A relação entre pessoas narcisistas e pessoas complacentes

19/03/2022 22:52

 

Um dos efeitos de crescer em uma família narcisista é essas crianças acabarem se tornando adultos complacentes no futuro. Essa carência de afeto leva a comportamentos muito debilitantes. A seguir, vamos analisar melhor o assunto.
A relação entre pessoas narcisistas e pessoas complacentes

Algumas pessoas passam por cima de seus direitos e procuram apenas tirar vantagem de nós. Enquanto isso, outras deixam de lado as próprias necessidades e só aspiram a nos satisfazer, oferecendo o que precisarmos em todos os momentos. As pessoas narcisistas e as pessoas complacentes guardam uma relação curiosa, um vínculo único, porém determinante, do qual nem sempre somos conscientes.

Se existe uma verdadeira especialista neste assunto, é a Dra. Marie-France Hirigoyen. Psiquiatra e especialista em assédio moral, há algo relevante que ela deixa entrever no seu já lendário livro publicado em 1983, Los Narcisos han tomado el poder. Já naquela época, ela nos alertava que a personalidade narcisista está colonizando muitos de nossos cenários sociais: política, negócios, economia…

Porém, juntamente com a própria pessoa narcisista, sempre há também a pessoa complacente. Uma é o inverso da outra; elas muitas vezes se retroalimentam e, na maioria dos casos, a segunda pessoa é vítima da primeira. Trata-se de um tipo de vínculo tão destrutivo quanto silencioso, um aspecto que precisa ser mais discutido para que possamos tê-lo em mente.

Há sofrimentos invisíveis sobre os quais é importante lançar um pouco de luz.

Garota representando a relação entre pessoas narcisistas e complacentes

Pessoas narcisistas e pessoas complacentes: como se relacionam?

Há um fato realmente interessante: as consultas psicológicas estão cheias de pessoas complacentes. No entanto, alguém com perfil narcisista raramente pedirá ajuda. Isso ocorre porque, como bem podemos imaginar, essa pessoa não vê nenhum problema no seu comportamento ou no que está acontecendo ao seu redor.

As primeiras, por sua vez, chegam com baixíssima autoestima e também com a angústia de não serem boas o suficiente para os outros.

Esses homens e mulheres nem sempre estão cientes de que a sua eterna necessidade de fazer os outros felizes, passando por cima dos seus próprios direitos e necessidades, tem origem, muitas vezes, na sua história pessoal com um narcisista. Vamos analisar o assunto em detalhes.

Filhos de famílias narcisistas acabam sendo adultos complacentes

Elan Golomb, psicóloga clínica e professora da Universidade de Nova York, é referência no estudo dos efeitos da criação por progenitores narcisistas. Seu trabalho de pesquisa, intitulado Trapped in the Mirror: Adult Children of Narcissists, oferece vários fatos sobre esse assunto.

Nesta pesquisa, adverte-se que um dos efeitos de crescer em um ambiente narcisista é chegar à idade adulta como uma pessoa complacente.

  • Pais e mães narcisistas sempre colocam as suas necessidades antes das de seus filhos. Assim, pouco a pouco, as crianças aprendem a sacrificar e silenciar suas vontades, suas opiniões e, sem dúvida, as suas necessidades. Essa tendência vai se manter anos depois.
  • Nesses ambientes, há regras de controle extremo. As crianças acabam internalizando essas regras e, dessa forma, pensam desde muito cedo que a única maneira de serem aceitas ou reconhecidas é cumprir tudo o que os outros exigem delas.
  • Da mesma maneira, as famílias narcisistas sempre têm algum problema não resolvido, alguma carência que gera raiva e frustração. As crianças acabam agindo como socorristas para acalmar essas situações. Afinal, elas sabem que as coisas caminham melhor se os seus progenitores estiverem satisfeitos.
  • Crescer em uma família na qual um dos membros é narcisista, instila na criança a crença de que ela não é amada. Como resultado, isso a leva a ter que se esforçar muito e a fazer determinadas coisas para receber uma migalha de carinho ou reconhecimento. Esta tendência também se mantém na idade adulta, fazendo assim com que se tornem perfis claramente complacentes.
Garota pensando na relação entre pessoas narcisistas e complacentes

Casais afetivos: o narcisista e o complacente, um vínculo de sofrimento eterno

As pessoas narcisistas e as pessoas complacentes se atraem ou, mais do que se atraem, elas se complementam. No entanto, esse vínculo de conexão assume a forma de algemas, uma prisão com a qual o amor se torna dependência e sofrimento. Mas então… como explicar essa forma de atração?

  • As pessoas complacentes se sentem realizadas ao satisfazer as necessidades do narcisista. Elas se veem como socorristas, como salvadoras desse alguém que se deixa “alimentar”. Por isso, quanto mais, melhor. Afinal, elas estão mais uma vez repetindo o padrão que aprenderam na infância.
  • Por sua vez, o narcisista se sente reforçado por ter alguém com esse tipo de personalidade ao seu lado. Graças a isso, ele obtém poder, reforço, admiração, atenção, elogios…
  • A baixa autoestima das pessoas complacentes faz com que se tornem alvos perfeitos para o narcisista. Elas são manipuláveis e geralmente se contentam com muito pouco. Além disso, também não podemos nos esquecer das notáveis habilidades dos narcisistas para enganar. Eles aparecem com um ar deslumbrante, com o dom da atração e com uma determinação que cativa o complacente quase imediatamente, pois ele não hesita em ver nesse perfil alguém simplesmente perfeito.
  • Tanto os narcisistas quanto as pessoas complacentes precisam de afeto. Na verdade, tanto um quanto o outro são absolutos mendigos de amor. O narcisista, por um lado, precisa de afeto para reforçar o seu ego, tendo em vista suas enormes carências. Enquanto isso, o complacente anseia por ele para curar suas feridas. Infelizmente, esses relacionamentos geralmente não prosperam e é comum que ambos se tornem ainda mais fragmentados.

Para concluir, estamos diante de duas radiografias psicológicas de personalidades que raramente se sentirão felizes ou realizadas em suas vidas. Enquanto os narcisistas não têm consciência dos malefícios do seu comportamento, a outra parte, por sua vez, não percebe que não há nada tão nocivo quanto tentar dar aos outros o que não temos: amor próprio, autoestima, segurança…

Os narcisistas são egocêntricos, arrogantes, exploradores, e ainda assim cativam e apaixonam.

Uma pesquisa psicológica recente descobriu que nos sentimos estranhamente atraídos pelas pessoas narcisistas, pela sua personalidade egocêntrica, pelo seu domínio situacional e inclusive pela sua hostilidade.

Até os psicólogos sofrem desta fascinação em relação aos narcisistas, perguntando-se como conseguem ter tamanha influência sobre as pessoas e por que encarnam tantos paradoxos.

Por que amamos os narcisistas?

Os narcisistas e os seus encantos

A psicóloga social Mitja Back e seus colegas decidiram pesquisar o narcisismo.

Pediram a 73 estudantes, que não se conheciam entre si, que se apresentassem uns aos outros, um por um. Cada pessoa foi avaliada pelos outros com relação à sua simpatia; completaram vários questionários, incluindo uma avaliação de traços narcisistas da personalidade.

Os resultados mostraram que:

1. Os narcisistas são mais populares. São muito mais apreciados pelos outros do que os não narcisistas.

2. Os participantes perceberam o senso de autoridade dos narcisistas. Nos questionários de avaliação, os estudantes levaram em consideração quatro aspectos do narcisismo: liderança/autoritarismo, admiração de si mesmo/egocentrismo, a arrogância/superioridade e a tendência à exploração.

3. Os narcisistas agradam pela sua aparência, o seu tom de voz e o seu domínio dos movimentos. Costumam ter um espírito atraente que encanta quando os conhecemos.

A razão pela qual os narcisistas são mais populares é porque sabem como usar a expressão facial, como colocar um tom de voz que inspire confiança, se vestem e tem um corte de cabelo na moda e são mais divertidos.

Obviamente, esse efeito ocorre somente a curto prazo. Os narcisistas são, em geral, descobertos com facilidade e são imediatamente rejeitados. Poucas pessoas suportam um amigo que se aproveita dos outros, que é egocêntrico, autoritário e arrogante.

Os paradoxos dos narcisistas

Existem muitos paradoxos no comportamento narcisista e na forma como agem. A pesquisa psicológica lançou algumas perguntas:

  • Por que as pessoas narcisistas continuam a se comportar de forma egoísta, mesmo sabendo que podem estragar o seu relacionamento com as outras pessoas?
  • Por que os narcisistas tendem a subestimar os outros quando passam de admirados a rejeitados?
  • Por que os narcisistas não sabem identificar quando é o momento de interromper o seu comportamento antes de serem abandonados?
Por que amamos os narcisistas?

As duas primeiras perguntas podem ser parcialmente explicadas considerando que este comportamento é, no início, atraente para os outros.

Para os narcisistas, comportar-se de forma egoísta provoca a admiração dos outros, tornando-os dependentes.

Por outro lado, subestimar aqueles que o rejeitam é uma forma de esconder o fato de que já estão procurando outras “vítimas” que os sigam.

Além disso, este é o motivo pelo qual os narcisistas não detectam quando é o momento de parar antes de perder o companheiro ou seus amigos: a atração que provocam nas pessoas não dura muito tempo. Quem deseja criticar um narcisista pela sua atitude foge antes de enfrentá-lo.

Narcisistas e reality shows: um casamento perfeito

A melhor mostra para os narcisistas, hoje em dia, é um reality show. Este estudo mostra claramente porque os narcisistas são os concorrentes perfeitos para estes programas.

Capturam imediatamente a nossa atenção e simpatia com seu comportamento e segurança em si mesmos. Além disso, são chamativos e arrogantes.

Mais tarde, quando conseguimos descobrir a sua verdadeira natureza, tendemos a desprezá-los. Todos estes sentimentos fazem com que não possamos nos desgrudar da tela da TV.

Aplicando os ensinamentos deste estudo, podemos dizer que não se deve encorajar os narcisistas dando-lhes muita atenção ou provocando-os.

Eles não apenas podem nos prejudicar, como também nos manter implacavelmente bloqueados no círculo vicioso da atração e da rejeição.