Como superar o medo do abandono?
Superar o medo do abandono e alcançar a autossuficiência emocional não é uma tarefa fácil. No entanto, ela pode ser feita no momento em que nos convencemos de algo: quão valiosos somos. Quão importantes, iluminados e fortes podemos ser sem a necessidade de depender de alguém. No momento em que somos capazes de nos dar o amor que merecemos, tudo muda.
Há pessoas que desde muito cedo tiveram que enfrentar uma das experiências mais difíceis: o abandono. No entanto, não nos referimos apenas ao fato de crescermos com a ausência de pais de referência. Às vezes, não há dor mais evidente do que a do abandono emocional.
Contar com pais presentes, mas eternamente ausentes, que em nenhum momento nutriram emocionalmente, nem formaram as bases sólidas e alicerces de um apego seguro e favorecedor.
A experiência precoce do abandono deixa marcas, assim como a impressão contínua de fracassos afetivos com os quais, pouco a pouco, a pessoa desenvolve uma sensação de vergonha, desamparo e angústia. A angústia de experimentar um sentimento de perda crônica e contínua.
Tudo isso ocorre a partir desse abandono que, de alguma forma, deixa em nossa mente mensagens ou ideias como a de que nunca seremos amados, a de que a solidão é nosso único refúgio e a de que ninguém é digno de confiança.
O abandono contínuo distorce a realidade e os nossos pensamentos. No entanto, há um fato que é necessário entender. Sentir medo de ser abandonado em algum momento por parte das pessoas que amamos cai dentro do compreensível (principalmente se já sofremos antes).
O patológico é ansiedade, é nos permitirmos ser invadidos por pensamentos obsessivos ligados à ideia permanente de que vamos ser abandonados repetidas vezes.
Sair desses estados é possível. Vejamos como.
“O medo é meu companheiro mais fiel, nunca me enganou para ficar com outra pessoa”.
-Woody Allen-

Medo do abandono, um medo primário
O medo do abandono é como uma prisão. É um espaço fechado e sufocante que boicota todas as nossas relações. No entanto, longe de nos torturarmos experimentando essa realidade, entender seus fundamentos pode nos ajudar a lidar muito melhor com essas situações.
Para começar, o medo do abandono é um medo primário. O que isso significa? Basicamente que, como espécie, nada é tão importante para o ser humano e seu desenvolvimento do que sentir, desde muito cedo, que contamos com algumas pessoas de referência para nos apoiar.
Pais ou figuras que nos dão uma afeição segura, uma sensação de segurança e confiança. Se isso não existe desde o nascimento e a fase inicial da infância, nosso cérebro sente um vazio abismal. É quando estamos mais vulneráveis a desenvolver certos transtornos de humor.
Por exemplo, o Journal of Youth and Adolescence publicou um estudo interessante realizado pelo departamento de Psicologia da Universidade do Estado do Arizona, que demonstrou algo semelhante. Pode-se ver que o medo do abandono aparece, sobretudo, em pessoas que sofreram a morte de um dos pais.
No entanto, uma vez que aprendemos a enfrentar essa angústia original, assim que curamos essa ferida, tudo muda. No final, conseguimos sair dessa prisão habitada apenas por necessidades, vazios e feridas abertas para viver com maior integridade.

Como superar o medo do abandono
Vivenciar de maneira traumática um ou mais abandonos nos faz pensar que não somos valiosos. À baixa autoestima não é somado apenas o medo de que isso volte a ocorrer, a ansiedade também aparece e o fato de não sabermos como lidar com um nova relação.
No final, acabamos criando dinâmicas tóxicas nas quais precisamos em excesso da outra pessoa, perdemos a autenticidade em nossa ânsia de sermos amados, nutridos e validados em nossas carências.
O amor baseado de forma obsessiva na necessidade vive do sofrimento. Ninguém merece viver uma situação como essa e, portanto, é preciso aprender a superar o medo do abandono. Vejamos algumas estratégias para conseguir fazer isso.
Autossuficiência emocional para superar o medo do abandono
- Aceite esse medo pelo que é: normal. Algo que é inato no ser humano, mas que no seu caso, foi intensificado por uma experiência passada. Os medos são naturais, mas o que não é aceitável é que eles tomem o controle de nossas vidas.
- Para superar o medo do abandono, devemos ser 100% responsáveis por nós mesmos. Ninguém tem que nos salvar, nossos parceiros não são obrigados a ser responsáveis por nós ou ser nossos únicos fornecedores emocionais. O amor que realmente pode nos curar é o amor próprio. O amor incondicional por nós mesmos.
- Precisamos mudar o diálogo interno. Fica proibido nos subestimarmos, não é mais permitido deixar espaço para essa angústia que nos traz pensamentos como o de que vamos ser abandonados novamente. Devemos fechar a passagem para a desconfiança em nosso parceiro, para o pensamento de que não nos querem, para o pensamento de que se fazem isso ou aquilo, é porque não importamos mais… uma mente tranquila vive melhor, uma abordagem relaxada ajuda a desenvolver a confiança, essa que atrai relações mais fortes e mais significativas.
- Devemos trabalhar a autossuficiência emocional. Este é um caminho lento que exige saber nos observarmos e identificar necessidades. Cada um desses vazios deve ser preenchido por nós mesmos. É uma responsabilidade pessoal que não devemos colocar nos ombros dos outros. É nossa e só nossa.

Para concluir, devo destacar mais uma vez que este processo de cura não é algo simples. A marca do abandono, seja física ou emocional, muitas vezes deixa uma impressão profunda e persistente. É um caminho longo e tortuoso que às vezes não podemos realizar por nós mesmos.
Assim, e no caso de perceber que esse medo de ser abandonado constantemente é algo recorrente e a origem de não conseguir relações sólidas e satisfatórias, não hesitemos em pedir ajuda profissional.
Nós merecemos ser autossuficientes, nós merecemos superar o medo do abandono de uma vez por todas.
Algumas pessoas sofrem de um sentimento constante de abandono que gera uma grande inquietação, pois sentem que os demais sempre vão deixá-las. Na verdade, elas são muito observadoras. Qualquer palavra ou ação é analisada milimetricamente para confirmar o que tanto temem: “eu sou indiferente para essa pessoa, ela não gosta de mim e não quer ficar ao meu lado”.
Muitas vezes, elas podem se enganar. No entanto, quando entramos em um relacionamento com algum tipo de medo de que a pessoa possa nos abandonar, é possível que isso aconteça. O motivo pelo qual isso acontece é porque o medo é tão forte que essas pessoas estabelecem vínculos de apego excessivo. Esse medo as leva a controlar, manipular e desconfiar do outro. No fim, o relacionamento se desgasta e acaba terminando.
Também é preciso levar em consideração o fato de que os relacionamentos costumam mudar com o tempo. Os amigos que podemos ter agora e as pessoas com quem conversamos frequentemente podem se afastar no futuro. As vidas e os relacionamentos se transformam.
Infelizmente, o sentimento constante de abandono que algumas pessoas sentem as impede de estar conscientes disso. Seu medo de perder os outros as levará a acreditar que qualquer mudança em um relacionamento é negativa.
O apego desenvolvido na infância
Para compreender essas pessoas que têm um sentimento constante de abandono, é necessário prestar atenção na infância delas. Apesar de ser uma fase da qual as pessoas quase não se lembram, ao longo dela se desenvolveu algo muito importante e que marca todas as relações que teremos quando adultos: o vínculo de apego.
“Para ser um adulto independente, certamente deve ter sido um bebê dependente, apegado, cuidado; em poucas palavras, amado”.
-Sue Gerhardt-

O apego é o vínculo emocional que todas as crianças desenvolvem com seus cuidadores. São figuras que satisfazem suas necessidades e lhes trazem segurança. De acordo com várias pesquisas, se na idade adulta temos um sentimento constante de abandono, é porque o apego não se desenvolveu de maneira saudável. Portanto, é possível que na infância existissem algumas carências. A seguir, vamos ver algumas das mais frequentes.
Fatores que provocam o sentimento constante de abandono
- Falta de afeto. Se os cuidadores não abraçam, não dão carinho, não dão afeto físico, a criança vai crescer com falta de carinho. A mesma coisa vai acontecer se a criança nunca ouvir nada agradável. Há inúmeros tipos de demonstrações de afeto que não são apenas físicas e que são necessárias.
- Cuidadores ausentes. Muitas das pessoas que têm um sentimento constante de abandono têm a sensação de que seus pais não lhes deram tanta atenção. Pode ser que estivessem muito centrados no próprio relacionamento, talvez estivessem simplesmente ausentes ou muito ocupados. A questão é que as crianças vão sentir uma ausência profunda.
- Modelo nocivo de relacionamento. A interação dos pais é fundamental na hora de construir a ideia de segurança de que não vão nos abandonar. A presença de infidelidade, por exemplo, costuma ser muito prejudicial para a segurança da criança. Nesses casos, é comum que interprete que todas as pessoas são “infiéis” e que sempre vão deixá-la.
O sentimento constante de abandono é um peso muito grande. No entanto, na infância foi um mecanismo de defesa para sobreviver. Em vez de desenvolver um apego seguro, optou-se pelo desenvolvimento de um vínculo inseguro-ambivalente, que estará presente nos relacionamentos na idade adulta.
Dessa forma, a pessoa sempre vai desconfiar e estar alerta frente a qualquer possível mentira. No entanto, ao mesmo tempo, dependerá da outra pessoa para que satisfaça suas necessidades de afeto.
A repetição dos mesmos padrões
Se você se sentiu identificado com a descrição do sentimento constante de abandono, o mais provável é que tenha entrado em relacionamentos nos quais seu parceiro ou sua parceira tenha sido infiel, nos quais a pessoa tenha sido muito apegada aos pais ou que não prestasse muita atenção em você porque sempre estava trabalhando. De maneira inconsciente, pode ser que você esteja repetindo o padrão de abandono que sofreu na infância. A única diferença é que ocorre em outros contextos e com outras pessoas.
Na primeira vez em que descobrimos o impacto que nossa relação com nossos pais teve em nossa vida adulta, pode ser que tenhamos ficado bravos e jogado toda a culpa do que aconteceu conosco neles. No entanto, é necessário lembrar que eles fizeram tudo que puderam na época. Além disso, agora que você cresceu, você é o único responsável por tudo que faz e pelas decisões que toma. Culpar os outros não vai te ajudar. Você deve, em vez disso, trabalhar consigo mesmo.

A melhor maneira de curar esse tipo de apego excessivo que você aprendeu na infância é desenvolver um trabalho de autoestima. Isso vai permitir satisfazer suas carências para deixar de querer que os outros o façam. Comece a cultivar sua segurança. Isso te ajudará a confiar tanto em si mesmo quanto nos outros. Dessa forma, você poderá desenvolver relações saudáveis.
Tenha em mente que você não pode controlar o que aconteceu com você quando era uma criança. Mas, agora que você cresceu, pode decidir se quer resolver. Para isso, o mais importante é tomar as rédeas dos seus próprios pensamentos. O caminho que leva às relações saudáveis não é fácil, mas vale a pena.