Por que repetimos os mesmos erros durante a vida?
- Alô. - Preciso de sua ajuda. Desta vez, é sério. - disse, afobado, como se das outras vezes que me ligou pedindo ajuda também não fosse séria a encrenca em que se metera. - Então comece do começo - disse eu - e fale devagar. - Na verdade, é pouca coisa. Nada que vá tirar seu sono por muito tempo. Achei interessante o "por muito tempo". Significava que no mínimo eu perderia o sono por algum tempo, como já havia acontecido antes. Eu precisava ter paciência com ele. O Lino é um jovem que costuma ser alegre como uma criança, otimista como um adolescente e, às vezes, ranzinza como um velho. O que lhe falta são os traços da maturidade, coisas como responsabilidade, segurança, tranquilidade.
Costuma repetir erros com uma frequência bem acima do aceitável dentro de um processo de crescimento pessoal. Ele está passando dos 40, é inteligente, competente, mas não para muito tempo em um emprego. A alegação costuma ser sempre a mesma: Lino está em busca de novos desafios. Como é muito bom no que faz, acaba se colocando rapidamente, mas vai deixando para trás um currículo recheado de decepções. Naquela manhã, o assunto era mais sério e envolvia dinheiro.
Enquanto o observava, pensei: "Por que esse cabeça dura repete esse comportamento autodestrutivo? Será que ele não aprende nada com cada burrada que comete?" Também me perguntei se a tendência humana de repetir comportamentos, mesmo que eles tragam consequências pouco apreciadas, seria comum a todas as pessoas.
Eu não queria recriminar meu amigo. Eu queria que ele me explicasse - e a si mesmo - por que repetia um modelo de comportamento que, visivelmente, o estava prejudicando.
No fundo, sabia que eu estava agindo errado, pois ao ajudá-lo estava acobertando sua tendência a repetir erros. Naquele momento lembrei-me de uma frase do psicólogo behaviorista John Watson, que ajudou a criar a controvertida corrente da psicologia que afirma que nossas atitudes são condicionadas mais pelas respostas que recebemos do mundo ao nosso redor e menos pela qualidade do nosso pensamento. "Quando ouço uma mãe dizer 'ai, coitadinha!' quando a criança cai, ou dá uma topada no pé, ou quando lhe acontece alguma outra coisa ruim, costumo caminhar uma quadra para me acalmar".
Segundo Watson, ao tentar amenizar a dor com o carinho, a mãe priva a criança de aprender com o próprio sofrimento, um aprendizado que colabora com seu estado de atenção - qualidade importante para não repetir o comportamento que provocou a dor. Na prática, e eu estava fazendo isso com o Lino. Para diminuir minha culpa eu o havia ajudado, mas o intimei para ouvir um sermão. Adiantaria alguma coisa? E será que Lino é um caso isolado?
A experiência pessoal é uma grande fonte de aprendizado. Por que então as pessoas parecem não aprender nada com o que fazem repetidamente? Desde que Pavlov nos explicou a existência dos reflexos condicionados, sabemos que qualquer ser vivo responde positivamente a impulsos agradáveis e procura afastar-se instantaneamente dos fenômenos que o fazem sofrer. Tentar entender por que repetimos comportamentos inconvenientes exige um esforço maior do que usar os princípios do comportamentalismo. Precisaríamos entender as diferenças de percepção e de valores entre as pessoas.
Lembro de um treinamento do qual participei, em que o instrutor fez um exercício curioso. Cada pessoa recebeu determinado número de palitos de fósforo e foi orientada a criar com eles um quadrado grande com nove quadrados menores em seu interior. A seguir, o desafio: mexendo apenas três palitos, deveríamos transformar essa figura em três quadrados.
Há uma lógica na solução dessa tarefa, mas o instrutor queria que usássemos apenas a percepção dos sinais externos. Eu tinha que tocar um palito e observar o que acontecia. Se não acontecesse nada, o palito estava errado. Quando tocava o palito certo, ouviam-se aplausos, indicando que o caminho era esse.
Resolver a charada dessa forma era mais fácil e rápido do que entender a lógica da solução. Bastava ouvir. Mesmo assim, vários participantes não conseguiam resolver. Tocavam várias vezes nos palitos errados, agindo de maneira aleatória e até um pouco desesperada. À medida que o tempo passava e o nervosismo aumentava, a possibilidade de resolver pela percepção diminuía.
O resultado que ficou daquele exercício foi a reflexão sobre a tendência que os humanos têm de não "ler" os "sinais do Universo", para usar as mesmas expressões do instrutor. Isso acontece porque tentamos encontrar a resposta, ou a explicação, no lugar errado. Às vezes, quando temos apenas de observar, tentamos racionalizar. Outras vezes fazemos ao contrário. Por quê? Responda corretamente e você se candidatará a um prêmio da academia de psicologia. É claro que essa predisposição é bastante variável entre as pessoas, como ficou provado pela diferença de tempo de resposta entre os participantes. Mas que todos nós temos um delay entre o acontecimento e o aprendizado, não há dúvida.
Então, muita calma nessa hora. Sem julgar ninguém, muito menos a si mesmo, o que de melhor podemos fazer é continuar na luta pelo aprendizado diário. E aprender com os erros é um caminho. Não o único, mas é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. O problema que resta (sempre há mais um) é discutir o que é certo ou errado. Meu amigo Lino nunca se convenceu de que ele cometia irresponsabilidades. Em sua opinião, estava apenas "curtindo a vida".