COTAS RACIAIS

18/04/2014 21:38

 

 

cotas-raciais
 

 

Desde o anúncio do Governo Federal de que universidades federais agora passariam a ter uma porcentagem de 50% reservada à alunos da rede pública e além disso, uma porcentagem (não fixa e dentro dessas vagas) para alunos negros e pardos, esse assunto se tornou polêmico e gera discussões entre aqueles que possuem diferentes opiniões. Mas, na opinião desse autor, não há nada mais idiota do que uma opinião formada sem informação.
 
 

O assunto “cotas raciais” gera algumas afirmações absurdas entre aqueles que são contra. Exemplos como: “o próprio programa de cotas é racista” ou “isso só incentiva o ódio racial” são frequentes. Aparentemente, reservar uma porcentagem proporcional à população negra da região – para estudantes de pele negra ou parda – é uma afirmação de que esses são incapazes de conseguir seu ingresso na universidade sem o incentivo. Ou ainda, se a constituição federal defende que não se pode haver discriminação do tipo que favorece um individuo por conta de sua raça, cor ou etnia, por que a política de cotas raciais favorece aqueles de cor parda ou preta?

É uma excelente pergunta e, de fato, gera muitos questionamentos.  Um deles é: A população (negra) que corresponde à 50% do país inteiro também corresponde a 3% dos formados em medicina (por exemplo). Será mesmo que incentivá-los  a entrar em uma faculdade está os colocando em posição de vantagem? É, parece piada. Na verdade, 3% é uma aproximação, os números reais são 2,66% no senso de 2010. Na tabela abaixo estão os cursos e as respectivas porcentagens de alunos negros e pardos formados:

 

 

 TabelaCotas
 

 

Um gráfico sempre facilita a visualização:

 

 
gráficoCotas
 

 

Não se pode afirmar que incentivar quem está historicamente (e, como visto na tabela, estatisticamente) em desvantagem, os coloca em posição de vantagem.
 

 

- “Então cotas para negros, porque todo branco nasce rico!”. Ao contrário do que essa frase (frequentemente vista em redes sociais e postada por pessoas com opinião sobre o assunto, mas sem nenhuma informação sobre o mesmo) dá a entender, as cotas raciais não existem para favorecer os negros. O propósito é diminuir a discrepância (absurda) entre a proporção de negros na população e a proporção de alunos negros – e de futuros profissionais em “cargos de prestigio”.

 

 
Sobre esperar um aumento do ódio com essa política de “favorecer” negros e pardos, bom, é possível. Afinal, alunos que de fato se esforçam muito e atingem as notas necessárias para determinado curso são ultrapassados por outros pelo simples fato de esses outros serem negros? – quem faz esse questionamento precisa (muito) de informação, porque até pra ser contra as cotas, primeiro deve-se entendê-las. Ninguém é ultrapassado por ninguém.
 

 

Como citado anteriormente (com fonte e tudo) o que o congresso aprovou foram 50% das vagas em universidades federais para estudantes de escola pública.
 

 

Acontece que para fazer parte dos 50% de escola pública aprovados pelo Congresso três critérios são válidos: (1) ter cursado todo o ensino médio em escola pública, (2) comprovação de renda até 1,5 salários mínimos, (3) ser pardo ou negro – nesse caso, com uma fração de vagas dentro dos 50% de escola pública e proporcional a quantidade de negros e pardos na região.  Ou seja, não negros de escola particular já estariam concorrendo aos OUTROS 50% de qualquer forma, com medidas de cotas raciais ou não.
 

 

- “Ah! Mas as cotas deveriam ser para pobres!” Os critérios (1) e (2) citados acima já deviam banir esse argumento tosco. As cotas para pobres existem.
 
Em outras palavras, ninguém passa só por ser negro, passa quando é negro e esforçado. Para os estudantes não negros nem pardos que ficam no quase, restam duas opções: agir com maturidade e continuar com o esforço (com a certeza de uma pontuação melhor) ou, fazer igual esse estudante frustrado, que culpou as cotas pelo insucesso, e promover o racismo:
 

 

 
 PromoveRacismo
 

 

Dizer que as cotas raciais promovem o racismo é, na verdade, ingenuidade. O racismo existe. O ódio racial, no entanto, só não é muito exposto porque as coisas funcionam muito bem como estão: negros e pardos ocupando as posições de “base” enquanto brancos ocupam as de maior prestígio – afinal, sempre foi assim.
 

 

 
 RacismoExiste
 
 

 

Já ouvi que o Brasil é um exemplo sobre convívio de diferentes etnias. Discordo, e não precisa ser muito inteligente para discordar comigo. É ingenuidade dizer que não há racismo por aqui.
 

 

Oras, se negros são 50,7% da população (e supostamente não há racismo), por que não são também 50% dos formandos em direito? Ou 50% dos senadores, dos juízes do STF, dos médicos, etc. – quando foi a última vez que você foi atendido por um médico negro? Uma jornalista em Natal ficou tão espantada quando viu médicas negras que as comparou com empregadas domésticas e rezou pelos pacientes! (As médicas eram do programa Mais Médicos, que trazem médicos cubanos para trabalhar no Brasil, em sua grande maioria, negros).