Inteligência ou Inteligências?

08/01/2019 20:42
Inteligência ou Inteligências?

O ser humano, fazendo uso de diversas potencialidades, vem
construindo a história da humanidade e gerando desenvolvimento em todas as
áreas do conhecimento. São suas potencialidades físicas, cognitivas, sociais,
dentre outras, com origem em processos mentais ou psicológicos, que
possibilitam tal desempenho. A psicologia, enquanto ciência humana estuda a
mente, o comportamento das pessoas e se apoia na compreensão de
categorias como sensação, percepção, atenção, inteligência, memória,
linguagem, aprendizagem e emoção.

É a partir desses processos psicológicos básicos que o ser humano
consegue interagir consigo mesmo e com os outros. Estes são organizados
segundo Levi Vigotsky em dois tipos de funções mentais: as inferiores e as
superiores. São considerados processos psicológicos elementares ou inferiores
aqueles que têm um caráter mais biológico, ou seja, têm um padrão que se
repete e que se apresenta de forma orgânica tanto nos seres humanos como
nos animais. São exemplos de funções mentais inferiores a sensação e a
percepção.

São considerados processos psicológicos superiores, embora não
prescindam do aparato biológico em sua estruturação e desenvolvimento, as
funções ligadas à interação social como linguagem, aprendizagem e a
inteligência. Portanto, estes últimos têm um aspecto de maior variabilidade,
singularidade e se constituem como uma dimensão cultural inerente aos seres
humanos.

Sabemos que há fatores neurológicos, neuronais, fisiológicos ligados à
inteligência, mas o aspecto da interação social nos faz repensar o que, durante
muito tempo fomos levados a acreditar: que existem, dentro do padrão de
normalidade, pessoas que já nascem inteligentes e outras não.

Para Binet & Simon, estudiosos que estruturam os primeiros testes de
inteligência, o Quoeficiente de Inteligência - QI conseguia medir a inteligência  

de uma pessoa. Para eles a inteligência é constituída como um atributo mental que pode ser medido através de um teste, que privilegia apenas a cognição. Mas, se a inteligência, enquanto uma função superior, é influenciada pela interação sujeito-mundo com seus vários estímulos e se cada sujeito é único em sua historicidade e subjetividade, podemos admitir que existem tanto diferentes níveis como diferentes tipos de inteligência. Nessa direção Howard Gardner desenvolveu sua teoria chamada de Inteligências Múltiplas que esclarece a diversidade de atributos da inteligência. "(...) existem evidências persuasivas para a existência de diversas competências intelectuais humanas relativamente autônomas abreviadas daqui em diante como 'inteligências humanas'. Estas são as 'estruturas da mente' do meu título. A exata natureza e extensão de cada 'estrutura' individual não é até o momento satisfatoriamente determinada, nem o número preciso de inteligências foi estabelecido. Parece-me, porém, estar cada vez mais difícil negar a convicção de que há pelo menos algumas inteligências, que estas são relativamente independentes umas das outras e que podem ser modeladas e combinadas numa multiplicidade de maneiras adaptativas por indivíduos e culturas." (GARDNER, 1994, p.7 apud STREHL, 2000, p.1). As sete inteligências destacadas por Gardner (1994) são: Inteligência Linguística Capacidade de criar formas de linguagem. Em todas as sociedades as crianças inventam de modo espontâneo, formas Inteligência Lógico criativas de se comunicar. Elas criam palavras, gestos e sons Matemática novos e até conceitos inimagináveis. Capacidade de racionar de modo lógico, rápido e eficiente, sem muito esforço. Geralmente, é a inteligência mais valorizada. Inteligência Espacial Capacidade de se localizar sem utilizar instrumentos/equipamentos  como bússola ou mapas, utilizando-se apenas dos sinais naturais como estrelas. Ou visualizar imagens na mente em ângulos diferentes. 
Inteligência Musical Capacidade de aprender a tocar diversos instrumentos musicais,
 de reconhecer notas musicais,criar composições. 
Inteligência Corporal-Capacidade de percepção gestáltica (aqui e agora) do corpo
  Inteligência Interpessoal serem desenvolvidas para uma maior adaptação.
Capacidade de autoconhecimento. Acima de tudo, é a habilidade
de perceber suas emoções, seus desejos, suas fragilidades, quais
potencialidades e principalmente, habilidade de utilizá-las de modo
saudável para si mesmo e, consequentemente, com os outros.
Capacidade empática, ou seja, de compreender as intenções,
expectativas e desejos dos outros, mesmo que não sejam
verbalizados e saber utilizar esta compreensão em prol da relação.
É importante notar que essa inteligência terá efetividade se a
inteligência intrapessoal for desenvolvida.

Além destas inteligências, outras são citadas por vários estudiosos. De
modo sucinto, citaremos mais duas: Inteligência Emocional (Daniel Goleman,
1995) e Inteligência Afetiva (Ruth Cavalcante, 1999).

A Inteligência Emocional enfatiza os aspectos biofisiológicos das
emoções e a possibilidade do controle, por parte do sujeito, das manifestações
de suas emoções. São consideradas emoções básicas humanas: raiva, alegria,
tristeza e medo. Todas elas produzidas, segundo as teorias neuropsicológicas
a partir da fisiologia dos órgãos e da produção de substâncias psicoativas
naturais como os hormônios.

Segundo a teoria da Inteligência Emocional é possível desenvolver a
habilidade de controlar as emoções e utilizá-las de modo proveitoso tanto no
ato de aprender como em outros aspectos de sua vida.

A Inteligência Afetiva se coloca como um facilitador do processo de
aprendizagem e da expressão das formas afetivas com o objetivo de formação
de vínculo. Quanto mais se desenvolverem nas pessoas a habilidade de formar
vínculos, mais prazerosos serão os ambientes e as situações que se
apresentarão e os retornos serão mais satisfatórios. 
Especificamente, no ambiente de sala da aula, o clima de confiança e
de cuidado recíproco desbloqueiam as tensões, diminuem o clima de
competição e o medo de errar. Em um clima relaxado, as conexões
neurológicas se dão de forma mais rápida e consistente e o conteúdo é muito
mais facilmente captado pelos alunos.

Mas, você sabe a diferença entre emoção e afetividade? Será que
tem o mesmo significado?

Ao falarmos em inteligência emocional e afetiva, é possível que surja
uma confusão entre significados das palavras emoção e afeto ou até uma
tendência a julgá-las sinônimas. Henri Wallon (1879-1962), estudioso da
afetividade e da emoção nos ajuda a compreender os dois termos e a organizar
algumas características de ambas.

A emoção se refere ao sentimento que se dá de forma fortuita, por
algum acontecimento significativo, esperado ou não e gera sensações
corporais perceptíveis como suores, tremores, palpitações, desmaios,
gagueiras, entre outras. A emoção tem um tempo curto de duração e suas
manifestações em termos de sensações sensoriais e físicas tendem a
desaparecer à medida que o tempo vai passando, como, por exemplo, o medo
em uma situação de perigo, a alegria no encontro com grandes amigos.

PARA SABER MAIS:
Assista ao filme Vida Maria que trará a você uma visão do aprender no sertão
nordestino. Quando falamos em psicologia da aprendizagem apenas vemos o
cotidiano da cidade, porém esta obra artística relata a falta de incentivo dos pais no
aprendizado. Disponível em: https://vimeo.com/42540663

O afeto ou a afetividade, geralmente, é a transformação de alguma emoção. Antes do afeto, há a emoção, algo que nos mobiliza e que nos desperta para estar no presente. É o sentimento que permanece por muito mais tempo, por exemplo, o amor, a amizade, a solidariedade, a compaixão. Estes são sentimentos que podem seguir na vida das pessoas até que estas morram. A afetividade é mais consistente e vai se nutrindo dos fatos, da convivência. Suporta situações adversas e distâncias geográficas. Podemos amar alguém que não nos ame; podemos ser amiga de uma pessoa mesmo que ela esteja em outro continente. Para você entender como se dá a aprendizagem requer compreender que há diversas formas de inteligência e, principalmente que os sujeitos são singulares. Cada um com sua subjetividade, historicidade, carga genética e motivações que influenciam sobre a maneira de seu desempenho escolar e sua vida de um modo geral. Ao buscarmos melhores resultados na aprendizagem precisamos dar atenção a essas teorias e refletir sobre a complexidade e, paradoxalmente, sobre a simplicidade, ambas características inerentes do ato de aprender/ensinar. Atividade de Aprendizagem: Faça uma pesquisa na internet sobre as teorias mais importantes para o processo ensino-aprendizagem. A pesquisa deverá se reportar ao Skinner, Freud, Gardner, Piaget, Wallon e Vigotsky. Objetivando a ampliação de conhecimentos bem como pôr em prática com as inúmeras descobertas de cada autor.