Coaching. O resultado da acomodação é uma mistura de frustração e baixa autoestima, que leva os descontentes a lamentar muito e agir pouco. “As pessoas confundem intenções com mudança real. Sempre que isso acontece, mostro a elas a discrepância entre o que dizem que desejam e o que realmente fazem para realizar esse desejo”, afirma o psiquiatra e escritor americano Gordon Livingston em seu best-seller Velho Muito Cedo, Sábio Muito Tarde – Conselhos para Viver com Vitalidade, Confiança e Coragem (Ed. Sextante).
Para Márcia, o antídoto contra a estagnação é a criatividade. “Ser criativo é ter coragem de fazer o inesperado. Trata-se de uma competência que não se restringe ao campo das artes. Servir uma deliciosa refeição com as sobras da geladeira, por exemplo, é um ato criativo. Nascemos assim para sobreviver e podemos aperfeiçoar essa qualidade ao longo da vida”, acredita.
Na opinião da filósofa e psicanalista Viviane Mosé, a criatividade está ligada à ousadia, ao ânimo e, muitas vezes, é provocada por dificuldades externas, como perdas e desafios. “Criar é sair do estabelecido, da zona de conforto. Para isso, é preciso arriscar-se. Se você quiser saber se sua vida anda criativa, observe quanto de ação e quanto de espera existe nela”, diz. Por outro lado, se perceber que está repetindo os mesmos erros, jargões e conflitos, é hora de dar uma guinada. “Na maioria das vezes, a transformação começa com pequenas atitudes que, pouco a pouco, irão trazer recompensas gratificantes, como iniciar uma dieta, matricular-se em um MBA ou simplesmente encontrar mais tempo para si mesma”, explica Márcia.
Inspire-se na experiência de quem venceu a acomodação e a inércia e inventou um novo jeito de viver, amar e trabalhar.
Carreira repaginada
Problema
Durante 20 anos, recebi baixos salários. Sou publicitária e tenho pós-graduação em gestão de negócios, mas até 2007 ganhava 1,2 mil reais por mês como funcionária de uma empresa de consultoria para franquias. Minha função era ajudá-las a ampliar as vendas e, com um bom desempenho, chegava a ganhar 2 mil reais. Vivia apertada. Pagava o aluguel e ficava frustrada por não poder comprar roupas boas, ir a restaurantes, viajar e me divertir. Me sentia diminuída com essa situação.
Processo criativo
A insatisfação e a vontade de crescer me fizeram dar o primeiro passo. Como sempre achei que a educação era a melhor arma para vencer na vida, fui procurar um curso que me desse algum diferencial. Na internet, cheguei a um anúncio da Sociedade Brasileira de Coaching, que oferecia ferramentas para crescer na profissão. Perfeito, porém o valor do módulo inicial era equivalente ao meu salário! Propus parcelar a mensalidade e segui em frente. O curso ensina a planejar a carreira na prática: exige que você atinja os resultados – e comprove isso. Estabeleci metas, com prazos, métodos e alternativas para chegar lá. Não foi fácil e pensei em parar, mas tive o auxílio de um coach que me ajudou a continuar.
Conclusão
Ninguém alcança o sucesso sem dificuldades, o importante é persistir. Antes eu tentava, mas praguejava contra os obstáculos e logo perdia a vontade. O curso me ensinou que elementos culturais alimentam o poder criativo: muitas vezes recorri a músicas e filmes inspiradores. Me aproximei mais dos amigos que me incentivavam e percebi que até algumas críticas podiam me ajudar, porque me desafiavam a ir mais longe. Assim que terminei o curso, pedi demissão e comecei a trabalhar como coach. No final de 2008, já ganhava 10 mil reais por mês. Hoje, recebo em média 25 mil reais e vou comprar meu apartamento à vista.
Coração renovado
Problema
Aos 17 anos, tive um namoro longo. Depois disso, enfrentei dificuldades familiares que me deixaram retraída. Passei a ter somente relacionamentos breves e cheguei a ficar nove anos sozinha. Sempre consegui atrair a atenção masculina, mas os elogios e as cantadas me davam a impressão de que os homens só queriam me levar para a cama. Por essa razão, vivia colocando defeitos em quem se aproximasse. Além disso, não saía com ninguém do escritório para não comprometer minha reputação. Minhas amigas diziam que eu era exigente demais e que iria acabar sozinha. Acostumada ao rótulo de encalhada, passei a acreditar que simplesmente não merecia ser feliz.
Processo criativo
Quando eu tinha 27 anos, minha irmã, que era casada, teve seu primeiro filho e fiquei para titia. Nessa época, todas as minhas amigas namoravam, menos eu. Avaliando minhas atitudes, vi que o problema era meu, não dos homens. Se quisesse mesmo casar e ter filhos, deveria mudar. Em agosto de 2008, troquei de emprego e, no treinamento, conheci um rapaz. Quando ele começou a se aproximar, meu impulso foi pular fora, mas resolvi tentar. Com o tempo, a amizade cresceu e a atração também. O fato de ele não avançar pesou, me senti respeitada. Demoramos quatro meses para sair, mas, quando ele me convidou, eu aceitei e hoje estamos noivos.
Conclusão
A solidão e a vontade de ter uma família me fizeram arrumar coragem para arriscar. Foi difícil vencer meus bloqueios. Eu achava que sexo era coisa de vagabunda, não conseguia me abrir para o prazer nem para o amor. Senti medo de me decepcionar, mas percebi que só teria a ganhar se tentasse ser mais feliz. Assim que mudei meu jeito de pensar, conheci o homem da minha vida. Hoje me sinto mais bonita e autoconfiante.
RENATA FERRAZ, 29 ANOS, ANALISTA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS, DE SÃO PAULO
Corpo revitalizado
Problema
Tinha 19 anos e ainda cursava a faculdade de educação física quando engravidei. Parei de estudar para me casar e passei os quatro anos seguintes dedicada apenas ao bebê e à casa. Voltei à faculdade e, perto da formatura, engravidei de novo, retomando a vida doméstica por mais quatro anos. Deixei de me cuidar e engordei 5 quilos. Como sou baixa, isso faz muita diferença. Vestia só camiseta e legging. Meu corpo, antes definido, estava flácido. Não me maquiava, vivia de cabelo preso, desleixada. Via minhas amigas e ficava muito frustrada: elas haviam seguido em frente, enquanto eu me sentia envelhecida e infeliz
Processo criativo
Com a ajuda de uma amiga, consegui estágio em uma academia. Minha tarefa era aprender todos os treinos e, assim, passei a trabalhar meu corpo. Saía de casa às 5 horas da manhã e sofria por ficar longe dos meninos, mas expliquei a situação a eles e tive o apoio do meu marido. A mudança física foi o meu disparador. Emagreci e ganhei massa muscular. Um ano depois, me tornei professora; dois anos mais tarde, coordenadora; e, após mais dois anos, gerente. Ao longo do processo, ganhei autoconfiança e perdi o medo de mudar. Tempos depois, quando me vi infeliz no casamento, a psicanálise me ajudou a ter coragem para separar. Saí de casa com meus filhos adolescentes e comecei uma vida nova.
Conclusão
A mudança em minha imagem levou à segurança profissional e emocional. Passei a me sentir competente, percebi que consigo viver sem depender de ninguém financeiramente. Investi em minha formação, juntei capital e abri uma academia de pilates. Estou divorciada há dois anos e namoro um rapaz 13 anos mais jovem. Eu me orgulho de ser mãe de dois garotos, de 12 e 17 anos, e continuar atraente. Criei um novo estilo de vida, me sinto realizada e também muito mais bonita do que fui aos 20 anos.
Acione sua criatividade
- A psicóloga e coach Márcia Belmiro indica as atitudes que aumentam seu jogo de cintura
- Alimente seu repertório cultural. Ler, estudar, ir ao cinema... Isso abre a cabeça e também futuras portas.
- Comece a inovar no dia a dia. Mude o trajeto, o menu, o corte de cabelo.
- Converse com pessoas novas. Mesmo que, a princípio, você não se identifique com elas. Ouça opiniões diferentes da sua.
- Escute músicas novas, dance. Deixe-se levar um pouco pela emoção.
- Provoque sua mente Procure imagens e paisagens inéditas. Visite exposições de arte e locais desconhecidos.
- Evite fórmulas prontas. Busque saídas diferentes para seus problemas.