Funcionamento do cérebro humano:a teoria do cérebro trino.

05/07/2022 19:03

Propósito de Vida e Ikigai - Autoconhecimento

 

A estrutura evolutivamente mais antiga é o cérebro reptiliano, responsável pelas programações automáticas que se referem aos instintos de sobrevivência, como o medo, por exemplo. Depois, o que se desenvolveu foi o cérebro límbico, responsável por gerenciar respostas fisiológicas frente à estímulos emocionais, pelos sentimentos e pela interação com os outros. Os primeiros mamíferos a apresentar sistema límbico começaram a cuidar dos filhotes, coisa que os répteis não faziam. Por último na escala evolutiva, formou-se o neocórtex, estrutura responsável pelo pensamento cognitivo, presente nos mamíferos superiores. É no córtex pré-frontal que nasce o senso de auto-consciência dos seres humanos. Logicamente, todas estas estruturas trabalham juntas.

Nosso sistema límbico, se desenvolve, em média, até os 5 anos de idade, e o nosso neocórtex, até os 20 anos. Por estas razões, o período da adolescência está sendo considerado, até esta faixa-etária.

Já, nosso cérebro reptiliano, nascemos com este pronto. É o primeiro, em nossa escala neuroanatomica, localizado acima de nossa medula espinhal. É o primeiro a se desenvolver na gestação, e é o mais antigo, em nossa evolução. Nele, emerge nossos instintos, e nossas percepções mais primitivas, tais como, medo, sono, fome, proteção, humanidade, sobrevivência, defesa e ataque, ação e reação. dentre outras.

A teoria do cérebro trino foi criada na década de 70 pelo médico americano MacLean. Esta teoria consiste, em linhas gerais, que não possuímos apenas 1 cérebro, mas três estruturas cerebrais com funções específicas.

Estas estruturas ou formações anatômicas que constituiem o cérebro trino são o R-Complex (Cérebro reptiliano), o Sistema Límbico (Cérebro emocional) e o Neocórtex (Cérebro Racional). Cada cérebro se desenvolveu em épocas distintas, estando diretamente relacionado com as necessidades de cada época evolutiva.

Mas, quais seriam as funções de cada estrutura cerebral e por quais comportamentos estas seriam responsáveis? Até que ponto estas estruturas não somente influenciariam, mas “comandariam” nossos comportamentos cotidianos? Poderíamos ter o livre arbítrio no comando destas estruturas e seus comportamentos inerentes?

Não levando em conta as características de personalidade e da cultura em que cada pessoa está inserida, psiconeurofisiologicamente as pessoas geralmente não têm noção exata porque se comportam de tal maneira, porque tomam determinadas decisões precipitadas ou porque agem com impulsividade ou medo exacerbado em determinadas circunstâncias.

Você saberia explicar porque ficamos “cegos de raiva” e depois nos arrependemos da forma como reagimos? Você acredita que todas as suas decisões são realmente racionais? Você saberia explicar além das elucidações idiossincráticas e culturais porque as mulheres são mais emotivas?

Gostaria de deixar bem claro que estas informações que serão colocadas aqui não terão o intuito de legitimar nenhum comportamento que não é admissível em sociedade; muito pelo contrário. Este esclarecimento é exatamente para que tomemos consciência e reflitamos como se processam nossas reações e emoções a nível cerebral e como estas influenciam em nossos comportamentos, a fim de trabalhá-las.

No aspecto relacional, objetiva compreender e trabalhar comportamentos de impulsividade, tais como decisões precipitadas que possam arruinar a autoimagem ou de outrem, bem como destruir relacionamentos que poderiam ser pacíficos e duradouros. Por outras palavras, melhorar a convivência em sociedade através da conscientização e do autoconhecimento tendo como premissa a conservação do nosso bem maior: a vida.

Vamos conhecer cada uma destas estruturas e por quais comportamentos são responsáveis:

1- Cérebro Reptiliano.

O cérebro reptiliano, é o responsável por nossos instintos de sobrevivência, funções vitais, conservação, defesa e reprodução da espécie. Também é responsável pelos 5 sentidos, musculatura lisa, pressão sanguínea, arcos reflexos, a sensação de fome e saciedade, a salivação, os processos digestivos, o sono, a necessidade de sexo, a respiração, a manutenção dos batimentos cardíacos, o espirro, bem como pela manutenção da homeostase ou equilíbrio do organismo como um todo. Aqui não temos o comando, pois não decidimos acerca dos nossos batimentos cardíacos, respiração ou processos digestivos que estão no comando do sistema neurovegetativo.

É no cérebro reptiliano que o medo está predominantemente instalado e vivenciado, atuando nos mecanismos filogenéticos de luta e fuga. Todos estes instintos se encontram também nos répteis. Anatomicamente, o cérebro reptiliano é formado pela medula espinhal e pelo tronco encefálico.

Situações cotidianas:

Esta estrutura cerebral está relacionada aos comportamentos de territorialidade, necessidade de poder, competição e dominação. Em outras palavras, no cérebro reptiliano, os outros e o ambiente em dadas circunstâncias são percebidos e interpretados como ameaçadores, provocando reatividade como a agressão.

Sendo assim, você reconhece estes comportamentos em nossa sociedade atual? Na sua opinião, até que ponto de fato evoluímos? Somos de fato tão racionais assim?

2- Sistema Límbico:

Também conhecido por cérebro emocional, é responsável por respostas emocionais e sua regulação, bem como por experiências sensoriais, sonhos, aprendizado, imaginação e memória. Uma estrutura muito importante que compõe o Sistema Límbico é a amígdala cerebral, estando diretamente relacionada ao controle dos impulsos. No conhecido “seqüestro da amígdala”, é a emoção que comanda o cérebro. Neste momento, a pessoa “sai de si”, a “vista escurece”, a pessoa fica “cega de raiva”, reage desproporcionalmente ao fator desencadeante de estresse, fala o que não deveria falar e faz algo que certamente se arrependerá amargamente. Isto porque o Neocórtex, o qual irei falar no tópico a seguir, não participa deste processo e conseqüentemente não ocorre nenhuma racionalização do ato naquele momento específico, pois as emoções de reatividade e agressividade estão no comando, à “flor da pele”.

3- Cérebro Racional:

Também conhecido como Neocortex, evolutivamente é o cérebro mais recente, a última camada ou estrutura que recobre os outros dois cérebros. O Neocortex é diferenciado nos mamíferos e primatas, apresentando sulcos, fissuras e giros. Está diretamente relacionado ao desenvolvimento da linguagem, ao pensamento abstrato, aos movimentos voluntários, habilidades motoras e funções executivas como raciocínio, resolução de problemas, planejamentos e conclusões lógicas.

Aprendendo a gerenciar as emoções:

É impossível controlar as emoções, como escutamos recorrentemente. Contudo, você pode sim e deve aprender a gerenciá-las, administrá-las e conseqüentemente mudar sua conduta em um momento de muita raiva e estresse negativo. Isto não é somente possível, mas necessário. Sendo assim, quando sentir que está “saindo de si”, aprenda a ativar o córtex pré-frontal, parte integrante do Neocórtex que é responsável pelo seu “juízo”, pela avaliação racional do evento estressor. Durante o “seqüestro da amígdala”, esta parte racional está bloqueada, necessitando ser ativada para que as ações não sejam regidas somente pelo “calor das emoções”.

Existem muitas técnicas para que num possível seqüestro da amígdala, você não estrague a sua vida ou de outras pessoas. Explicarei melhor sobre estas técnicas em um outro momento, mas colocarei aqui duas bastante simples, mas que funcionam: a respiração profunda, a resolução de um pequeno cálculo matemático ou fazer algum planejamento são dicas que podem fazer a diferença em um momento de muita raiva. O contar até 10, embora muito simples, oferece um espaço de tempo para a ativação de áreas cerebrais responsáveis pela racionalidade. Em outras palavras, a estratégia fundamental para não “perder a cabeça” naquele momento estressor é a mudança de foco, enquanto você ganha tempo para ativar outras regiões do cérebro responsáveis por um olhar mais racional daquela situação e suas conseqüências.

No entanto, caso você seja uma pessoa excessivamente impulsiva, é necessário fazer uma avaliação profissional e realizar treinos com técnicas específicas. Entenda que problemas, desafios, diferenças ou resolução de conflitos nunca serão solucionados no “calor das emoções”. Portanto, é imprescindível desenvolver a inteligência emocional e o gerenciamento de suas emoções.

O cérebro neocórtex ocupa apenas 30% do crânio . Por este motivo, este cérebro  equilibra o limite entre os impulsos e o comportamento social aceitável, nos ajudando a manter relações harmônicas, evitando ações negativas e regulando impulsos como fome, sexo, tristeza, etc.

Reitero que a forma como operamos o nosso cerébro trino,irá repercutir de maneira positiva ou negativa em nossa qualidade de vida.

Você consegue perceber qual destas estruturas R-Complex (Cérebro reptiliano), o Sistema Límbico (Cérebro emocional) e o Neocórtex (Cérebro Racional) tem predominado na sua conduta?

Você só tem condutas automáticas?

Você sofre por causa dos outros e vive dominado pelo medo,raiva,tristeza,culpa e vergonha?

Enfatiza experiências passadas negativas e exacerba os obstáculos já conhecidos?

Ou você usa o cérebro para pensar, criar, aprender e ser feliz?

 

Pode ser uma imagem de texto que diz

Em nossa natureza trina, é preciso frear alguns aspectos de nosso cérebro reptiliano e emocional e ativar o neocórtex, racional e analítico, bem desenvolvido, para avaliar cada situação. O grande desafio é buscarmos aumentar a porcentagem de nosso neocórtex racional. Uma vez resolvidas nossas necessidades primordiais, reptilianas, devemos deixá-las dormentes, sem que cheguem com tanta força nas dimensões de nosso comportamento. Pois, ao que parece, conforme já citado por diversos autores históricos, o ser humano encontra-se em plena hipnose, reptiliana, deixando-se, inconscientemente, dominar-se por seus instintos primitivos, em vez de explorar, justamente, o que nos diferencia de todas as outras espécies, que é o nosso potencial de consciência racional. O ser humano historicamente, está automatizado, em padrões de ações e reações, defesas e ataques e proteções territoriais. Estas são características claramente reptilianas. No cunho popular, em diversa culturas diferentes, pode-se encontrar uma mesma expressão, tal como a famosa: ‘’Lei da Selva’’, quando deveríamos aproveitar mais a nossa consciência.

Desta forma, muitas literaturas, principalmente as de correntes filosóficas, já destacaram o quanto o ser humano não está utilizando o que se tem de melhor, que é o seu lado racional. Na contramão de nossa maior vantagem biológica, estamos automatizados, agindo e reagindo sem raciocinar com a qualidade que podemos.

Contudo, é fundamental termos consciência, do nível de complexidade, que envolve nossa natureza psíquica e cerebral, para que possamos equilibrar os eixos necessários, para nossa sobrevivência, desde nossa racionalização até nossa evolução e realização.

Estudemos, portanto, e criemos equilíbrio entre nosso mundo externo e interno, entre nossos lados, irracional, emocional e racional; entre os degraus de nossas necessidades; entre nossa mente consciente e inconsciente; sobretudo, um eixo pleno, entre nosso cérebro trino e a nossa realidade.

Faça uma analise da Roda da Vida abaixo, e descubra como você administra a sua existência.

 

 

 

A roda da vida é um instrumento de autoconhecimento e análise dos diversos setores que integram a vida, e que são considerados fundamentais para a conquista do equilíbrio pessoal. É uma ferramenta amplamente utilizada nos processos de coaching para auxiliar o profissional no mapeamento do nível de satisfação da pessoa em relação a cada esfera de sua vida.

A roda da vida é caracterizada por um círculo com doze divisões e cada uma delas representa uma área da vida, que deverá ser analisada e pontuada.

A pontuação é uma graduação de 0 a 10, onde 0 representa insatisfação total e 10 representa satisfação total. Esta classificação deve retratar o grau de satisfação atual em relação a cada setor da vida.

Reflexões sobre as informações obtidas

Mais do que avaliar o grau de satisfação, esse exercício nos fornece informações importantes sobre a forma como estamos empregando nosso tempo ,energia e se estamos operando apenas na espera  cerebral reptiliana  e emocional. 

Algumas reflexões importantes:

  1. Qual a quantidade de tempo e energia que dedico para cada setor da minha vida?
  2. Os setores para os quais estou dedicando mais tempo e energia estão me trazendo satisfação, plenitude e felicidade?
  3. Existe um equilíbrio entre os níveis de investimento nos diversos setores da minha vida? Estou apostando “todas as fichas” em um único setor?
  4. Se eu sofrer uma grande perda nesse setor “principal” (exemplos: ser demitido, passar por uma separação conjugal, romper com um grupo social, etc.) , os demais setores estarão alimentados de energia para me manter equilibrado apesar da perda?

Ainda que muito simples, a roda da vida pode ser um instrumento poderoso no exercício de autoconhecimento. A partir destes questionamentos e utilizando da máxima sinceridade nas respostas, podemos avaliar nosso cenário de vida atual e o cenário que desejamos para o futuro.

“Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade”