O Tarô como ferramenta da Psicologia Arquetípica

26/04/2021 22:31

 

Tarot: um meio para acessar os conteúdos do  inconsciente
 

 

O Tarô tem sido revisto como oráculo desde os estudos de Carl Gustav Jung, que o utilizou em seu estudo sobre sincronicidades e o inconsciente coletivo. A publicação em 1980 do livro "Jung e o Tarô: Uma Jornada Arquetípica" de Sallie Nichols, deu ainda novo enfoque a esta abordagem. Mas as teorias da Psicologia Arquetípica de James Hillman é que podem dar um novo e refrescado sentido ao Tarô.  Afinal, se esta linha acredita que a psique é construída, no fundo, através de uma "pluralidade de arquétipos", que melhor ferramenta do que o Tarô para tratar de descobrí-los?

 

“Meu trabalho se dirige a uma psicologia da alma baseada em uma psicologia da imagem. Estou sugerindo uma base poética da mente e uma psicologia que não começa na fisiologia do cérebro, nem na estrutura da linguagem, nem na organização da sociedade, nem na análise do comportamento, mas dos processos da imaginação”. 
 
- James Hillman
 
O que é a Psicologia Arquetípica, segundo o Wikipedia

A psicologia arquetípica é parte da Psicologia Analítica e se relaciona com a teoria de Carl G. Jung, mas se diferencia radicalmente dela em alguns aspectos. Enquanto a Psicologia Analítica foca na ideia de Self, sua dinâmica e sua relação com os outros elementos da psique, como o Ego e a Sombra, a Psicologia Arquetípica relativiza esses conceitos e foca na Alma, no archai, o padrão mais profundo de funcionamento psíquico, como um padrão fundamental de fantasias que fazem parte da vida.

 
A Psicologia Arquetípica é uma psicologia que busca reconhecer a fantasia e o mito como produtos e produtores da vida psicológica. Para ilustrar as múltiplas personificações da psique, Hillman fazia referência a deusessemideuses e outras figuras mitológicas referidas como placas de som que ecoam as pequenas melodias da vida cotidiana,apesar de insistir que essas figuras não devem ser usadas como uma "matriz principal" para comparar ou diminuir a riqueza simbólica da atualidade.
 
 
 
Tarô Mitológico: mitos gregos como alegoria dos Arcanos do Tarô

 

Psique ou alma


Hillman foi crítico acerca da psicologia do século 20 (e.g. psicologia comportamental) que adotava uma filosofia e uma prática de ciência natural. As principais críticas citam que essas abordagens são reducionistas e materialistas, sendo psicologias sem a "psique" ou alma.[9] De forma consoante, o trabalho de Hillman visava restaurar a psique no que ele acreditava ser seu "devido lugar" na psicologia. Ele vê a alma através do trabalho com a imaginação, a fantasia, o mito e a metáforaEle também acreditava que a alma se releva na psicopatologia, nos sintomas das desordens psicológicas. Psique-pathos-logos são os discursos da alma que sofre. Grande parte dos trabalhos de Hillman visavam revelar o discurso da alma presente em imagens e fantasias.
 

 

Como o tarô pode conversar com a Psicologia Arquetípica?

 
Tarô: o espelho da alma
 
 
“Não é verdade que tenhamos ideias; ao contrário, as ideias têm a nósDevemos saber quais são as ideias, quais são os deuses que nos governam para controlar a sua influência sobre os nossos pontos de vista e nossas vidas”. 
 
- Patrick Harpur, em sua obra ‘O Fogo Secreto dos Filósofos’
 
Cada um dos 78 arcanos é uma imagem simbólica que expressa o conteúdo de um arquétipo. Como a Psicologia Arquetípica se ocupa de temas como fantasia, mito e imagem, as cartas do tarot representam, pois, o aspecto simbólico profundo das nossas vivências buscado por esta linha terapêutica.
 
Os elementos que regem, por exemplo, os Arcanos Menores, estão por detrás das nossas sensações, sentimentos, intuições e pensamentos presentes numa ação ou conjunto de vivências. Cada arcano, conforme o naipe, revela que função da consciência está mais presente na questão tratada, bem como a forma como encaramos esta questão.
 



Cada naipe do tarot está relacionado a uma das 4 funções básicas
 da consciência reconhecidas pela psicologia junguiana: 
Paus = Intuição, Espadas = Pensamento, 
Copas = Sentimentos e Ouros = Sensação 
 

Já os Arcanos Maiores são verdadeiros enigmas, assim como é a vida humana. Eles representam o plano das ideias e conceitos abstratos e revelam tanto os grandes momentos e fases de vida quanto as lições espirituais que precisamos aprender.

Por exemplo, o arcano VII, O Carro, representa a nossa capacidade de seguir adiante, ter foco e nos jogarmos com coragem nos desafios da vida. O Arcano XX, o Julgamento, trata da nossa redenção às forças maiores e elevação espiritual e assim por diante. São Arquétipos de desígnios, impregnados de vastos símbolos universais, presentes em todas as culturas através dos tempos.
 
Da combinação das cartas cria-se um quadro que revela todas as possibilidades arquetípicas da existência e evolução humanas em suas mais diversas expressões, como um imenso “dicionário simbólico”.
 
 

 
 
Só para se ter ideia da dimensão destas possibilidades, é bom lembrar que em um simples jogo de 2 cartas, há 6.006 respostas possíveis (78 x 77), e, em um jogo de 3 cartas, são 456.456 possibilidades (78 x 77 x 76). Já o jogo clássico da Cruz Celta permite um total de… 4.566.176.969.818.460.000 resultados! Sim, 4 quintilhões de resultados. Isso tudo sem usar cartas revertidas. Com cartas revertidas, o jogo celta possibilita um número 1024 vezes maior de resultados. 
 

O tarô, porém, não pertence à linha da psicologia.


Uma leitura de tarô terapêutico, que seria a proposta dentro de uma Psicologia Arquetípica, não visa curar traumas, aliviar dores emocionais ou tratar psicopatologias. O seu foco estaria em aumentar a consciência dos padrões inconscientes, entender o emaranhado sistêmico em que se está e esclarecer até mesmo que influências estão afetando o processo evolutivo da pessoa.
 
Pertencente à linha da fenomenologia (assim como as Constelações Sistêmicas, Telas Mentais, etc), o objeto do tarô terapêutico é o inconsciente pessoal e coletivo.  Investigados através da interpretação das imagens arquetípicas espelhadas pelas cartas do Tarô, o cliente, apoiado pelo tarotista ou taroterapeuta, começa a compreender melhor quem é, o seu modus operandi, a verdadeira situação em que está e que caminhos tem à disposição para sair de situações de crise.
 
 
Os Arquétipos do Tarô fazem parte da jornada do ser através dos tempos

 
 
Outra diferença fundamental de uma terapia convencional é que o Tarô Terapêutico não se atém apenas às questões práticas da vida. Por encarar assuntos como o karma, a reencarnação e a influência de outros planos de consciência e energias, os temas transcendem aos abordados numa psicoterapia

Atuando no entendimento de seu psiquismo profundo, ele pode revelar até mesmo a ligação de traumas antigos e kármicos ligados a problemas anteriores ao nascimento.