A Função dos Mitos

09/02/2014 17:44

 

24MAI

De acordo com Brandão, “O mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente uma representação coletiva que chegou até nós através de várias gerações”.

O mito tem várias funções, e a representação coletiva que chegou até os dias de hoje mostram que uma destas funções é didática. No mito, existe uma tradição que mostra exigências espirituais semelhantes à de culturas primitivas existentes. Os ritos praticados em religiões, definindo religião como atitudes conjuntas e atos feitos pelo homem que o fazem se ligar ao divino faz o homem incorporar o mito. E reproduzir os heróis e deuses, como resume Brandão: “O rito é a práxis do mito. É o mito em ação. O mito rememora, o rito comemora”.

O rito então fornece ao homem a vivência do mito, que como afirma Brandão, não é uma fabulação vã, mas realidade viva que se recorre incessantemente trazendo sabedoria prática, o mito então, torna-se ingrediente vital da humanidade, pois impõe princípios morais existentes na sociedade até os dias de hoje.

Os deuses em mitos de todas as épocas e culturas apresentam diversas facetas, onde se pode retirar um aprendizado prático. Os deuses neste sentido ambíguo apresentam configurações oriundas das tendências inconscientes dos homens.

O americano Edwin Reesink, antropólogo da Universidade Federal da Bahia diz que “A maior parte das entidades divinas é ambígua. Elas apresentam um lado rígido e outro benevolente. Se você cumpre o ‘trato’, é recompensado; se é ‘infiel’, será punido”.

Os deuses representam figuras de autoridade e quando estas figuras são transmitidas aos homens, observamos através da história excentricidades dos reis e governantes e idéias que não representam corretamente o que o mito pretende realmente passar, mas de qualquer forma representam o poder divino da forma ambígua que os deuses possuem, ou seja, tudo depende do cumprimento do ‘trato’ com a autoridade acima dos homens.

A benevolência ou malevolência divina tem como função alertar os homens para perigos morais e físicos, mostram as conseqüências de ignorar as regras predeterminadas. Os deuses serão rígidos com aqueles que fogem as regras, e devem ensinar valores aos homens, como explica Charles Chiasson, professor de mitologia grega da Universidade do Texas, EUA: “Com certos assuntos não se deve brincar. Assim, para ensinar lições importantes, os deuses mostram um lado mais duro”.

E assim como os deuses eram ambíguos, a relação dos homens com os deuses também era. Analisando o mito de Ares, o deus grego, observa-se o quanto ele é odioso, um deus sedento de sangue e todas as rivalidades, como as familiares, a exemplo da guerra fratricida dos filhos de Édipo que culmina na morte dos irmãos pelo trono, são a síntese do que ele representa como explica Marlene Suano. Mas a guerra promovia não só a violência, mas também desenvolvia a sociedade, e apesar de Atena ser a representante da estratégia, simbolizar a parte nobre da guerra e a expansão da civilização, é impensável a idéia de uma guerra, sem a violência e a dor, assim o rejeitado Ares tem sua parcela didática em seu mito, pois um bom guerreiro necessita de Atena e Ares.

 

Édipo - Mitologia grega

Mas mesmo Atena, representando a justiça, não estava sempre disposta a perdoar e impunha castigos severos. Com a lição de não desrespeitar os templos dos deuses, Atena transforma Medusa, uma linda mulher, em um monstro, por ter profanado seu templo em uma conjunção carnal com Poseidon, no entanto, conta Ovídlo (século I d.C.) que Medusa foi seduzida pelo deus dos mares, mas isso não impediu que fosse punida e mais tarde, depois de morta por Perseu, colocou sua cabeça em seu escudo, para certificar-se de que esse exemplo não seria esquecido pelos homens, como explica Marlene Suano:“Os deuses dos mitos não são bons ou maus, mas necessários em suas funções”.

 

Referência bibliográfica:

SUANO, Marlene. Deuses da mitologia. São Paulo: Editora Duetto.

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. 3ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.

ONÇA, Fabiano. Revista Superinteressante, edição 212, abril 2005, in: Chiasson, Charles, Reesink, Edwin.