Casos de reinfecção por CORONAVÍRUS, é possivél?
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A técnica de enfermagem do SAMU Neila Alves da Silva, 50 anos, de Jataí, em Goiás, testou positivo para o novo coronavírus em maio. Os sintomas foram leves, e ela, antes de voltar ao trabalho, refez os testes e constatou que estava curada. Trinta e dois dias depois, no entanto, se sentiu mal e repetiu o teste: positivo novamente

Neila testou duas vezes positivo para o novo coronavírus (Foto: Arquivo pessoal)
Trabalho dentro de uma ambulância na minha cidade, Jataí, em Goiás, e este ano completo 10 anos na área de enfermagem. Sinto-me realizada em poder ajudar as pessoas e amenizar suas dores. Para nós, que atuamos no SAMU resgatando e salvando vidas, a cada dia é uma nova experiência e um novo aprendizado. Temos que estar preparados para todo tipo de ocorrência. Pode ser um acidente sem grandes complicações ou um politrauma. Também trabalho em UTI e lido, na maioria das vezes, com pacientes entubados que dependem 100% dos nossos cuidados. Atualmente, estou na luta diária contra o novo coronavírus.
Nestes últimos meses, nossa rotina mudou muito. Temos transportado várias pessoas com casos confirmados e de Covid, além dos diagnósticos não confirmados. Na UTI, já perdemos muitos pacientes para o novo coronavírus. Medo, aflição, desespero. Rola tudo isso ao mesmo tempo, não só para os pacientes e suas famílias, como para nós da área médica também. Lembramos, a todo instante, de nossa gente que ficou em casa, da visita ao nosso ente querido que não foi feita, do abraço que deixamos de dar. São inúmeros questionamentos que nos vem à mente em momentos como que estamos vivendo.
No dia 25 de maio, comecei a sentir uma leve dor nas costas, um pouco de tosse e dor de cabeça. Como trabalho no hospital, lá mesmo fiz o teste. Estava indo cuidar de uma paciente na UTI, em um turno que duraria 12 horas, depois de cumprir outro também de 12 horas no SAMU, quando recebi o resultado: positivo. Fui afastada do trabalho e fiquei em casa de quarentena por sete dias -- já estava havia sete dias em casa, esperando o parecer do exame -- , com sintomas leves.
No dia 02 de junho retornei ao trabalho. Antes de assumir meu posto, fiz um exame laboratorial e uma tomografia. Como meu pulmão já estava limpo e o teste deu negativo, voltei a trabalhar normalmente atendendo no SAMU e na UTI.
Trinta e dias depois, os sintomas voltaram e repeti o exame de sangue: estava, de novo, com o novo coronavírus. Havia positivado um mês antes, cumprido toda a quarentena em casa, como poderia testar positivo outra vez? Nem o médico, o mesmo que havia cuidado de mim antes, tinha explicação para o meu caso. Para descartar qualquer engano, fiz também o swab, que analisa amostras da nasofaringe. E lá estava eu de novo de quarentena, por mais 14 dias.
Os sintomas, da segunda vez, foram bem mais intensos. Perdi o paladar e, em seguida, o olfato. Tive muita dor no peito, cefaleia, febre alta, náuseas, inapetência e tremores por todo corpo. E, diferentemente da primeira vez, bateu um medo de morrer danado. Me sentia bem e, no instante seguinte, meu corpo era tomado por uma baita fraqueza. No quarto dia de quarentena, senti muito desconforto respiratório e, com medo, retornei ao médico. Mas, por sorte, não tive a necessidade de suporte de oxigênio nem de internação.
No hospital em que trabalho, a maioria testou positivo. Mesmo com cuidados redobrados: usamos gorro, máscara, luvas, capote, óculos, tripé, álcool gel o tempo todo e lavamos as mãos inúmeras vezes. Não tivemos óbitos, mas alguns funcionários precisaram ser internados e intubados para ter suporte de oxigênio.
Por sorte, voltei ao trabalho e a vida, ao normal. Mas o susto foi grande. Por isso, não me canso de repetir o quanto essa doença é perigosa. Só quem está na linha de frente (ou perdeu gente querida) é capaz de entender o quão difícil é este momento.”
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NEILA ALVES DA SILVA EM DEPOIMENTO A KIZZY BORTOLO
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COLABORAÇÃO PARA A REVISTA MARIE CLAIRE
23 JUL 2020 - 06H03 “
Possível caso de reinfecção de coronavírus na Grande BH ,é investigado pelos órgãos de Saúde.
O Técnico de enfermagem de 22 anos testou positivo para a Covid-19 em abril, voltou ao trabalho após teste negativo em maio, e depois morreu com a doença confirmada de novo.
Por Laura Marques e Jader Xavier*, CBN — Belo Horizonte
O secretário adjunto de Saúde de Minas Gerais, Marcelo Cabral, informou, nesta sexta-feira , que o Governo do Estado está investigando um possível caso de reinfecção por coronavírus.
O técnico em enfermagem Libério Tadeu Fonseca, de 22 anos, morava em Itatiaiuçu, a 72 km de Belo Horizonte e foi diagnosticado com covid-19 em abril. Ele cumpriu o isolamento social e retornou ao trabalho. No mês seguinte, Libério realizou um novo teste, mas o resultado foi negativo.
Comprovação
Porém, em junho, Libério passou a apresentar sintomas graves da covid-19, e acabou falecendo na última segunda feira (6 de julho), em Itaúna, a 76 km da capital mineira. Um novo exame apontou a causa da morte como "complicações por covid-19".
O secretário adjunto de Saúde de Minas Gerais, Marcelo Cabral, destacou, em entrevista coletiva, que não há comprovação científica se pode haver, de fato, uma reinfecção.
— Nós não estamos lidando com uma ciência exata, A ciência tem a característica da investigação. É natural que haja alguns destes questionamentos.