Trabalhe na medida certa
Trabalhe na medida para sentir-se realizada profissionalmente e mude sua relação com as tarefas diárias

Ok, você está no local de trabalho. Mas está mesmo trabalhando?
Foto: Paulo Pereira
Quanto tempo do seu dia você passa trabalhando? Se já refletiu o mínimo sobre o assunto, sabe que o resultado dessa equação (horas de trabalho real x horas de trabalho ideal) tende a ser negativo. Essa sensação de dever não cumprido tem a ver, talvez, com a mesma pergunta do início desse parágrafo, mas com uma reformulação: quanto tempo do seu dia você passa, efetivamente, trabalhando?
Por mais estranho que pareça, a verdade é que não conseguimos trabalhar efetivamente no nosso local de trabalho. E essa constatação, tão bizarra quanto lógica, está abrindo novos caminhos para que possamos repensar a nossa relação com o batente.
Nova forma
Um deles é dos amigos e programadores norte-americanos Jason Fried e David Heinemeier Hansson, que criaram uma empresa de softwares que se tornou uma referência no mercado. O diferencial é que eles investiram na produtividade de seus colaboradores - e, principalmente, na forma de eles a alcançarem. Segundo a dupla, os profissionais "querem fazer algo que amam e ser pagos por isso", escrevem na apresentação de Rework (Retrabalho, em tradução livre).
Se você sempre fica até mais tarde na empresa e trabalha aos finais de semana, não significa, necessariamente, que tem muita coisa a fazer. É porque você não está fazendo o suficiente no seu trabalho e a razão disso são as interrupções, segundo Fried e Hansson. "Quanto mais gente ao redor, mais interrupções, que acabam quebrando a rotina". O consultor de empresas Tony Schwartz concorda com a visão de que "a forma como estamos trabalhando não está adiantando" - essa, aliás, é a frase-título de seu livro.
Menos é mais
Para ele, vivemos em uma era em que as informações estão muito disponíveis e a velocidade das coisas aumenta exponencialmente, causando um senso de urgência e uma distração sem fim. O porém é que realização é palavra de ordem atualmente. Todo mundo quer trabalhar para se sentir completo e feliz, acima de qualquer coisa.
Durante anos, a nossa cultura celebrou o workaholic, mas, agora, percebeu- se como esse modelo é desnecessário - para não dizer estúpido. "Trabalhar mais não significa que você se preocupa mais ou faz mais coisas. Significa simplesmente que você trabalha mais", concluem Fried e Hansson. O verdadeiro herói consegue dar conta dos afazeres para chegar em casa a tempo de brincar com os filhos. É aquele que prima por ter uma vida fora do ambiente de trabalho - e assim tem tempo livre para viver e até trabalhar melhor.

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Foto: Paulo Pereira
Herança desgastada
Essa mudança de mentalidade é gradual, claro. "Vivíamos na sociedade industrial, onde éramos mão de obra e o bom operário deveria deixar o cérebro e as emoções em casa", afirma Marcos Cavalcanti, coordenador do Crie (Centro de Referência em Inteligência Empresarial) da UFRJ. "Hoje, vivemos em uma sociedade em que o conhecimento se transformou no principal fator de produção de riqueza, e a criatividade e a capacidade de inovar são essenciais".
A saída para uma nova relação com o trabalho pode começar com você e a sua forma de lidar com o ofício de todo dia. Se as interrupções acabam por minar sua atenção, tente se programar para buscar sua "zona de isolamento". Se seu trabalho (e seu chefe) permite, negocie horários mais flexíveis para executar suas tarefas. Ou decrete um período do dia que você não vai responder a e-mails, atender a ligações e nem marcar reuniões. Ao final das contas, vale sempre lembrar que buscar essa flexibilidade e essa realização depende muito de nós.
LIVROS
Rework, Jason Fried e David Heinemeier Hansson, Crown Business
The Way Were Working Isnt Working, Tony Schwartz, Free Press