Como superar uma crise existencial

01/06/2021 20:49

 

 
 
Como superar uma crise existencial

O que fazemos aqui? Para que serve a vida? Qual caminho seguir? Como saber qual é minha paixão? Pode ser que um golpe duro te trouxe até aqui e que agora você não veja nenhuma saída. No entanto, esta pode ser uma experiência que mudará sua vida, que te transformará como pessoa e que permitirá você se reconectar consigo mesmo e redescobrir o mundo através de um novo olhar. 

 

Uma crise existencial é um fenômeno mais comum do que parece. Trata-se de um período viral de dúvidas profundas em relação à existência, ao sentido da vida, ao propósito e até mesmo à própria identidade. Quem sou? O que faço aqui? Para onde vai minha vida?

Crise existencial: significado

Uma crise existencial na psicologia é entendida como um momento no qual os esquemas mentais construídos já não servem mais para enfrentar a situação atual. A crise existencial acontece porque a vida, ou a forma como ela é percebida, muda. De repente, as ideias antigas e as expectativas para o futuro caem. Aparecem novas preocupações e perguntas que nunca haviam sido feitas e para as quais não se tem respostas (ainda). A pessoa que passa por uma crise existencial se sente perdida, desorientada, não tem metas claras e muda suas crenças e valores. Tudo isso acompanhado de um mal-estar psicológico intenso.

Com a incerteza e as preocupações, podem aparecer também sintomas de ansiedade, dificuldade para conciliar o sono, apatia ou falta de motivação, abulia ou falta de energia, medos e insatisfação vital. No seguinte artigo você encontrará mais informações sobre os sintomas de uma crise existencial.

Mesmo que frequentemente se fale da crise existencial dos 30 ou dos 50, o certo é que pode ocorrer em qualquer ponto do ciclo vital.

Causas da crise existencial

Uma crise existencial se deve a um conflito interpessoal derivado da união de vários fatores, os principais são:

  • Mudanças internas ou externas: uma das mudanças mais intensas podem ser as perdas, que podem ser desde o falecimento de um ente querido, até a perda de saúde ou de emprego. Especialmente quando se perdem áreas da vida para as quais se dava muita importância e que sustentavam grande parte do sentido de nossa vida.
  • Falta de conhecimento sobre si mesmo: passamos muito tempo distraídos e prestamos pouca atenção em nós mesmos.

Como evitar uma crise existencial? Ou melhor, é possível evitar uma crise existencial? Estes períodos de dúvidas podem ocorrer por múltiplas razões e geralmente são causados por vários fatores. Alguns fatores podem ser trabalhados de forma preventiva, como o autoconhecimento e a autocompaixão, mas outros não dependem de nós.

Consequências da crise existencial

Uma crise existencial pode ter várias consequências, entre elas:

  • Transtornos psicológicos: a sensação de estar perdido pode desencadear mal-estar que pode vir a interferir com a vida diária da pessoa, provocando sintomas psicopatológicos.
  • Transformação: se o mal-estar for enfrentado e gerido corretamente, a crise existencial pode gerar um crescimento e desenvolvimento pessoal. Você pode sair fortalecido e transformado dela, ampliando assim os recursos para enfrentar futuras dificuldades, como a resiliência.

Como superar uma crise existencial: 10 passos

Apegando-nos à segunda opção, podemos interpretar uma crise existencial como uma oportunidade para nos reencontrarmos com nós mesmos e para mudar. O que fazer diante de uma crise existencial? Não existe uma solução padronizada que seja exata e eficaz para todo mundo. Você precisará conhecer a si mesmo, analisar a situação e reorganizar sua vida.

1. Desacelere

Como superar uma crise existencial? Sendo consciente. Certamente você está absorvido pela rotina. As mesmas tarefas todos os dias, os mesmos lugares, as mesmas pessoas, etc. Preocupações, pensamentos recorrentes e dúvidas. Pare por um momento. Para que algo novo surja, precisa ter espaço. Portanto, você deve parar para poder seguir em frente.

2. Permita-se ficar mal

O mal-estar faz parte da vida. Nós, humanos, contamos com um repertório de emoções variado e nem sempre sentimos emoções positivas e agradáveis. Também temos emoções negativas, e é normal experimentá-las e passar por períodos nos quais nos sentimos mal. Não tem problema ficar triste, não tem problema em ter dúvidas, não tem problema assumir que a situação nos superou. Aceite que você é humano e, portanto, imperfeito. Utilizando a autocompaixão como base, você poderá trabalhar para superar a crise existencial.

3. Conheça-se

Talvez você pense que não sabe o que fazer com sua vida, ou até mesmo que se pergunte quem você é. Nesse caso, você deverá passar mais tempo consigo mesmo, observe-se e compreenda-se. Pergunte-se porque você pensa assim, porque age dessa forma, etc. Uma técnica de autoconhecimento é colocar no papel uma descrição de si mesmo em terceira pessoa. Depois, você pode pedir para pessoas próximas relatarem como você é pelo ponto de vista delas. Por fim, avalie as semelhanças e as diferenças.

Lembre-se: você não é suas emoções, elas passam por você e você decide como lidar com elas. Assim como tampouco os números e títulos o definem, você é quem define sua forma de ser, sua forma de se relacionar e o valor que proporciona para os outros e para o mundo.

4. Questione seus pensamentos

O mal-estar se deriva, frequentemente, mais que da situação em si, da forma como a interpretamos e do que opinamos a respeito. Preste atenção a seu diálogo interno, ao que você pensa sobre si mesmo e ao que diz para si mesmo. Pode ser que seu mal-estar não seja causado, por exemplo, por ter terminado seu relacionamento, mas sim por uma crença sua, como, por exemplo: "sem namorado/a não posso ser feliz". Questione a validade das crenças que formam a base de seus pensamentos.

5. Lembre-se de seus recursos

Para superar uma crise existencial, lembre-se de como você agiu em outros momentos difíceis. Faça as seguintes perguntas:

  • O que eu fiz quando me sentia perdido?
  • Como eu superei as adversidades?

O objetivo destas questões é que você se lembre e fique consciente de todas as habilidades que você desenvolveu em outras circunstâncias complexas que já superou. Os aprendizados e as capacidades que você adquiriu estão aí para te ajudar agora.

6. Recupere seus hobbies

Reflita sobre aquelas coisas que você gostava muito em sua infância. Aquilo que você gostava de fazer antes que sua agenda estivesse tão cheia e que sua autocrítica fosse tão elevada, e que agora não tem mais espaço em sua vida. É factível incluir algum de seus hobbies em sua vida atual? Tente! Realizar atividades prazerosas é uma das estratégias comportamentais mais utilizadas na terapia psicológica, pois entre seus múltiplos benefícios você notará um estado de humor mais positivo e motivação para fazer outras tarefas.

7. Relacione-se através da vulnerabilidade

Devido ao estigma social e ao medo de sermos julgados pelos outros, frequentemente tentamos nos mostrar como indiferentes e invencíveis. Estar triste ou se sentir perdido parecem não estar associados ao sucesso e à felicidade, então tentamos escondê-los. No entanto, não é necessário que você esconda a forma como se sente, sobretudo diante de pessoas de confiança. Talvez haja pessoas que não te entendam, mas você ficará surpreso com a quantidade de pessoas que podem sim te entender e até mesmo podem demonstrar suas próprias vulnerabilidades. O apoio social é essencial e poder se mostrar com sinceridade te dará mais liberdade.

8. Coloque uma meta

Para diminuir a desmotivação, encontre aquilo que te empolga fazer. Que propósito gostaria de cumprir? Coloque um objetivo realista, concreto e a curto prazo.

Às vezes, a motivação não aparece no início, mas sim quando um caminho é iniciado. Portanto você pode começar mesmo que sua motivação não seja muito elevada a princípio. No entanto, tenha em conta que você também não deve ser forçar. Se você não está preparado, se não é o momento, não tem problema. Escute-se, respeite-se e tome seu tempo.

9. Experimente

Como superar uma crise existencial? Trata-se de redescobrir quem você é e o que te apaixona, para isso você precisa se expor a contextos diferentes e se observar em novos cenários. Prove, permita-se ter novas experiências e ser principiante. Permita-se provar, tentar, experimentar, etc. Você pode errar, você é humano. Para obter novos aprendizados e para encontrar novas respostas, você deve seguir por outros caminhos. Aqui você encontrará 15 exercícios para sair da zona de conforto.

10. Procure seu propósito

Faça-se as seguintes perguntas:

  • Que coisas te geram satisfação?
  • Quais coisas são realmente importantes para você?
  • Que coisas você faz sem ser por obrigação?
  • No que você se destaca? No que você se dá muito bem?
  • Como você pode contribuir com os outros?
  • Se você tivesse uma varinha mágica que tornasse tudo realidade, como seria sua vida?
Como superar uma crise existencial - Como superar uma crise existencial: 10 passos

5 exercícios para superar uma crise existencial

Além dos passos mencionados previamente, para gerir esta sensação de desorientação e desmotivação, você pode realizar os seguintes exercícios:

1. Lista de coisas que fazem você se sentir bem

Que coisas te fazem feliz? Pegue papel e lápis e anote todas aquelas coisas simples e cotidianas que produzem bem-estar em você. Por exemplo, tomar um café, passear, ver a chuva ou dar um abraço. Tenha esta lista por perto e cada vez que alguma destas coisas que te fazem bem acontecer, seja consciente disso e aproveite ela.

2. Diário positivo

A cada dia, reflita sobre a jornada e identifique, pelo menos, algo positivo que tenha acontecido. O que sentimos depende em grande medida do que pensamos, enquanto que o que pensamos, depende de nosso filtro cognitivo. Isto é, de acordo com nossas experiências vamos formando crenças e adotamos uma posição a respeito dos acontecimentos. Realizar o exercício de encontrar aspectos positivos, ajuda a flexibilizar nossa posição e nos permite aprender a mudar o ponto de vista.

3. Praticar a gratidão

Praticar o agradecimento ou a gratidão, implica analisar e avaliar pequenas coisas que nos facilitam o dia a dia e que melhoram nossa qualidade de vida. Coisas que geralmente consideramos como dadas e passamos batido, porque sempre são assim. Levar elas em conta nos permite sentirmos abençoados por aproveitar de certas comodidades. Por exemplo, se você está lendo isso, é porque você sabe ler e porque tem Internet.

4. Ler

Outro exercício que contribui para o desenvolvimento pessoal e ajuda a superar uma crise existencial é a leitura. Você pode aprender através de livros úteis para superar uma crise existencial como A arte de não se amargar com a vida do psicólogo Rafael Santandreu, Inteligência emocional, de Daniel Goleman, ou O homem em busca de sentido, de Viktor Frankl.

5. Visualização

Coloque-se numa posição confortável e relaxe. Imagine a si mesmo dentro de 5 anos. Observe como você é, onde você está, como você caminha, como pensa e o que está fazendo. Observe seu estado de humor, seus interesses e seus valores. Explore cada área de sua vida: onde você vive e com quem, ao que você se dedica, o que você faz em seu tempo livre e como você se sente. Visualize até os mínimos detalhes e empatize com essa pessoa imaginária, com suas inquietações, seus desejos e suas metas. Você gosta do que vê? O que está em suas mãos e você pode fazer para começar a parecer um pouco mais com essa versão de si mesmo?

Bibliografia
  • Goleman, D. (1996). Inteligencia emocional. Kairós.
  • Frankl, V. (2005). El hombre en busca de sentido. Herder Editorial.
  • Frankl, V. (2011). Ante el vacío existencial: hacia una humanización de la psicoterapia. Herder Editorial.
  • Neff, K. (2012). Sé amable contigo mismo. El arte de la compasión hacia uno mismo.
  • Santandreu, R. (2014) El arte de no amargarse la vida: las claves del cambio psicológico y la transformación personal. Paidós Iberica.
 

 

Tem determinados momentos de nossas vidas, todos nós já nos sentimos perdidos, invadidos por sentimentos de desesperança e sem vontade de realizar tudo aquilo que antes nos preenchia, poderíamos dizer que nos sentimos vazios, apagados, como se anda tivesse sentido. Sabemos que é um sentimento compartilhado por outras pessoas e que todos no sentimos assim alguma vez. Racionalmente, somos conscientes de que é temporário e um processo de aprendizagem, mas nossa parte emocional deseja sair desta angústia permanente.

    Sinto que minha vida não tem sentido, o que posso fazer? Contaremos algumas estratégias para poder superar estes períodos de vazio existencial temporários.?

O sentido da vida pode ser descoberto a partir de quatro construções: uma finalidade, significação, conexão e valor.

Em primeiro lugar, falamos do sentido como uma finalidade, a direção que queremos que nossa vida, uma orientação. Para que nossa vida possa ter sentido, esta deve ser dirigida para um fim, uma meta. Em segundo lugar, devemos dar a esta direção um significado, questionando se nesta direção há algo que nos atrai e nos leva em direção à ela. Em seguida, devemos estabelecer uma conexão deste significado, procurar uma causa ou uma razão, estabelecer uma causa que justifique o porquê de ser assim e não de outro modo, porque nada acontece sem um motivo. Finalmente, o sentido vislumbra um valor, isto é, o valor que damos a este significado é o que implica em acreditarmos que vale a pena.

O que acontece quando sua vida não tem sentido?

Normalmente, a constatação de que nossas vidas não fazem sentido nascem diante de certas situações "sem sentido", como a morte de um ente querido, uma decepção, um fracasso... determinados acontecimentos de crise que nos fazem sentir vazios e decepcionados. Quando percebemos que nossas vidas não fazem sentido e experimentamos estes sentimentos de vazio, nasce em nós um conjunto de emoções e ações que aumentam estas sensações:

  1. Tristeza: um sentimento de tristeza nos invade, sem saber decifrar o que realmente está te entristecendo, não conseguimos isolar um motivo. Esta tristeza nos leva a ter sentimentos de desesperança e vazio.
  2. Desconhecimento de si mesmo: percebemos que não nos conhecemos tão bem como acreditávamos, começamos a observar que estamos perdidos, que não sabemos como sair de tal situação, nos perguntamos: Quem somos? Para onde vamos? O que queremos fazer neste mundo? E parece que não encontramos resposta para nenhuma destas perguntas.
  3. Anedonia: você perde todo o interesse que antes tinha por aquelas atividades que davam prazer, perde o interesse nos relacionamentos, não tem prazer em nada. Por isso, nasce um sentimento de aborrecimento diante de todas as atitudes e você se angustia facilmente diante das coisas.
  4. Perda de responsabilidades: junto com o sentimento de anedonia e de tristeza, a pessoa perde todo o sentido de responsabilidade e deixa de se comprometer. Não observa em si mesma a possibilidade de crescimento, de se expandir como pessoa e, por isso, não arrisca nem vive novas experiências.
  5. Insatisfação: diante de todo este conjunto de fatores, a pessoa se sente insatisfeita com sua vida, mas não sabe como reorientá-la.
  6. Isolamento: os sentimentos de tristeza, a falta de interesse, de responsabilidades e compromisso, e a frustração diante da insatisfação com sua vida, conduzem para um maior isolamento social.

O que fazer quando a vida não tem mais sentido

O descobrimento do sentido de nossas vidas requer um grande trabalho, pode ser um trabalho para toda uma vida, com a necessidade de uma grande introspecção. Quando isto é feito, encontramos nossa razão de ser, nosso ikigai, o qual nos outorga felicidade e motivação em nosso dia a dia. O fato dessa busca ser um caminho tão grande, não quer dizer que o caminho não seja pleno e não nos permita saborear a felicidade e a motivação. Devemos encontrar aqueles fatos que nos fazem sentir que a vida vale a pena, que nos preenchem de autorrealização, mas como posso alcançar isso?

1. Dedique tempo para pensar em você

Quando foi a última vez que você pensou em quais são seus sentimentos, seus desejos, seus defeitos, suas virtudes, ...? Nos encontramos na sociedade líquida, como foi bem descrito por Zygmunt Bauman, e passamos por ela na ponta dos pés, imersos em mudanças constantes e rodeados de numerosos estímulos que nos impedem de parar e pensarmos em nós mesmos. Não podemos alcançar nosso sentido se não pudermos parar e pensar em nós mesmos, por isso, o primeiro passo é parar para nos conhecermos.

2. Analise o vazio

Quando as coisas no trabalho não funcionam, por exemplo, se nos sentimos incomodados com nosso/a chefe, nos perguntamos o que pode ter acontecido, que situação gerou este distanciamento, o que poderia fazer para mudar isso,... Nesta circunstância deve-se atuar da mesma forma. Devemos nos perguntar há quanto tempo estamos sentindo este vazio, que coisas não estão funcionando como desejaríamos em nossa vida, porque isto apareceu de repente, se antes não acontecia, o que causou e o que está mantendo esta situação.

3. Mude

Se a resposta à pergunta anterior está em sua vida, se você acredita que o motivo que te leva a este vazio é que você não gosta de como está vivendo, comece por perguntar o que mudaria em sua vida hoje para poder começar a viver em plenitude, qual é o sonho que você sempre sonhou em alcançar? O que você poderia começar a fazer para conseguir?

Por outro lado, não podemos esperar que nossa vida seja diferente se não nos esforçamos para isso. Para conquistar coisas diferentes, devemos mudar nossa forma de fazer as coisas. Arrisque-se com novas experiências e aprendizados.

4. Responsabilize-se por si mesmo

Devemos ser conscientes de que a primeira atitude para poder conseguir nossos sonhos e o sentido de nossas vidas, é nos fazermos responsáveis por nós mesmos. É importante se fazer responsável das consequências de nossas ações e liderar com independência, porque a autoliderança nos ajudará a dar sentido para nossa vida.

5. Comunique-se

O isolamento favorece todos estes sentimentos de tristeza e desânimo, todos somos seres sociais e precisamos do outro para viver com plenitude e nos sentirmos preenchidos e felizes. Aproveite suas relações para fomentar os sentimentos de afetividade, amor e felicidade.

Bibliografia
  • Cabello, P. (2000). El sentido de la vida. Pharos, 7, 6.
  • Gil, F & Breitbart, W. (2012). Psicoterapia centrada en el sentido: “vivir con sentido”. Estudio piloto. Psicooncología, 10, 233-245.
  • Grodin, J. (2012). Hablar del sentido de la vida. Utopía y Praxis Latinoamericana, 17, 71-78.
  • Frankl, V. (2004). El hombre en busca del sentido. Herder Editorial: Barcelona.