Suicídio na infância

01/09/2021 18:46

 

A depressão é um dos principais fatores que antecipam o suicídio, e acabar com os mitos em relação a esse tema é uma tarefa fundamental para preveni-lo. 72% das crianças e dos adolescentes deprimidos têm ideias suicidas. No caso das crianças, essas ideias podem existir mesmo que elas não as verbalizem. Muitos desejos infantis não são expressados por meio de palavras, e sim por meio de outras formas de comunicação, como brincadeiras ou desenhos. Como adultos, é importante aprender a “ler nas entrelinhas” o que as crianças expressam.

A seguir vamos identificar alguns dos mitos que existem em relação à depressão infantil:

  • “O suicídio vem de família” – Em muitos casos, se um dos pais ou algum familiar se suicidou, acredita-se que a criança apresenta mais chances de também tentar tirar a própria vida. É verdade que ela teve um modelo errado de enfrentamento, mas o suicídio não é geneticamente determinado. Será preciso conversar com a criança e principalmente falar de maneira clara. É muito importante não silenciar o acontecimento nem silenciar os desejos e os sentimentos da criança. Será preciso conversar com uma linguagem adaptada à idade dela, utilizando explicações concretas que ela seja capaz de entender. É fundamental encontrar de maneira conjunta soluções para os problemas pelos quais a criança busca a morte como um saída libertadora.
  • “Quem muito fala nunca faz, é para chamar a atenção” – Nunca se deve considerar como certo que não existe a possibilidade de consumação do ato. Para os pais, é difícil encarar que seu filho tem o desejo de tirar a própria vida, mas longe de se evitar o problema, o mais urgente é enfrentá-lo. Pensar que não vai acontecer, mas agir como se pudesse acontecer.
  •  “A decisão é irrevogável” – Considerar que as ideias de suicídio que a criança tem não podem mudar é outro erro. Os sentimentos são ambivalentes, a insatisfação e o medo estão misturados junto com a avaliação positiva da morte. Por isso é tão importante ficar atento aos sinais verbais e comportamentais que vão nos permitir intervir a tempo.
  •  “Um suicida vai ser um suicida a vida toda” – Os desejos são passageiros, na maioria das vezes as crianças se arrependem e inclusive sentem vergonha disso. É preciso dedicar tempo para conversar sobre as emoções e normalizar o fato de ter sentimentos contraditórios. Na vida ocorrem experiências muito difíceis, mas a partir delas é possível obter muitos aprendizados.
  •  “Falar do suicídio leva à sua consumação” – Transformar o suicídio em tabu pode ser uma das piores ações. Conversar sobre o tema alivia o mal-estar e permite que a pessoa se expresse. Ter empatia, normalizar e tentar compreender é a prioridade para encontrar soluções.
  •  “Quem se suicida tem um transtorno mental” – Outro erro frequente é pensar que para ter vontade de tirar a própria vida a pessoa necessariamente sofre de algum problema psicológico. Embora a depressão seja um fator de risco para o suicídio, há uma grande porcentagem de suicídios de caráter impulsivo em adolescentes sem transtornos mentais.

O que fazer em caso de depressão infantil?

Nas intervenções psicológicas, o objetivo é abordar os fatores de risco e os comportamentos problemáticos que estão associados à depressão da criança. A intervenção envolve a criança, a família e o meio em que vivem. Com a criança ou o adolescente são trabalhadas diferentes habilidades de enfrentamento, maneiras de solucionar problemas, e é dada grande importância ao aprendizado de como processar a informação e como lidar com o mal-estar emocional. A intenção é transformar os pensamentos automáticos negativos e as autoavaliações que a criança pode fazer de si mesma e do mudo que mantenham o estado emocional em que se encontra.

Mãe ajudando filho com depressão infantil

 

Aos pais são fornecidas orientações para que consigam lidar com o comportamento dos seus filhos, estimular a escuta com empatia, controlar a raiva, evitar o conflito, comunicar as mensagens e os sentimentos de forma efetiva, aprender a tomar decisões e mudar formas de interagir entre os membros da família.

Na prevenção da depressão em crianças é fundamental que a incondicionalidade do amor esteja presente. Nunca devemos condicionar o carinho a uma ação ou a uma característica específica da criança. É positivo que o amor seja percebido como incondicional, como um vínculo que vai sobreviver a qualquer circunstância que aparecer. Além disso, é preciso que existam regras sensatas e aplicadas de maneira coerente, o reforço de comportamentos adequados, a espera pelas recompensas, o exercício da motivação intrínseca, a firmeza em relação aos processos de coerção e o estabelecimento de uma boa comunicação.

“Embora o mundo esteja cheio de sofrimento, também está cheio de superação.”
-Helen Keller-