A Grande MÀE
10/05/2014 14:00
A nossa sobrevivência subjetiva no mundo não depende somente da nossa mãe como pessoa, nem de seu caráter pessoal, somos influenciados , um padrão presente em todos os lugares e tempos históricos. Quer dizer, cada um de nós é como é, graças a uma forma pré-existente de mãe que fortemente, primeiro, atuou em nossos antepassados, sobre nossas mães e depois sobre cada um de nós. O arquétipo da Grande Mãe não pode ser reduzido à nossa mãe pessoal, ou a qualquer outra pessoa que tenha características de mãe, ou faça sua vez.
Hoje, Dia das Mães, enaltecemos o polo positivo deste arquétipo: a capacidade de gerar a vida, ou seja, a fertilidade; a solicitude e a bondade especialmente nos primeiros momentos de vida, durante o primeiro ano; a sabedoria, muitas vezes intuitiva, nos momentos que buscamos seus conselhos; a proximidade com o Sagrado, considerada como proteção contra os perigos que, diariamente, nos rodeiam.
Entretanto, como todos os arquétipos, o da Grande Mãe também possui um polo negativo, como pode ser percebido nos famosos contos de fadas que narram a relação mãe-filho: ora a mãe nos leva a vivenciar dificuldades, abandonos, sofrimentos, e a morte – situações metaforizadas na madrasta-mãe, na bruxa travestida de “boa mãe”, ou em nossas “rainhas-mães”.
Como afirma o médico e psicólogo analítico alemão Erich Neumann (1905-1960): “É à mãe que a criança dirige sua demanda de remoção do medo, e quando o medo não é removido, a mãe é percebida como a mãe “terrível” que recusa” (O medo do feminino. São Paulo: Paulus, 2000, p. 225). Mas, isto não quer dizer que a mãe seja, pessoalmente, culpada por isto. Simplesmente, a criança não tem possibilidades de entender que a mãe é inocente.
Para Neumann, de a mãe revelar-se “terrível” também é uma experiência arquetípica, pois independe do seu comportamento correto, como é parte do nosso processo de maturidade psicológica.
Quer dizer, necessariamente, as mães “são terríveis” queiram ou não queiram, gostem ou não gostem. É impossível não sê-lo.
Mas, ainda segundo Neumann, se permanecermos cultivando a figura idealizada da boa mãe, o lado positivo do arquétipo, negando seu lado “terrível”, por temer as consequências, como o inevitável sentimento de culpa, não só podemos apresentar “neuroses típicas de ansiedade, e a fobias, mas também, e especialmente, a vícios, e, se o ego for destruído de maneira extensa, a psicoses” (p. 233).
A nossa realização como pessoas depende, e muito, de aceitarmos o lado “terrível” de nossas mães, ou como nos ensinam os contos: encontrar sozinhos o caminho de volta para casa, guiando-nos pela riqueza interna que os sofrimentos nos fazem encontrar, e realizar um trabalho interno com os sentimentos de culpa, enérgica e amorosamente, representado na atuação dos anõezinhos e do príncipe.


