Solte sua fera! Sabendo usar, vai ajudar.

16/09/2017 15:11
cuidardoser |
 
 
 

A agressividade é um instinto inato. Saber canalizá-la para objetivos construtivos é uma das chaves do sucesso pessoal. Reprimir toda agressividade significa remetê-la para os domínios escuros do inconsciente. Como uma máquina a vapor destituída de válvula de escape, a energia agressiva pode vir à tona nos momentos mais impensados. E pode, muitas vezes, aflorar nas vestes pouco recomendáveis dos atos violentos.
“Seu marido é agressivo?”, perguntou a repórter de TV à dona de casa de meia-idade, moradora da periferia de São Paulo, durante um programa sobre violência no lar. A resposta obrigou a jornalista a conter o riso: “Não, meu marido é um homem bom. É só um pouco nervoso. Quando não gosta da comida joga o prato na parede, xinga e sai de casa batendo a porta. Mas não é agressivo. Em 20 anos de casamento ele nunca me bateu.”
O marido nunca lhe batera. Já era alguma coisa, sem dúvida, diante dos outros depoimentos bem mais escabrosos que vieram a seguir. Mas não significava que aquele homem fosse um cordeirinho. O equívoco de avaliação cometido pela entrevistada é comum: ela confundia agressividade com violência. Convém, desde já, estabelecer a diferença. Violência deriva do verbo violar e implica coação, constrangimento físico ou moral, estupro. Violência exige o uso da força bruta, e é sempre destrutiva. Quando se manifesta no comportamento humano, está ligada a alguma forma de patologia. Agressividade vem do verbo agredir, cujos sentidos são múltiplos. Pode significar investir, provocar, desafiar, competir e até mesmo dinamizar ou, simplesmente, agir. No ser humano, a agressividade é uma das funções do instinto natural de preservação. Ela não é, necessariamente, destrutiva.
Mas como não ter ideias confusas quando se fala de agressividade e violência? Basta abrir o jornal e ler as manchetes: a cada dia, uma lista interminável de crimes hediondos, atentados sanguinários, mortes e roubalheiras de todos os tipos. Somos a tal ponto submergidos pela fartura dos fatos negativos que, por instinto de defesa, cada vez mais desenvolvemos uma postura de indiferença diante deles. A mídia, no entanto, é apenas um espelho da nossa realidade: vivemos numa era de banalização da violência e da agressividade.
Agressividade construtiva
Por outro lado, se os traços fortes de uma sociedade representam um somatório das características dos indivíduos que a compõem, isso significa que somos todos, em maior ou menor medida, seres agressivos e violentos?
Sobre a pergunta armou-se, há duas ou três décadas, uma polêmica científica que se arrasta até hoje. Ela não diz respeito à violência – todos a condenam como patologia pura. O que se discute é a natureza da agressividade. De um lado, um grupo de humanistas liderados por Ashley Montagu, biólogo e antropólogo inglês, afirma que a agressividade é uma anomalia comportamental produzida pelo condicionamento cultural. Do outro lado, um grupo de etólogos – cientistas do comportamento animal –, sob a chefia de um Prêmio Nobel, o austríaco Konrad Lorenz, diz que a agressividade não apenas é inata em todos nós, mas necessária para a nossa sobrevivência e realização pessoal na sociedade e no mundo.



Cada um desses grupos apresenta montanhas de argumentos para justificar suas posições. Mas Lorenz e seus etologistas parecem levar a melhor. Pelo menos a maior parte das psicologias modernas pendem claramente para o seu lado.
Nada de bom se pode esperar da agressividade – afirma a opinião quase geral. Etólogos e psicólogos, porém, discordam: coisas boas, se pode esperar da agressividade – desde que ela seja canalizada convenientemente.O bom êxito na vida profissional, familiar, afetiva ou sexual depende, em grande parte, da capacidade de orientar os ímpetos agressivos de forma criadora, nunca destruidora. Um soco na mesa às vezes é necessário, e sempre menos prejudicial do que um soco na cara de um interlocutor irritante. Da mesma forma, buscar alívio numa discoteca, numa partida de tênis ou futebol levará a resultados bem mais saudáveis do que pressionar o acelerador do carro em movimento. O que não se deve fazer em hipótese alguma é reprimir a agressividade. 
Ela é instintiva. Sufocá-la traz conseqüências tão desastrosas quanto aquelas observadas nas pessoas que tentam simplesmente eliminar o instinto sexual de suas vidas. A atitude correta, neste caso, é a de buscar meios de canalizar essa energia para fins construtivos
A moderna psicologia diz que devemos à agressividade sabiamente conduzida as sinfonias de Beethoven, os dramas de Shakespeare e as pinturas de Michelangelo – todos eles exemplos de personalidades agressivas.
Lorenz aprendeu com seus gansos cinzentos como a agressividade pode se transformar numa fonte de benefícios para a comunidade. Convivendo com os animais desde sua infância, nos arredores de Viena, ele procurou neles as explicações para muitos comportamentos humanos.
Forma de autoproteção
Os gansos cinzentos forneceram a Lorenz elementos importantes. O estridente grasnar dessas aves era interpretado apenas como um desafio para a luta. Lorenz descobriu que ele é também um convite ao amor. O instinto de sobrevivência da espécie levou-a, nos momentos certos, a sublimar sua agressividade, e seu grito de guerra transformou-se num ruidoso prelúdio de procriação. A misteriosa sabedoria da natureza ensinou aos gansos que mais vale respeitar seus semelhantes do que tentar eliminá-los. Na linguagem de Lorenz, “os gansos transformaram sua agressividade, através dos tempos, num ritual”.
Ritualizar a agressividade é o que fazemos, por exemplo, quando nos empenhamos numa atividade esportiva sadia. Os jogadores são adversários, não inimigos. O espírito cavalheiresco dominante nessas ocasiões é altamente benéfico e a agressividade se transforma num entusiasmante espírito de competição.
A agressividade, para a etologia, é uma forma de autoproteção das espécies.
Assim, deveria voltar-se sempre contra qualquer inimigo que viesse ameaçar a sobrevivência dessa espécie e nunca contra seus próprios membros. Mas, tanto 

entre os animais como entre os seres humanos, os recursos naturais (espaço e comida) são limitados. Como distribuí-los sem gerar mútuos extermínios?
Os animais resolvem o problema de modo simples: cada um determina o seu “território” e qualquer ameaça de invasão por outro, da mesma espécie ou diferente, encontra uma resposta agressiva. A agressividade do “dono do terreiro”, no entanto, dura apenas enquanto o inimigo estiver próximo e diminui quando ele se afasta. Se o intruso for da mesma espécie e houver luta, dificilmente ocorrerá a morte de um dos contendores. Os animais possuem um mecanismo inibidor da agressividade, que entra em ação quando ela se torna uma ameaça à espécie.
Geralmente, esse freio natural evita o confronto direto. Alguns peixes, por exemplo, previnem seus colegas de suas intenções belicosas mudando a coloração das escamas, que se tornam mais vivas e brilhantes. A mensagem é entendida e todos se afastam prudentemente. Cães, gatos e demais felinos demarcam o território com seu odor. Os animais respeitam tais advertências graças à inibição.
No homem, porém, o mecanismo inibidor parece ser muito pouco desenvolvido. Isso nos torna uma das raras espécies cujos membros são capazes de se exterminarem mutuamente. E o pior: aperfeiçoamos até os limites máximos a capacidade de nos autodestruirmos.
Constatações desse tipo levaram pensadores humanistas a uma conclusão: é preciso encontrar meios urgentes não só de canalizar produtivamente a agressividade, como também de aperfeiçoar o mecanismo inibidor (não confundir com repressor) do qual a natureza se recusou a dotar convenientemente o ser humano.
Autoconceito negativo
Ao procurar desviar a agressividade para fins criativos, pode levar a bons resultado . Mesmo nesses casos, porém, o espírito agressivo precisa ser devidamente controlado. Por exemplo, em qualquer atividade profissional a vontade de competir estimula a pessoa a superar os concorrentes, não os eliminando fisicamente, mas através das habilidades que desenvolveu e sabe utilizar de modo honesto e racional.
Quando o espírito competitivo é forte demais, torna-se prejudicial à pessoa e à comunidade. Todo especialista em organização do trabalho sabe que a presença de indivíduos demasiado agressivos e competitivos costuma comprometer todo o esforço conjunto de uma equipe.
Individualmente, a agressividade exagerada nos negócios e na vida pessoal pode conduzir ao fracasso. Pessoas muito agressivas e competitivas, bem como os “encrenqueiros”, são mal vistas e acabam sendo rejeitadas em muitos meios. Como conseguir o comportamento ideal?
A agressividade excessiva e a falta de espírito de colaboração quase sempre denotam insegurança. São, em geral, comportamentos que tentam compensar algum complexo de inferioridade. Portanto, o comportamento agressivo patológico é na verdade um efeito. Para corrigi-lo não basta reprimi-lo ou sufocá-lo: é preciso agir diretamente sobre a sua causa. Por isso, torna-se importante introduzir aqui três novos elementos fundamentais para superar a insegurança básica de toda pessoa demasiado agressiva: autoconfiança, auto-estima e autovalorização.



Esses sentimentos desenvolvem-se por um longo período e dependem do conceito que a pessoa faz de si mesma. A fase mais crítica da elaboração do autoconceito é a infância. E a fonte de informações mais importante que uma criança tem para estabelecer um juízo sobre sua própria personalidade é aquilo que seus pais pensam a seu respeito. Todos nós nos vemos da maneira como acreditamos que os outros nos veem. E completamos a imagem com os dados colhidos quando nos comparamos com outras pessoas e pela avaliação dos sucessos e fracassos experimentados em nossa vida. Se no fim estabelecermos um autoconceito negativo, será muito difícil mudá-lo.
Uma pessoa que se vê de modo negativo não terá confiança em si, e tenderá a se desvalorizar. A ela só restarão duas tristes opções: ou se tornará depressiva (depressão é uma forma de agressividade patológica voltada contra a própria pessoa), tornando-se passiva, aceitando as argumentações dos outros, e todas as suas iniciativas serão anuladas pelo medo de falhar; ou se tornará maníaca (agressividade patológica dirigida contra os outros), contundente e prepotente, querendo impor-se pela violência dos seus atos e palavras. Tanto maníacos como depressivos não sabem lidar com a força da sua própria agressividade, não conseguem canalizar essa força de modo criativo e positivo.
Como fazer para levantar a autoconfiança, se autovalorizar e aprender a gostar de si mesmo? O passo fundamental é a mudança do autoconceito. Para isso, começa-se sendo bastante realista na própria contagem de gols – não aumentar nem diminuir a qualidade dos próprios fracassos e sucessos.
O segundo passo é descobrir em que áreas se pode atuar com boas probabilidades de êxito e trabalhar nelas. Quase todos nós sabemos fazer muito bem alguma coisa. O problema é que uma pessoa com um nível baixo de auto-estima acredita que todas as atividades onde ela poderia se destacar não têm nenhuma importância. É preciso convencê-la do contrário, mostrar-lhe os valores positivos existentes nesses campos. Se ela conseguir se entusiasmar, certamente fará bem o trabalho.
E, terceiro, entender que o maior prejudicado é sempre o próprio agressivo exaltado. O sentimento agressivo atua no indivíduo inseguro exatamente como uma droga. Ele proporciona, durante o tempo em que se manifesta, uma sensação de plenitude. Trata-se, porém, de uma sensação perversa de plenitude. Da mesma forma que para o drogado quando passa o efeito da droga, o que vem depois para o agressivo é tristeza, desapontamento, sentimento de solidão e a horrível sensação de ser, no mundo, a última das criaturas. ”
Inibidores da agressividade 
Alguns meios sugeridos para inibir a agressividade:
1º) Desenvolver os “vínculos pessoais”. O anonimato estimula as manifestações agressivas estéreis. As amizades sinceras, ao contrário, as inibem. 
2º) Reforçar o entusiasmo pelos valores comuns da humanidade, como a música, a poesia, a ciência, a espiritualidade. Quem vibra com as obras dos grandes artistas, quem investiga com interesse os mistérios da vida e do mundo, quem abriga uma fé sincera terá menos tendência de dirigir sua agressividade contra qualquer pessoa em quem encontre a mesma ressonância. 

3º) Soltar o riso, sem constrangimento, pois ele cria um sentimento de comunhão frateSTais conselhos não objetivam apenas o sucesso pessoal de quem os segue. Na verdade, eles são meios simples de garantir a sobrevivência da humanidade, que um instinto malconduzido, e por isso transformado em violência, ameaça destruir.