Falta de Energia

19/09/2013 17:04

Fora a escassez de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), outra crise de energia ameaça o planeta. O cansaço é uma queixa cada vez mais comum. Uma pesquisa da filial brasileira da International Stress Management Association (Isma) ouviu 760 pessoas em Porto Alegre e em São Paulo em 2010: 94% das mulheres relataram sobrecarga no trabalho. Dessas, 89% manifestaram cansaço frequente. O alarme já havia soado num estudo britânico encomendado pela revista Top Santé em 2007: 85% das 2 mil entrevistadas se declararam exaustas. Os autores observaram que a batalha para conciliar os afazeres domésticos, a educação dos filhos e a carreira torna o período dos 30 aos 40 anos o mais difícil da vida da mulher.

Diferentemente do cansaço comum, que desaparece após uma boa noite de sono, a fadiga persiste e traz companhia: desânimo, dificuldade de concentração e fraqueza muscular. “Prejudica o desempenho, interfere nos relacionamentos, repercute mal em todas as esferas da vida”, avisa a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR. Assim, não dá para ignorar esse sintoma. Antes, porém, de acusar o atual estilo de vida frenético, vale a pena investigar se há outra explicação física, mental ou emocional. “A exaustão pode sinalizar várias doenças”, diz o presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Abrão José Cury Júnior. “O médico precisa ouvir o paciente e fazer um bom exame físico para chegar ao diagnóstico.”

Questão de sangue

Causa comum de cansaço, a anemia é a baixa da hemoglobina, pigmento do sangue que carrega oxigênio para as células. “Essa condição priva o corpo de energia”, diz a endocrinologista Silvia Bretz, do Rio de Janeiro. Surge por causa da dieta pobre em nutrientes, em especial ferro e vitamina B12 (carne e frango), ou da perda de muito sangue na menstruação (nesse último caso, pedem-se também dosagens hormonais). Um hemograma confirma a suspeita. O tratamento prevê correção da dieta e suplementação de vitaminas.

Sono picadinho

Mesmo dormindo as oito horas, há quem acorde cansado. Motivo comum é a apneia do sono, que ocasiona pequenas pausas da respiração e microdespertares noturnos. Isso compromete odescanso. O distúrbio, frequente em quem ronca e está acima do peso, pode ser notado no exame do sono (polissonografia). Tratamento: aparelho que alivia o ronco e, às vezes, cirurgiaExaustão extrema

Os exames dão resultado normal. A hipótese para o cansaço físico e mental é a síndrome da fadigacrônica, que acomete quem já teve alguma virose, como mononucleose, e dura pelo menos seis meses, com dores de cabeça e musculares, gânglios inchados e perda da concentração. “Antes de adoecerem, quase todas as vítimas são ativas. Sob o domínio da doença, tornam-se meras sombras do que foram; seus corpos se comportam como um inimigo, tornando cada despertar uma luta física, emocional e cognitiva que dificulta as ações mais simples”, escreve a psicóloga inglesa Kristina Downing-Orr no recém-lançado Vencendo a Fadiga Crônica (Summus Editorial). Ela sugere suplementos vitamínicos, exercícios, relaxamento e, em certos casos, antidepressivos.

Picos de açúcar

Diabetes não detectada ou fora de controle é outra possibilidade. O distúrbio aparece quando o pâncreas deixa de produzir insulina ou o organismo resiste a essa substância, que leva a glicose para dentro das células. “Daí as células não dispõem de glicose para gerar energia, e o açúcar se acumula no sangue, com risco de lesar coração, rins, nervos e olhos”, informa Silvia Bretz. O diagnóstico requer dosagem de glicose no sangue. O controle engloba ajuste da dieta, e exercícios físicos regulares.

linha de fogo

Infecções podem esgotar sua energia, sejam elas bacterianas, como certas pneumonias, ou virais, caso da aids. Às vezes o culpado é uma infecção urinária não diagnosticada ou mal tratada. Basta uma gripe para deixar o corpo moído. Então, o cansaço costuma se associar a febre e gânglios inchados. Outro sintoma destacado pelo clínico geral é a perda de peso sem causa conhecida, que pode sugerir algo mais grave, como linfoma, câncer no sistema linfático. Os exames variam conforme a suspeita, bem como o tratamento. Pode ser à base de antibióticos, antivirais ou quimioterápicos.

Em guerra com a balança

Os quilos a mais, por si só, cons tituem um problema: “Uma coisa é carregar 65 quilos, outra é carregar 85”, explica a endocrinologista Silvia Bretz. “O excesso de peso exige maior esforço do coração, dos músculos e dos vasos sanguíneos, o que pode trazer cansaço e doenças, comohipertensão arterial e diabetes.” O tratamento combina dieta e exercícios, às vezes medicamentos para reduzir o apetite e, em casos severos, cirurgia.

Preto e branco

O cansaço às vezes é o sinal inicial da depressão, lembra Cury Júnior. A doença se caracteriza por tristeza mental profunda, irritabilidade, desinteresse por algo que só nos dava alegria, dificuldade de concentração, alteração do sono, mudanças de apetite e dores crônicas, além da perda de energia. Antidepressivos e psicoterapia ajudam a recuperar o interesse pela vida.

A maioria

 

Em mais de 90% dos pacientes, o cansaço é resultado do estilo de vida. Dieta irregular, longas horasde jejum, comer rápido, abusar de café, não praticar exercícios, dormir menos que o necessário. “É uma bola de neve: uma coisa potencializa a outra”, comenta Silvia Bretz. Desse modo, é preciso combater o cansaço em várias frentes. “Não dá para tomar um remedinho e prosseguir num ritmo alucinante. É preciso dar a devida atenção a esse alerta, desacelerar, respeitar os próprios limites.

Quase parando

Distúrbios na tireoide podem ser os responsáveis. O mais usual é o hipotireoidismo: a glândula opera em ritmo lento e produz menos hormônios. Ocorrem sonolência, cansaço, queda de cabelo, pele seca, unhas quebradiças, intestino preso, menstruação irregular, redução da libido e ganho de peso. A dosagem de hormônios (T3 e T4, sintetizados ali, e o TSH, que estimula a glândula) aponta o problema, pois os sintomas nem sempre são evidentes. É preciso repor as substâncias em falta.

Coração e pulmão em risco

Antecedentes de infarto na família, tabagismo e hipertensão alertam para os males do coração. “Na insuficiência cardíaca, a fadiga surge porque o sangue não é bombeado a contento. Já na insuficiência respiratória, o cansaço se expressa por falta de ar”, diz o cardiologista Luciano Harary, do Hospital Samaritano, em São Paulo. Eletrocardiograma e ecocardiograma ajudam a diagnosticar e a planejar o tratamento.

 

Energia a jato

• O café da manhã ou lanche deve ser à base de pães ou cereais integrais, iogurte ou leite desnatado e frutas (pêssegos, uva, maçã, damasco seco, goiaba). A mistura de proteínas, carboidratos complexos e fibras garante um ótimo aporte de energia.

• A cada 60 a 90 minutos de atividade no trabalho, faça breves pausas de dois a cinco minutos. A medida renova o gás.

• Meditar nesses minutinhos, nem que seja no banheiro do escritório, é indicado. Fique numa posição confortável, feche os olhos e concentre-se na respiração mais lenta.

• Uma caminhada após o almoço, mesmo que por apenas dez minutos, revigora.

• Telefonar para uma amiga bem-humorada pode devolver a disposição.

• Assistir a uma comédia ajuda. Rir ativa a circulação, alivia a ansiedade, aumenta o pique e torna a rotina mais agradável.

• Separar algumas horas para se dedicar a um hobby, tomar banhos relaxantes e receber massagens recarregam a bateria.

• Horários regulares para comer, dormir e se levantar organizam o relógio interno.