A Maior Prisão do Mundo
A pior prisão do mundo é aquela que aprisiona a emoção humana e nos impede de ser livres e felizes. Ninguém pode contemplar o belo e irrigar sua vida com sentido se for prisioneiro dentro de si mesmo.
Quem está aprisionado exteriormente, por barras de ferro, ainda pode ser livre para pensar e sentir. Quem é prisioneiro interiormente, no âmago da sua alma, além de perder a liberdade de pensar e sentir, perde também o encanto pela vida, esmaga o mais belo elo da existência*.
É contraditório, mas nunca antes vivemos num mundo tão livre, sem escravidão e com consideráveis níveis de respeito pela expressão do pensamento, e também nunca tivemos uma quantidade tão grande de homens prisioneiros de tantas doenças psíquicas, vítimas de tantas misérias emocionais. Os escravos do passado eram mais livres do que aqueles que hoje estão sob o jugo do cárcere da emoção. Os negros do passado, embora tenham sofrido uma das mais terríveis violações dos direitos humanos, tinham mais liberdade do que aqueles que vivem no cárcere das crises depressivas e, principalmente, da dependência das drogas.
Não podemos desconsiderar os números. Milhões de jovens e adultos de todas as raças, culturas e condições sociais têm se submetido ao uso contínuo de substâncias psicoativas, ou seja, drogas que têm efeitos na psique. Ninguém que se interessa pelos grandes acontecimentos da humanidade pode se furtar de tentar entender esse grave problema social e descobrir quais são os motivos que impedem que a guerra do uso de drogas chegue ao fim. Por que as grandes e dispendiosas campanhas de repressão, envolvendo batalhões de soldados e aparelhos de rastreamentos, não exterminam com o tráfico de drogas? O que faz com que os projetos de prevenção tenham resultados tão inferiores, muito aquém dos esperados?
É preciso compreender o problema sob outra perspectiva. É preciso entender alguns mecanismos fundamentais do funcionamento da mente. Podemos não ser aprisionados pela droga química, mas certamente o somos pelos transtornos depressivos, pelas fobias, pelas reações impulsivas, pela incapacidade de pensar antes de reagir, pelos pensamentos negativos, pela solidão, pela crise do diálogo, pela ansiedade ou pelo estresse. Portanto, embora direcione mais minha atenção para a farmacodependência, este livro poderá ajudar a todos os que se interessam em descobrir algumas avenidas de sua inteligência.
Os farmacodependentes não são prisioneiros da dependência psicológica das drogas 24 horas por dia. O grau de dependência dependerá do tipo de personalidade do usuário, do tipo de droga usada, da freqüência do uso e do tipo de organismo. Contudo, mesmo nas dependências mais leves, quando o gatilho da memória é detonado, tais pessoas começam a ter um desejo compulsivo que trava suas inteligências. Esse desejo aumenta muito o nível de ansiedade, podendo gerar até sintomas psicossomáticos. Por isso, os usuários possuem, em determinados momentos, uma atração pelas drogas, e procuram uma nova dose para tentar se aliviar.
Uma pessoa portadora de fobia, tal como a de elevador (claustrofobia), tem reações semelhantes às de um dependente, só que opostas. Diante de um elevador ou de um lugar fechado, detona-se o gatilho da memória, gerando reações angustiantes que travam sua capacidade de pensar. A única coisa que interessa é sair do ambiente estressante. Quanto mais tempo ficar nele, mais intensificará a sua ansiedade, que será canalizada para produzir diversos sintomas psicossomáticos, como: taquicardia, suor excessivo, aumento da freqüência respiratória. Esses sintomas funcionam como um alarme avisando a pessoa para fugir do ambiente. E somente fugindo ela ficará aliviada.
Os portadores de fobia possuem uma aversão compulsiva pelo objeto fóbico e os portadores de dependência, ao contrário, possuem uma atração compulsiva pelas drogas.
Os usuários contínuos de cocaína, crack, heroína e outras drogas têm poucos momentos de alegria e liberdade. São prisioneiros e infelizes, pois com a instalação sorrateira da dependência, eles precisarão cada vez mais dos efeitos das drogas para estimularem a emoção.
Nada é mais dramático do que depender de uma substância ínfima para obter algum prazer emocional. Porém, o drama ainda não está completo. À medida que se agrava a dependência, o território da emoção dos usuários mergulha em estado de angústia, ansiedade e irritabilidade. Portanto, nesta nova fase, eles procurarão os efeitos das drogas, não para obter prazer, mas para tentar aliviar a dor decorrente do aprisionamento da alma. No início, drogavam-se porque as drogas produziam um oásis, porém, agora, drogam-se porque o oásis também se tornou seco e sem vida como o deserto.
As sociedades estão se democratizando cada vez mais e propiciando a liberdade exterior, todavia, paradoxalmente, em virtude da pulverização das doenças psíquicas, estamos cada vez menos livres por dentro. A farmacodependência, bem como outros transtornos psíquicos, são sinais de que o homem moderno, independentemente dos grandes saltos que deu neste último século, não é livre, saudável e alegre. Só não consegue ler estes sinais quem é incapaz de enxergar com os olhos do coração. Temos de olhar para dentro de nós mesmos e fazer uma revisão de vida.