O viés de impacto: como a imaginação cria monstros!
Um viés cognitivo é um erro em que nosso cérebro incorre ao processar a informação. Este erro se deve ao fato de que, inconscientemente, tomamos atalhos com base em conhecimento ou experiências adquiridas. O problema é que esses atalhos nem sempre nos levam a conclusões corretas, isto é, nem sempre significam uma economia real de energia e tempo.
O viés de impacto é um erro no processamento da informação que leva à suposição de que as situações negativas serão muito piores do que realmente são. Ou que as positivas serão melhores do que acabam sendo. Em outras palavras, pensar nas situações futuras imaginando que elas podem exigir mais recursos do que temos, quando na realidade não é assim.
Entretanto, a ideia que permaneceu no inconsciente coletivo (a figura do dentista como torturador) pode fazer com que o paciente se imagine sofrendo por muito tempo. No entanto, quando realmente acontece, é provável que o negativo que foi imaginado realmente ocorra. Nesse caso, ocorreu um viés de impacto.
“O futuro é algo que todos alcançam a uma taxa de sessenta minutos por hora, independentemente do que façam e de quem sejam”.
-Clive Staples Lewis-
O viés de impacto e a consciência
Essas previsões do futuro que realizamos muitas vezes não são confiáveis, precisamente devido ao viés de impacto. As pessoas tendem a superestimar a reação emocional que teremos diante de eventos futuros, tanto no sentido positivo quanto no negativo.
Tudo isso escapa à consciência, porque nas projeções futuras que realizamos, o componente emocional influencia mais do que o produto da lógica. Quando olhamos para o futuro, nossos medos, inseguranças ou fantasias superam nossa capacidade de avaliar as variáveis e fazer previsões confiáveis.
De fato, não apenas imaginamos que as situações negativas serão piores ou as positivas melhores do que realmente acabam sendo, mas também assumimos que a duração delas será maior. Por exemplo, muitos acreditam que, se ganharmos na loteria, teremos uma vida inteira de plenitude. Na prática, aqueles que têm essa fortuna deixam de vê-la como algo excepcional, não muito depois de terem sido premiados com o golpe de sorte.

O futuro e ansiedade
No centro da ansiedade sempre há uma expectativa negativa sobre o futuro. Grande parte da ansiedade é desencadeada porque esperamos que algo dê errado a curto, médio ou longo prazo. Essa é precisamente a raiz de uma preocupação: uma projeção negativa em relação ao que vai acontecer. Essa perspectiva planta uma semente de inquietação em nós.
Pensar no futuro nos leva facilmente à chamada “ruminação mental“. Um retorno constante da mesma ideia, imaginando possíveis resultados ou visualizando caminhos diferentes, sem que isso leve à ação. Trata-se de um exercício mecânico de pensar “o que vai acontecer se”…
Isso é algo muito diferente da previsão. Na previsão, esperamos a possibilidade de que ocorram certas eventualidades e tomamos medidas a esse respeito. Nos protegemos ou tomamos medidas para neutralizar as ameaças. Também tentamos estar prontos para as boas oportunidades. Agimos em função de uma probabilidade real. A chave é essa: nós agimos, ao invés de ficarmos pensando.

A imaginação cria monstros
Foi o grande pintor Francisco de Goya y Lucientes quem fez uma pintura marcante intitulada O Sono da Razão Produz Monstros. Na imagem, uma pessoa é vista encolhida e cercada por seres fantasmagóricos e ameaçadores. A imagem diz tudo e corresponde a algo que a psicologia detectou muito depois da pintura ser feita.
É basicamente o que acontece no viés de impacto, particularmente em face de previsões negativas. Se uma pessoa cai na armadilha de pensar obsessivamente nos eventos negativos ou nos sofrimentos que possam ocorrer no futuro, no final acabará carregando uma dor extra que é estranha à própria situação.
Falamos de um sofrimento gerado por si mesmo em si mesmo, na maioria das vezes de maneira automática. O futuro nos assusta, de certa forma, porque é desconhecido. Também porque a morte está no horizonte.
Se nos concentrarmos no futuro e nas possibilidades dolorosas que nele habitam, o mais provável é que terminemos vivendo com uma quantidade insuportável de fantasmas.
O viés de impacto faz com que inundemos todas as nossas expectativas com uma fragrância trágica: um hábito que nos desgasta muito. Por isso, sempre é melhor olhar para a frente, tendo em mente não tanto o que vai acontecer, mas a nossa capacidade para enfrentar os acontecimentos.
O que você sabe sobre os vieses cognitivos? Nós tomamos muitas decisões em nosso dia a dia. A maioria delas rapidamente, quase sem pensar. A verdade é que raramente avaliamos as consequências que cada uma das opções que temos em mente implicaria, no caso de escolhê-las como uma solução.
Em outras ocasiões, especialmente quando acreditamos que as decisões são importantes, avaliamos as informações que temos para encontrar a melhor opção. No entanto, algo que dificilmente levamos em consideração ao tomar decisões são os vieses cognitivos que influenciam as soluções que nós imaginamos e damos. Esses vieses são perigosos na medida em que podem nos levar a tomar decisões pouco realistas.
No entanto, os vieses cognitivos e as heurísticas não são ruins.Poderíamos dizer que são espécies de atalhos mentais (um tanto traiçoeiros às vezes). Nesse sentido, dizemos que são atalhos porque os usamos para economizar recursos cognitivos (energia mental).
Por exemplo, se toda vez que eu for a um bar, perder meia hora pensando em qual bebida será a mais apropriada, avaliando cada um dos seus componentes separadamente e em conjunto, acabarei cansando e desperdiçando o tempo que eu poderia investir em outras questões. Portanto, as heurísticas e os vieses cognitivos tornarão o nosso pensamento mais rápido, economizando recursos que usaremos em outras tarefas mais importantes.
Duas formas de pensar
De acordo com Daniel Kahneman, existem duas formas de pensar. Este autor coloca as duas formas de pensamento em dois sistemas que ele chama de “pensar rápido” e “pensar lentamente”. O primeiro sistema, pelo qual pensamos rápido, é automático. Este sistema geralmente opera abaixo do nosso nível de consciência. As emoções influenciam muito esse tipo de pensamento e, muitas vezes, levam a pensamentos estereotipados. A sua função é gerar intuições que podem nos ajudar, mas também nos trair.
O segundo sistema corresponde ao pensamento lento. Esse tipo de pensamento é menos frequente e exige mais esforço. Este pensamento ocorre de forma consciente, em oposição ao pensamento rápido, lógico e calculista. A sua principal função é tomar as decisões finais, depois de observar e controlar as intuições do pensamento rápido.
O primeiro sistema tende a ser mais dominante. Por oposição, o segundo sistema tende a ser mais preguiçoso. Normalmente, nos deixamos guiar pelo pensamento rápido. Uma tendência que pode ter repercussões negativas, como chegar a conclusões precipitadas, exagerar o efeito das primeiras impressões, confundir as relações com a causalidade e confiar excessivamente nos dados que já conhecemos (sem levar em consideração outros dados também disponíveis).
Heurísticas do pensamento
Uma heurística é considerada um atalho para processos mentais ativos e, portanto, é uma medida que economiza os recursos mentais. Uma vez que nossa capacidade cognitiva (mental) é limitada, repartimos os recursos, dedicando uma quantidade maior a esses elementos que precisam de um trabalho mental maior como as preocupações, atividades, pessoas, etc.
Nós podemos caminhar sem prestar atenção, mas se o caminho é acidentado e acreditamos que poderemos tropeçar e cair, lhe atribuiremos mais recursos cognitivos, atenção e olhamos onde pisamos. Entre as heurísticas existentes, algumas das mais importantes são:
- Heurística de disponibilidade: é usada para estimar a probabilidade da ocorrência de um evento, pois confiamos nas informações anteriores que temos. As pessoas que assistem muita televisão, dada a grande quantidade de violência que aparece, acreditam que são cometidos muitos mais crimes violentos do que as pessoas que veem menos televisão.
- Heurística de simulação: é a tendência das pessoas de estimar a probabilidade de um evento com base na facilidade com que podem imaginá-lo. Se é mais fácil de imaginar, é mais provável que aconteça. Quando há um atentado, é mais fácil pensarmos que foi cometido por jihadistas do que por grupos que atacam com menos frequência ou cujo modo de agir seja diferente.
- Heurística de ancoragem: usada para esclarecer incertezas, tomando como referência um ponto de partida, a âncora, que depois ajustamos para chegar à conclusão final. Se o meu time venceu o campeonato no ano passado, pensarei que é mais provável que ganhe novamente neste ano, embora em toda a sua história tenha ganhado apenas uma vez.
- Heurística de representatividade: inferência sobre a probabilidade de que um estímulo (pessoa, ação, evento) pertença a uma determinada categoria. Se um indivíduo tem sido um bom estudante das disciplinas científicas e o encontrarmos daqui alguns anos vestindo um jaleco branco, imaginaremos que ele é um cientista, não um açougueiro. Mas, na realidade, não temos certeza.

Vieses cognitivos
Os vieses cognitivos são efeitos psicológicos que distorcem os pensamentos. Assim como as heurísticas, os vieses têm a função de economizar os recursos cognitivos. Embora eles possam nos levar a erros que podem ser graves, em certos contextos nos levam a tomar decisões mais rápidas e mais eficazes. Alguns dos vieses cognitivos mais conhecidos são os seguintes:
- Viés de confirmação: a tendência de investigar ou interpretar informações que confirmem as ideias preconcebidas. Se investirmos no mercado de ações, buscaremos opiniões na imprensa, nos blogs e fóruns que confirmem as nossas ideias de investimento, ignorando os comentários contrários. Da mesma forma, se comprarmos um carro, procuraremos os artigos que destaquem as suas características positivas, obtendo assim um reforço para a nossa decisão.
- Viés do falso consenso: é a tendência de acreditar que as próprias opiniões, crenças, valores e hábitos são mais difundidos entre o restante da população do que realmente são. Se eu sou contra a pena de morte, acredito que a maioria das pessoas no meu país também pensam como eu.
- O viés de correspondência: mais conhecido como erro fundamental de atribuição. É a tendência de colocar ênfase excessiva nas explicações, comportamentos ou experiências pessoais das outras pessoas. Se um colega desiste de um teste que ambos fizeram para um determinado curso, você provavelmente dirá que ele é preguiçoso e não está interessado em estudar.
- Viés de retrospectiva ou a posteriori: é a inclinação para ver os eventos já passados como previsíveis. Quando despedem um colega de trabalho, dizemos que já sabíamos o que aconteceria porque a empresa não estava em um bom momento. No entanto, antes dele ser demitido, não teríamos previsto.
Conhecer os vieses cognitivos e as heurísticas nos tornará mais eficientes para tomar decisões. Embora sejam difíceis de evitar, impossível às vezes, os vieses de pensamento podem ser reduzidos a partir do conhecimento de como eles operam. Avaliar todas as alternativas e procurar informações que apoiem e que contradigam as nossas crenças iniciais é uma forma de reduzi-los. Além disso, evitar os vieses pode tornar o nosso pensamento muito mais criativo.
FONTE: A MENTE É MARAVILHOSA


