Quebre os padrões
Reprograme os conceitos preestabelecidos pelo cérebro por meio de questionamentos e reflexões e busque novos caminhos para expandir a autopercepção
Por Eduardo Shinyashiki
Em maio esteve em cartaz um filme muito interessante para quem gosta de pensar sobre nossa forma de viver. Um método perigoso é dirigido por David Cronenberg e relata a história de como Carl Jung e Sigmund Freud criaram a Psicanálise. Naquele momento, mesmo contra a maioria de seus colegas, eles se basearam em uma nova proposta para identificar a formação das ideias e o desencadeamento dos traumas. Com isso, foram capazes de alterar os caminhos de pessoas dadas como desacreditadas pela sociedade.
Esse sucesso fez com que por muito tempo acreditássemos que as experiências vivenciadas e a forma como enfrentamos as adversidades estavam relacionadas apenas às questões psicológicas. Como se todas as situações enfrentadas na vida estivessem ligadas ao sistema emocional. Porém, encarar a complexidade das situações por esse olhar pode resultar em perdas da nossa qualidade de vida e dos recursos que investimos para nos desenvolver. É necessário ir muito mais adiante para criar formas de se libertar dos padrões comportamentais que acabam se enraizando em cada indivíduo. Assim como na Psicoterapia, em que diversas técnicas são aplicadas para tratar as questões da mente, todas fundamentadas no desenvolvimento humano, para trabalhar o tema no mundo corporativo existem as figuras do coaching e do neurocoaching.
Primeiramente, é importante entender que não existem fórmulas mágicas para crescer, ou seja: não há receitas prontas e cada situação exige uma análise diferenciada e única. De maneira geral, a proposta de trabalho de ambos está fundamentada na busca da amplificação das competências dos indivíduos. No caso do coaching, por exemplo, ele contribui com questionamentos e reflexões que levam a pessoa a rever seu potencial e criar estímulos próprios para seguir um novo caminho. O neurocoachingtem o mesmo objetivo e busca entender como as redes neurais agem na forma de ser e avalia como nossos conflitos se instalam no cérebro. A técnica ajuda a desenvolver estratégias que expandem a autopercepção, levando em conta fatores biológicos.
Vale ressaltar que, quando se participa de dinâmicas de coaching, não se tem acesso direto às respostas buscadas. Ao contrário do que acontece em uma sessão de consultoria, o ponto final é justamente a abertura para um mundo de novidades e portas a serem abertas. E o ponto mais positivo é justamente esse: cada um vai criar caminhos próprios para dar conta de suas demandas.
A REFLEXÃO TRARÁ A OPORTUNIDADE DE REALIZARMOS UM MAPEAMENTO DAS REDES NEURAIS, AJUDANDO A IDENTIFICAR QUAIS OS PONTOS QUE INTERFEREM NA EVOLUÇÃO
Quando alguns profissionais são colocados diante de grandes desafios, seja no momento de assumir um novo projeto ou na hora de tomar uma decisão, eles se deparam com as sensações que se repetem, pois o natural é que inconscientemente o cérebro percorra trajetos já vistos. Para fugir dessas situações é preciso muito mais do que de simples insights. Isso é, não basta que as “fichas caiam”, mas, sim, colher todas elas para conseguir desenhar novos caminhos neurológicos por meio de ações. Quando temos condições de enxergarmos aonde queremos chegar, é possível reprogramarmos conceitos que nos levarão aos novos horizontes.
“Não podemos acrescentar dias à nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos dias.” (Cora Coralina). Esse pensamento traduz perfeitamente a proposta do neurocoaching: colocar intensidade de vida em nosso cotidiano. Todas as ações que realizamos são reflexos daquilo que vivemos dentro de nós. O ponto de partida é a “propriocepção”, palavra criada para designar a capacidade de cada pessoa de se perceber. Somente com o conhecimento das competências e capacidades que temos, é possível traçar um objetivo dentro da realidade, evitando frustrações por conta de propostas impossíveis de se alcançar num movimento rápido e simples.
Imagine o processo de transformação das lagartas. Após uma série de mudanças biológicas, surge uma vida totalmente renovada. Partimos de um inseto que para muitos é sem brilho e às vezes rejeitado pela aparência, para uma colorida e deslumbrante borboleta. Transporte essa ideia para o seu próprio desenvolvimento e pense: como fazer com que os pensamentos sejam transportados da terra por onde a lagarta transita para o céu em que a borboleta usa para encantar o mundo com sua graça?
O processo de metamorfose ocorre na espécie humana, ainda que não tenhamos que fazer um casulo. De modo geral, os indivíduos representam uma somatória de experiências, atitudes e comportamentos. Passado, presente e futuro se misturam numa atmosfera do pensamento, que não opera apenas nos eixos lógicos das dimensões espaço/ tempo. Para conseguir chegar lá, no plano dos sonhos, o primeiro passo é se questionar “quem sou eu hoje?” A reflexão trará a oportunidade de realizarmos um mapeamento das redes neurais, ajudando a identificar quais os pontos que interferem na evolução. Ao estabelecermos objetivos em busca de novas experiências, surge a possibilidade de nos desprendermos de determinados hábitos que, até então, limitavam as ações realizadas, permitindo que voos mais altos sejam feitos.