Cinderela não saiu da cozinha
Não é segredo a ninguém a constante inferiorização da figura feminina na maioria dos grupos sociais do mundo, inclusive os ocidentais, em praticamente todos os aspectos cotidianos, sejam eles o pessoal, profissional, sexual, entre outros. Mas engana-se quem afirma os homens serem os únicos que promovem e perpetuam esse tipo de pensamento retrógrado.
A essência machista já habita o inconsciente de enorme parte das mulheres também. As ideias por séculos elaboradas e botadas em prática para favorecer a ascensão masculina surtem efeito até os dias atuais e regem crenças, rituais e hábito sociais das mais diversas populações. As pessoas, em geral, repetem os mesmos fatores misóginos que, por milênios, reduziram as mulheres a coadjuvantes na história do mundo.
A mídia, por sua vez, também contribui significativamente para a estagnação do avanço dos direitos das mulheres de serem tão respeitadas e independentes quanto os homens. Somos constantemente bombardeados por propagandas nos mais diferentes veículos de comunicação trazendo aspectos padronizadores que definem o “lugar” ao qual as mulheres devem se sujeitar permanecer para o “bem da família” e a “manutenção dos bons costumes”. Um bom exemplo são os comerciais de tevê e catálogos de venda que imploram pela atenção feminina empurrando-lhes produtos e utensílios domésticos como se ainda vivêssemos na longínqua (mas ainda tão próxima) década de 50, na qual as únicas palavras das mulheres que eram ouvidas se referiam ao que fazer no jantar para alimentar suas lindas famílias cinematográficas, secando as mãos em seus aventais e sendo orgulhosas de suas cozinhas americanas.
E, falando em comerciais, qual foi a última vez que assistiu algum que não mostrasse uma voluptuosa bunda dividida por um biquíni fio-dental, objetificando o corpo feminino e tornando normais olhares sedentos e cantadas vulgares feitas às mulheres?
Porém, não podemos colocar cem por cento da culpa nos veículos midiáticos. Afinal, eles mostram à população aquilo que ela aceita assistir e que ainda compra os produtos e ideias oferecidos por esses sem sequer parar para qualquer tipo de questionamento. A grande maioria das pessoas apenas ingere o que está a sua volta, sem que pratiquem uma lenta e minuciosa digestão daquilo que acabaram de botar para dentro.
Ainda sobre a mídia e a sutileza com que ela nos impõe (com nossa própria ajuda) determinadas visões de mundo que alteram nossas percepções e maneiras de agir, podemos citar um grande gênio da animação e que ajudou a prosperar uma das principais e mais lucrativas indústrias de entretenimento do planeta: Hollywood. Estamos falando de Walt Disney. O corajoso empreendedor do cinema conseguiu fama imensurável com suas adaptações de histórias para longas-metragens de animação e acumulou fortuna com seu sucesso internacional.
Porém, seja devido à época em que essas histórias foram contadas ou devido a um posicionamento intelectual desse grande artista e empresário, as mulheres (ao menos nas clássicas histórias como “Cinderela” ou “A Branca de Neve”) possuem personalidades estereotipadas e, muitas vezes, negativas, mesmo algumas contando com o status de protagonista.
A maioria dessas personagens possui como principais características inocência e fragilidade, colocando-as em uma posição de submissão aos vilões e de dependência aos lindos e teoricamente perfeitos príncipes que as vêm salvar sempre que as tontas caem em uma cilada da qual são [atenção!] incapazes de sair por si próprias.
As vilãs, por sua vez, são quase sempre mulheres amargas e ressentidas que possuem certa inveja das protagonistas e que, por motivos fúteis (como em “A Branca de Neve” ou “A Pequena Sereia”) jogam-nas feitiços ou as condenam à morte por serem mais bonitas que elas [péssimo conselho àquelas que se olham no espelho e veem que são mais feias que outras!].
Enfim, é necessário que sempre comecemos a pensar sobre aquilo que ingerimos ainda na fase de deglutição, para que problemas sociais não nos cause nenhum tipo de mal-estar no futuro. Por mais que fiquemos expostos cotidianamente a mensagens midiáticas das mais diferentes vertentes e com os mais diversos propósitos, ainda temos de possuir nossas próprias opiniões e senso crítico para que possamos julgar o que vemos e ouvimos, evitando, dessa forma, que isso nos direcione a caminhos que não queremos percorrer.
Pense por si, mas não apenas em si.