As emoções reprimidas ficam gravadas no nosso corpo

02/04/2022 14:19

As emoções reprimidas ficam gravadas no nosso corpo

Sabemos exatamente o que acontece em nossa mente? Conhecemos a nós mesmos? Sabemos controlar aquilo que ocorre dentro de nós para que não afete de forma negativa os que nos rodeiam? Sabemos, na verdade, o que sentimos em cada momento? Conhecer as emoções reprimidas é a arma mais poderosa para entender os nossos comportamentos.

Graças à neurociência, a partir do final do século XX começamos a entender e descobrir os circuitos neurais, e também o funcionamento do cérebro com respeito às emoções. Nossa forma de sentir ganhou a merecida importância, as emoções já não eram meras reações automáticas, mas começaram a ter relevância no âmbito científico, na hora de estudar o comportamento humano.

Nesse momento, começou a ganhar força a ideia de que era necessário começar a ensinar a sociedade a ter capacidade de identificar, compreender e controlar as emoções para evitar que elas se transformem em emoções reprimidas que orientem o nosso comportamento.

“Cada emoção reprimida deixará, de maneira sigilosa, o seu estigma em nosso comportamento através dos padrões emocionais que decidem por nós”.
– Elsa Punset –

É por isso que hoje se dá tanta importância ao conhecimento das nossas emoções reprimidas, já que isso envolve o conhecimento de nós mesmos e nos oferece a oportunidade de identificar o que acontece em nosso interior para agir a favor daquilo que sentimos.

Coração de papel

Compreender as emoções reprimidas é conhecer a nossa identidade

Conhecer o que acontece conosco é conhecer a nós mesmos. As emoções reprimidas são aquelas que nós não queremos escutar, ou aquelas às quais damos pouca importância; no entanto, são elas as que ganham mais força e acabam liderando os nossos comportamentos e pensamentos.

“Aquilo que você nega o domina. Tudo que acontece conosco, entendido adequadamente, nos guia até nós mesmos”.
– Carl G. Jung –

Conhecer as nossas emoções nos oferece a oportunidade de saber por que agimos de uma maneira ou de outra. Cada um percebe as situações em função dos seus sentimentos, é por isso que cada um age de uma forma diferente. Nossas experiências nos levam a ver o mundo de uma forma especial e única. Cada situação gera em nós uma emoção diferente, e é por isso que se conhecer leva à compreensão de como agimos.

Quando reprimimos emoções como a raiva, quando nos deixamos influenciar pelo medo, quando não nos permitimos sentir a tristeza, quando a vingança se fortalece, ou a dor é aquilo que fala, estamos dando espaço para um funcionamento independente das emoções não controladas e não dirigidas. Assim, elas falarão por si mesmas através das nossas ações.

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Stanford sobre as emoções revelou que os indivíduos com tendência a reprimir os seus sentimentos reagem com uma ativação fisiológica muito maior diante de determinadas situações do que outros, por exemplo, quando mostram ansiedade ou raiva.

Por esta razão, também é normal que os indivíduos que não expressam os seus sentimentos, ou têm mais dificuldade para fazer isso, apresentem mais problemas psicossomáticos como tensões musculares, dores de cabeça, reações dermatológicas ou doenças mais complicadas. Suas emoções se transformam e elas encontram a sua via de canalização por métodos menos funcionais.

A chave para lidar com as emoções

A memória do nosso corpo e a nossa mente

Às vezes nós enfrentamos situações e reagimos de uma forma que nos surpreende. Isso acontece pela memória das nossas experiências, as quais nós integramos, algumas vezes, de maneira consciente, e em outras de forma inconsciente. Quando reprimimos as emoções não colocamos um filtro, e permitimos que elas entrem em nossa memória sem perceber.

Nosso trabalho aqui é saber o que acontece e o que estamos sentindo em cada momento. Se não soubermos identificar as nossas emoções, não vamos poder controlá-las e conduzi-las. Por isso, o primeiro passo vai ser prestar atenção às emoções e dar a elas uma voz quando quiserem se manifestar. Se não dermos esse passo, estaremos nos reprimindo e deixando que elas funcionem sozinhas e de forma autônoma.

Quando entendemos o que está acontecendo podemos materializar e compreender por que isso acontece dessa forma. No momento em que escutamos, estamos em posição de compreender e controlar o nosso comportamento para, desse modo, agir de uma maneira global e compreensível. Na verdade, só quando damos voz às emoções reprimidas damos o passo de conhecer a nossa verdadeira identidade.

pensamento mais consensual nos últimos anos tem enfatizado o uso da razão sobre as emoções. Assim, fomos educados a dar pouca importância à emoção e à sua expressão. As pessoas tendem a moldar sua expressão emocional aos padrões socialmente aceitos, o que pode implicar reprimir ou negar determinadas emoções.

Algumas emoções foram catalogadas socialmente como negativas, tais como a raiva, a tristeza, a dor ou o medo. Um exemplo disso pode ser encontrado em frases que todos nós escutamos desde a nossa infância até agora, que são transmitidas culturalmente e que passam a fazer parte dos nossos pensamentos mais profundos.

É comum escutar expressões como “se virem você chorando vão pensar que você é fraco”, “se virem você com raiva vão pensar que você é um amargurado”, “controle-se, não chore”, “os homens não choram”, etc. Estes pensamentos são convertidos em dogmas e distorcemos a expressão dos nossos próprios sentimentos, criando assim predisposições para algumas doenças físicas, entre elas as doenças hepáticas.

 

A repressão emocional prejudica a nossa saúde física

Negar ou reprimir emoções culturalmente enviesadas como o medo, a tristeza ou a raiva não fará com que elas desapareçam, por mais que coloquemos areia por cima delas. Quando reprimimos as emoções, negando-lhes a sua expressão, o efeito de expressão e de movimento que é inibido é canalizado para o nosso interior.

Assim, por exemplo, quando reprimimos a raiva ou o medo, a tensão muscular que deveríamos experimentar nos músculos voltados ao nosso exterior, envolvidos na resposta típica de fuga ou ataque, é redirecionada para dentro, transferindo essa carga aos músculos e órgãos internos.

A longo prazo, a tensão que acompanha as emoções que foram inibidas acaba sendo expressada através de outras formas, como contrações ou rigidez muscular, dores no pescoço e nas costas, doenças gástricas, dores de cabeça e, é claro, doenças hepáticas.

O doutor Colbert apontou que as emoções que ficam presas dentro da pessoa buscam resolução e expressão. Isto faz parte da natureza das emoções, pois devem ser sentidas e expressadas.

maos-de-uma-mulher-se-machucando

Controlar as emoções é uma experiência um pouco ilusória em determinadas circunstâncias e com resultados muito enganosos. Por trás da fachada do controle que a pessoa arma, mantém-se um equilíbrio muito precário, já que tentar controlar só alcançaria uma transformação transitória da conduta externa, pois mais cedo ou mais tarde as emoções reprimidas vão precisar sair.

 

As emoções que atacam o nosso fígado

Situado abaixo do diafragma, o fígado é o órgão da desintoxicação. O fígado cumpre um papel primordial em todas as funções vitais: não só filtra e elimina os dejetos, mas também se ocupa de neutralizar venenos, toxinas, micróbios e substâncias cancerígenas. Quanto este órgão se vê afetado, ele irá desencadear várias patologias dentro e fora do fígado, afetando também outros órgãos.

Qualquer tipo de estresse ou pressão bloqueia de uma ou outra forma o funcionamento hepático, já que ao ficar tenso, o corpo dispõe toda a sua atenção na resolução daquilo que o agoniza e estressa. Isto é, até certo ponto, normal e saudável, mas quando o estresse é repetitivo e acentuado, o fígado irá bloquear cronicamente a sua atividade e estará predisposto a uma congestão.

A emoção que mais foi relacionada com os problemas hepáticos é a ira, segundo explica Macioccia (2009). O termo ira deve ser interpretado no seu sentido mais amplo, incluindo estados emocionais como ressentimento, irritação reprimida, frustração, irritação, raiva, indignação, animosidade ou amargura. Se estes estados persistirem durante muito tempo, o fígado pode ser potencialmente afetado, provocando estancamento.

figado

Para evitar que o nosso fígado seja afetado e para mantê-lo em ótimas condições, uma boa ideia é transcender o papel que a sociedade dá às emoções negativas. Em vez de evitar a ira e a frustração, devemos confrontar as situações que produzem essas emoções, falando sobre os temas que nos incomodam e solucionando as situações de estresse.