"Incerteza" é uma palavra-chave em nossa vida.

06/08/2012 09:49

 Devemos viver com incerteza e governar nosso navio através dos caminhos perigosos da vida — ou retirar-nos da vida, isolando-nos numa caverna, numa ilusão ou no tédio.
Já que há poucas garantias para tranqüilizar-nos, devemos aprender a dominar esses perigos com o melhor de nossa habilidade, e ainda viver contentemente.
Depois do processo "traumático" de nosso nascimento, vivemos os momentos incertos, de minuto em minuto, de um bebê em quem um sorriso tolerante é seguido de um grito indignado de raiva e um urro de gargalhada — tudo isso no espaço de trinta segundos.
Então vêm as incertezas da infância, em que dependemos de nossos pais, cujos destinos flutuam de acordo com completos fatores econômicos, emocionais e sociológicos, que ainda não conseguimos compreender.
O período de adolescência que se segue é ainda mais incerto. Somos crianças ou adultos — ou que somos nós? Como devemos comportar-nos para com os adultos? Que é essa coisa chamada sexo — é boa ou má, a quem devemos pedir opinião e o que fazer a respeito? Por que meus parentes ainda me tratam como uma criança? Eu já sou crescido — sou mesmo?
A condição de adulto traz consigo novos problemas, novas incertezas. A escolha das vocações, as decisões a serem tomadas sobre casamento e companheira (ou companheiro) de casamento, filhos e atividades sexuais, sobre compromissos comerciais e pontos de vista políticos, proteção de seguros e participação comunal ou não-envolvimento, estratégias de jogo ou não-jogo — eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre os conflitos que um adulto responsável deve enfrentar e as incertezas que cercam suas decisões e as consequências de suas escolhas meditadas.
Os anos de aposentadoria também trazem problemas: ociosidade forçada e, em sua forma mais brutal, o medo da morte.
Durante toda a sua vida muita gente se preocupa com golpes trágicos — o arrimo da família perder seu emprego, um incêndio que destrua um lar, um acidente de automóvel em que um ente amado se torne aleijado — e tais coisas são possibilidades reais com as quais a gente deve aprender a viver sem enfiar a cabeça na areia.
Qual é a resposta a esses dilemas da vida?
Ela é simples, realmente. Mais vida, reafirmação da vida, enquanto houver vida — vida, com a ajuda de uma auto-imagem sadia que lhe dará o sentido de certeza de que você precisa.
Algum dia todos nós morreremos, esta é a lei da vida, imposta por Deus, e nada podemos fazer a respeito. Mas, enquanto vivemos, será que vivemos realmente?
Será que vivemos realmente — ou apenas ocupamos espaço enquanto vamos atravessando os movimentos da vida? Será que apreciamos cada ano, cada mês, cada dia — ou procuramos passivamente suportar os momentos enfadonhos? Será que vemos as árvores, cheiramos as lindas flores, convivemos com nossos amigos, saboreamos nossas costeletas de carneiro, amamos nosso trabalho — ou estamos tão obcecados de preocupações que a vida não pode entrar em nossa mente perturbada?
Como bebês, nascemos com um sorriso que vence o primeiro grito de dor. Enquanto vivemos, devemos viver construtivamente, de modo que, de vez em quando, um sorriso irrompa da dor.
Agora, que dizer das amizades — um dos principais ingredientes de uma vida rica?
Há um ditado que afirma que "o cão é o melhor amigo do homem", mas automaticamente não concordo com ditados bobos como esse. Gosto muito de cachorros, mas, se minhas observações são corretas, um cachorro estará muito longe de ser o seu melhor amigo se você não cuidar dele da maneira pela qual ele está acostumado.
O melhor amigo do homem — o melhor amigo de qualquer homem — é a sua auto-imagem. Se ele se vê como um bom sujeito, está no caminho do contentamento; se ele não se vê assim, causará a sua própria ruína.
John ou Tom ou Alice ou Eleanor podem ser seus amigos — e talvez um deles seja um amigo valioso —, mas o seu melhor amigo é a sua auto-imagem. Outra pessoa pode gostar de você, pode até sair do caminho para ajudá-lo numa crise, mas não pode viver por você. Não pode tomar suas decisões, não pode participar de suas alegrias e desgostos; mais ainda, não pode dar-lhe a capacidade de sucesso ou fracasso, de auto-aceitação ou auto-rejeição.
Sua auto-imagem pode dar-lhe essa capacidade. Pode dar-lhe o sentido da certeza do que você vive. Se você se vê como uma pessoa agradável, se a figura que você faz de si mesmo é satisfatória, você vive com uma forma maravilhosa de certeza: a convicção de que, quando os fatores incontroláveis se virarem contra você e os acontecimentos temporariamente se opuserem a seus desejos, você conseguirá sustentar-se.
Haverá sempre momentos de adversidade atingindo-o do mundo externo, bem como dúvidas íntimas afligindo-o lá dentro. A verdadeira prova de sua amizade por si mesmo é quando você se reorganiza em seu próprio auxílio, quando precisa do amparo consolador de seu melhor amigo — você. Quando você está seguro desse amortecimento interno na crise, então sabe que está certo neste mundo incerto.