O Medo!

Nas viagens, nos amores e em novos projetos, sabe quem sempre me acompanha? O medo. Ele é um instinto primitivo de garantia de sobrevivência, cabe a você readaptá-lo para não se auto sabotar em suas escolhas e planos. Antes de cair naquela máxima, de que os corajosos são os que tem mais medo, assumir esse sentimento que é vilão para muitos , é um grande passo rumo ao entendimento da nossa condição humana. Somos orientados desde pequenos a estarmos seguros, uns honraram mais essas regras, outros menos. Os pais tem a função de colocar nem que seja uma certa dúvida, para que os filhos não se envolvam em ações perigosas. Até aí tudo bem, mas alguns anos depois na vida adulta, o que ocorre é exatamente o oposto, o medo não nos gera vida e sim perda de vida, aí o jogo vira meu caro. Se continuarmos nesse padrão barato de se esquivar de coisas sem garantias, e projetos que podem não vingar, o maldito vai sugando nossas energias.
A parte mais nociva desse argumento a favor dos sujeitos que se permitem sentir a existência na pele, é o medo de conseguir o que deseja, que vem disfarçado de acomodação e conformismo. De repente o brilho nos olhos vai se apagando, e a superfície vai ficando rasa, ao meu ver, quem busca sentido busca sentir aquela emoção criada sob medida, a partir daí você já pode curtir a paisagem que te cerca, como já dizia Cartola: "Deixe me ir preciso andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar", e a graça é exatamente esse ato de abandonar as certezas que oprimem rumo as incertezas que libertam, nascer de novo quantas vezes for preciso. Olho em minha volta e vejo pessoas constantemente esperando pelo dia em que trocarão de emprego, ganharão um bom salário, possuirão o casamento dos sonhos e a dádiva da maternidade ou paternidade, mas enquanto isso continuam imersos em situações que não trazem o mínimo de alegria, pois tentar por outros caminhos realmente parece ameaçador, já que implica em perdas certas e ganhos incertos.
Parte II
Quer uma garantia? A sua vida esta passando na janela.
Um tempo depois você começa a se conformar e encontra formas de se desculpar por suas ações previsíveis e intermediadas puramente pela razão, deixando de lado os sentimentos. Como é que você pode vir ao mundo, e não se imergir nessa bagunça de sensações? Alguns continuam vivendo aquela premissa infantil de segurança e apoio, mesmo que quando crescemos, vemos que precisamos exatamente do contrário se quisermos ser mais do que consumidores de oxigênio terrestre. Não quero recriminar ninguém, pretendo apenas despertar, visto que também somos feitos de arrependimentos, por isso me dirijo aos que já acordaram para refletir sobre esses mistérios que nos cercam e aprenderam a lidar com a dúvida. Sempre existe uma desistência, e um recomeço que trás vida, basta identificar o que precisa ser mudado. É tudo uma questão de perspectiva, alguns pensam quanto tempo perderam, outros como esse tempo pode conduzi-los para um lugar que agora podem chamar de seu.
O senso comum diz que os olhos são as janelas da alma, penso que o brilho dos olhos é um refletor que nos coloca na estrada, e vai iluminando os nossos caminhos. Quando fazemos o que gostamos, a paisagem vai ganhando um colorido especial e aí você nem sente a demora para chegar onde quer e nem precisa ficar perguntando se está perto de chegar feito aquelas crianças, vai começando a curtir os cheiros, as cores, a natureza, a amplitude do horizonte, as montanhas, o barulho dos carros maiores passando e ecoando no vazio, sem falar do vento que bate, e vai bagunçando a alma e os cabelos. Se eu tiver de ver minha vida passar de alguma janela, vai ser a do meu carro, pois quero estar sempre em movimento. Desde o dia que entendi essa busca insaciável para estar próximo de algo que nem sabemos o que é , percebi que quanto mais nos aproximamos, o incerto vai virando tão certo!
Não quero gabaritos existenciais, pretendo apenas remar rumo ao infinito bagunçando as certezas enlatadas. Abri as persianas para clarear o interior e vou apreciando a paisagem de maneira consciente, pois agora aprendi que enxergar o que vem de fora, não implica em perder de vista o que vem de dentro.
Escrevo minhas angústias, e acalmo minha pressa de chegar, visto que cada papel preenchido, já vai me levando a um lugar , que parece ser a minha casa.
Obrigada!