O amor líquido

02/09/2015 13:08
cuidardoser |
 
 

.... é a transformação dos homens em mercadorias, é a solidão de uma sociedade individualista que busca relacionar-se, mas sem se envolver, como se as pessoas fossem descartáveis. A insegurança impede que raízes sejam fincadas, que o produto acabado transforme-se em produto construído, que alguém esteja dentro de mim. No máximo o que são permitidos são os "relacionamentos de bolso", os quais você guarda no bolso de modo a poder lançar mãos deles quando for preciso.
Amar significa perder tempo, ter dor de cabeça, estar pronto a arriscar, pois nada é um produto acabado, mas antes uma construção perene. É impossível saber se está certo ou errado, pois ainda não se chegou ao fim do caminho. E amar é investir na semeadura, mesmo antes de saber se os frutos nascerão. É preciso esforça-se numa relação, estar pronto em alguns momentos a abdicar do seu eu, colocar-se no lugar do outro, o que em
"Uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista."
Vivemos numa sociedade hedonista, em que tudo que retarda a satisfação é visto de forma inadequada, e o amor, o qual precisa de tempo, encontra-se nessa inadequação. Dessa forma, os relacionamentos de bolso escondem a insegurança e o medo das pessoas se envolverem, assim como a incapacidade de saírem da zona de conforto e perder tempo com algo. Queremos um amor que nos satisfaça e que por algum momento nos afaste a solidão, mas não queremos ter o trabalho de nem por um momento ter um peso que nos impeça de flutuar, afinal,
"Vivemos em tempos líquidos. Nada é para durar."
O amor é feito pelos amantes a todo o momento, é um ato criativo que apenas no envolvimento dos amantes é capaz de se manifestar. É apenas para os corajosos, que não têm medo de se arriscar e que sabem que há mágicas que apenas o inesperado possui. Assim,
"Não é ansiado por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas o estímulo a participar da gênese dessas coisas. O amor é afim à transcendência; não é senão outro nome para o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim de uma criação nunca é certo."