Fácil encontrar ex-maridos e ex-esposas que viveram juntos por dez anos e estão separados há 20. Separados? Ou ainda se relacionando de outro modo? Se há filhos, a outrarelação fica evidente, mas mesmo sem filhos ainda vivemos todos no mesmo barco.
A relação de ex é tão ou mais importante que qualquer outra. Se não for bem direcionada, pode nos fazer sofrer, trazer obstáculos. Durante um retiro sobre relacionamentos lúcidos, lembro do lama Padma Samten dizendo algo assim: nós fazemos uma grande preparação para o casamento, mas deveríamos igualmente dedicar todo aquele amor, atenção, energia e cuidado ao processo de divórcio.
Muitas vezes guardamos nosso pior para o fim, levantamos as brigas mais desumanas, dizemos coisas como se nunca mais fôssemos encontrar a pessoa por aí, tentamos nos livrar do outro o quanto antes (supondo que assim nos livraremos de nossa própria incapacidade de viver melhor). Ignoramos o bom senso: as relações sempre seguem em diferentes âmbitos, elas nunca acabam, mesmo quando alguém morre - e aqui não me refiro a espíritos, mas ao simples fato de que continuamos vinculados a todos e tudo o que surge em nossa mente.
Portanto, o melhor a fazer é pacificar a relação, deixar o mínimo possível de culpas e mágoas, resolver tudo o que dá e se propor a seguir resolvendo. Realmente liberar o outro e desejar sua felicidade - amá-lo, enfim. Esse processo nunca acaba, é um trabalho contínuo, igual com a relação atual. Aliás, todas as relações são atuais - não pense que elas ficam para trás.
Em vez de apenas terminar, podemos nos dedicar a construir positivamente arelação nascente. Dá até para oferecer uma festa de descasamento para celebrar os novos tempos, como fizeram Karen Elson e Jack White e, muito antes, Yolanda Penteado e Ciccillo Matarazzo.
Por abrir a visão do outro como um ser livre, tal pacificação pode nos surpreender. Conto, aqui, uma história real. A relação estava em declínio, muitos problemas e brigas, então o casal decidiu se separar. O processo foi longo e cansativo, até que enfim eles saíram do cartório oficialmente divorciados, exaustos mas aliviados, com quase tudo resolvido. E decidiram tomar um café. Pouco antes de pagarem a conta já estavam namorando.