A felicidade é um estado mental.

14/03/2019 19:46

Os livros e palestras fazem parte de uma completa e enviesada vitrine com diferentes fórmulas para alcançar a felicidade estruturadas ao redor de constantes difusas. Muitos compartilham o mesmo erro: situam a felicidade fora de nós.

Então, diante deste panorama, surge uma pergunta, por que é preciso existir uma ideia compartilhada de felicidade? Uma definição que sirva para mim, para o meu vizinho e para as pessoas que estão do outro lado do planeta?

A felicidade não deixa de ser sensível às circunstâncias e, portanto, à individualidade. Talvez seja melhor falar de formas complicadas de sermos felizes, de sonhos que idealizamos muito e, quando desaparecem, deixam um enorme vazio.

Escadaria nas nuvens

 

A felicidade é um estado mental; buscá-la fora de si é um erro

Tudo ao nosso redor nos faz buscar a felicidade fora de nós. Ou seja, se comprarmos um carro novo, seremos felizes; se tivermos um parceiro, nos sentiremos extremamente realizados, por exemplo. A publicidade só reforça esta ideia. O perigo é que talvez estejamos falando de alegria, e não de felicidade.

A felicidade parece mais um estado, algo que tem a ver com o que permanece e não com o que se dissipa mais rápido do que as bolhas do champanhe. Um eco que sobrevive às emoções; que aconteça o que acontecer, nos acompanha. Talvez estejamos falando de uma habilidade para juntar as peças do que acontece conosco, de forma que aprendemos e nos sentimos bem.

“Incapazes de encontrar a felicidade em nós mesmos, a buscamos desesperadamente em objetos, em experiências, em formas de pensar ou de se comportar cada vez mais estranhas. Em poucas palavras: nos afastamos da felicidade procurando onde não existe.”
-Matthieu Ricard-

O poder dos nossos pensamentos

Se a felicidade é um estado mental, então nossos pensamentos são os atores principais. Um elenco que, motivado por emoções ou pelo que nos acontece, nem sempre interpreta um roteiro favorável aos nossos interesses. No entanto, o positivo disso é que nós podemos intervir neste roteiro. Para isso, nós só precisamos observá-los. Assim, pode ser importante praticar meditação.

Identifiquemos a grande quantidade de pensamentos automáticos que temos em um dia e que são queixas, julgamentos, reclamações, autocríticas, etc. Ser consciente disso é muito revelador. Descobriremos ou re-descobriremos uma parte de nós que podemos ter esquecido ou que, talvez, nunca tenhamos reparado que existia.

Se virmos um erro como uma oportunidade, uma demissão como uma empurrãozinho para mudar de emprego (algo que sempre quisemos fazer), estaremos dando um grande passo em direção ao estado de felicidade. Ou seja, o ato de favorecer os pensamentos positivos acima dos negativos é o segredo.

Compartilhar a felicidade

 

Sentir-se bem não quer dizer que não existam pensamentos negativos em nossa mente; significa que ela será um lugar mais difícil de sobrevivência para estes pensamentos negativos.

Aquele que é considerado “o homem mais feliz do mundo”Matthieu Ricard, explica que podemos pensar no mar para entender esta questão. Embora sua superfície seja alterada pelo vento ou por uma forte sucessão de ondas, lá embaixo ele permanece calmo.

“Refiro-me à felicidade como uma profunda sensação de florescimento que surge de uma mente excepcionalmente sã. Isso não é uma mera sensação prazerosa, uma emoção fugaz ou um estado de humor; e sim o melhor estado de ser. A felicidade também é uma forma de interpretar o mundo, já que embora seja difícil mudar o mundo, sempre é possível mudar a forma como o vemos”.
-Matthieu Ricard-

Muitas pessoas entendem a felicidade como bem-estar, outras como equilíbrio. Não como algo momentâneo, mas algo mantido no tempo. Mas, para que isso seja possível, temos que encontrar nossa própria definição de felicidade, vesti-la de forma inteligente, com bagagens que comportem nossos desejos.

Em resumo, afastar-nos das “verdades sobre a felicidade” que a publicidade tanto enfatiza pode abrir um grande espaço diante de nós, no qual podemos decidir o que queremos que se instale ali. Mais do que comprar ou adquirir, trata-se de escolher com sabedoria.

O bem-estar, assim como o equilíbrio interior, não é algo que mude por si próprio. As emoções condicionam a qualidade de vida e influenciam nossas decisões e escolhas. Assim, é importante conhecer os erros emocionais que limitam a nossa felicidade para começar a combatê-los.

O próprio Daniel Goleman disse, em seu livro ‘Como Ser Um Líder’, que pelo menos 80% do sucesso que nós alcançamos em nossa vida depende da habilidade de controlar as emoções.

Ele não se refere exclusivamente a alcançar um cargo de importância nas esferas profissionais. Não se trata tampouco da habilidade de nos convertermos em pessoas de referência, ou em sermos gurus indiscutíveis em determinadas competências.

“Pode ser que o que fazemos não traga sempre a felicidade, mas se não fizermos nada, não haverá felicidade”.
– Albert Camus –

Falamos, em essência, de algo mais simples: de ser feliz. Porque a felicidade, e isso nós acabamos descobrindo cedo ou tarde, não aparece um dia na porta de casa em companhia do carteiro. A felicidade é um estado interior que deve ser trabalhado diariamente como um delicado jardim.

Devemos eliminar as ervas ruins, devemos plantar determinadas sementes, devemos podar com acerto alguns galhos e não outros, e devemos saber acrescentar os nutrientes certos na terra.

Sabendo disso, ser competente em matéria de inteligência emocional pode facilitar muitos caminhos. Em algumas ocasiões, longe de agir com essa prudência de quem já adquiriu boas ferramentas neste saber, nos deixamos levar.

Limitamo-nos a ir cegamente, agindo por instinto e apoiados, quase sempre, em uma educação ineficaz relacionada às emoções e sentimentos.

 

Combater os erros emocionais para alcançar a felicidade

 

Três erros emocionais que limitam a sua felicidade: a negação

Vejo que você não conseguiu, como você se sente, tem certeza de que está bem? É sério que você não está bravo? Tem certeza de que não está acontecendo nada? Você me garante que o que aconteceu não importa? Devemos simplesmente esquecer o que aconteceu?

Estes são apenas alguns exemplos da ampla lista de questões que estamos acostumados a enfrentar no dia a dia, e das perguntas que respondemos habitualmente do mesmo modo: “Não está acontecendo nada, está tudo bem”.

Ocultar ou negar os sentimentos é uma reação quase normal em muitos de nós. Este é, sem dúvida, um dos piores erros emocionais que limitam a nossa capacidade de sermos felizes.

Nem sempre podemos ser transparentes, mas poucos princípios de higiene pessoal são tão relevantes quanto praticar a assertividade emocional.Porque reprimir ou dissimular o que dói não nos deixará mais fortes nem mais competentes. Ao contrário, irá nos rompendo pouco a pouco.

Lembremos que nós somos pessoas, que não somos como o mar e as ondas, que se quebram todos os dias sem reclamar. Nós temos o direito e o dever de evidenciar aquilo que dói, de nos queixar, de ser sinceros.

Nossas crenças podem limitar a felicidade

 

Fugir dos sentimentos incômodos

Existem emoções das quais ninguém gosta. Sentimentos que incomodam, que deixamos de lado porque não os toleramos em nossas vidas. A raiva, a frustração, a decepção, a angústia, etc. Optamos por colocá-los em um canto porque, além de não agradarem, não sabemos o que fazer com eles.

Esquecemos algo que Antônio Damasio, o famoso neurologista, costuma dizer. Somos seres emocionais que um dia aprenderam a pensar. Não somos máquinas que, um dia, perceberam que podiam sentir.

Portanto, o ato de dar espaço às emoções, de deixar que elas fluam e encontrem o seu lugar, é um modo de aceitarmos a nós mesmos e investirmos na nossa saúde mental.

Eu tenho que ser feliz!

O terceiro dos erros emocionais é uma necessidade muito em alta atualmente: a obsessão por ser feliz. Perseguimos a felicidade como quem embarca em uma viagem sem destino. Como quem vai às compras e não sabe o que comprar, como quem sente um vazio imenso que quer preencher.

Essa angústia, a de intuir que falta algo, nos leva a uma simulação de felicidade que não preenche nem satisfaz. Ao contrário, em alguns casos, só traz mais frustração.

Paremos por um instante, apenas um momento para respirar e refletir. O que fazemos frequentemente é nos contentar com simples gratificações, sem investir realmente em um projeto sólido. Esse projeto não é outro diferente de nós mesmos.

Poucos erros emocionais são tão graves quanto procurar fora aquilo que deve estar em nosso interior. Entender isso vai nos evitar grandes sofrimentos.

Erros emocionais que limitam a felicidade

 

Trabalhemos diariamente nessa delicada joia na qual se fundem a autoestima, o amor próprio, um projeto de vida, a assertividade e a paixão.

 

Porque toda vida com significado nos aproxima da felicidade, porque todos esses erros emocionais podem ser consertados e corrigidos hoje mesmo, se houver vontade.

É possível encontrar a felicidade nos pequenos gestos. Quem disse que só se encontra a plenitude nos grandes acontecimentos e nas conquistas da vida? Cada dia tem o seu próprio valor, e cada ato o seu próprio significado. Por mais rotineiro que seja esse ato, incide em sua maneira de ver e de experimentar a sua essência.

A capacidade de sentir felicidade nos pequenos atos é quase um dom. Não viemos ao mundo com ele. Vamos construindo-o à medida que descobrimos que este é um segredo para estar bem. Ele demanda o esforço e a constância para se transformar em uma atitude estável diante da vida.

“Esperar uma felicidade muito grande é um obstáculo para a felicidade”.
– Bernard Le Bouvier de Fontenelle –

Se você olhar bem, na realidade não existem as ações insignificantes. Nós as vemos desta forma porque as consideramos como cotidianas e supomos que elas não têm um maior efeito sobre as nossas vidas. No entanto, se você pensar, vai perceber que até a forma como você acorda impacta de alguma maneira o seu dia a dia. A mesma coisa acontece ao encontrar a felicidade nos pequenos gestos, como os que compartilhamos a seguir.

Dicas para encontrar a felicidade nos pequenos gestos

1. Um inventário de felicidade

Antes de mencionar algumas maneiras de encontrar a felicidade nos pequenos gestos, diremos primeiro que cada pessoa deveria fazer o seu próprio inventário. Uma lista que contenha todas essas coisas que parecem insignificantes, mas que geram uma sensação de bem-estar ou satisfação.

 

Mulher deitada na grama

 

O objetivo desta lista é fazer com que você seja consciente de como os pequenos momentos de felicidade estão ao seu alcance o tempo todo. Você pode fazer uso deles quando precisar. Isso faz referência às ações como tomar um sorvete, observar a chuva a partir de uma janela, ou se levantar cedo e sair para respirar ar fresco. Não importa o que seja, cada pessoa tem o seu próprio catálogo de pequenas coisas que a fazem feliz.

2. Organize, jogue fora e recicle

Apesar de parecer estranho, organizar os espaços e os objetos pessoais traz consigo uma importante sensação de bem-estar. Apesar de você realizar essa tarefa com objetos externos a si mesmo, acaba produzindo uma sensação de ordem interior muito agradável.

Quando você se sentir desanimado, nada melhor do que dedicar um pouco de tempo para organizar o seu espaço, as suas coisas, os seus pertences. Não encare essa tarefa com rigidez, nem pretenda arrumar todo de uma só vez. Aproveite para repassar as coisas do seu entorno e cuidar delas.

3. A natureza e os pés descalços

O encontro com a natureza sempre é uma boa opção para lembrar que estamos vivos e merecemos ser felizes. Você não precisa sair da cidade, nem organizar um programa complicado para sentir a natureza por perto. Basta ir a um parque no qual se sinta bem e passear um pouco contemplando a vegetação.

Pés caminhando com plumas voando

 

Caminhar descalço sobre a grama é uma verdadeira terapia. Trata-se de uma atividade que renova a energia e que vai relaxá-lo profundamente. Na verdade, caminhar descalço em qualquer espaço sempre é uma boa opção. Se for possível caminhar sobre a grama ou a areia, melhor ainda.

4. Sorria e abrace

Certamente amamos muito as pessoas da nossa família, o companheiro sentimental e os amigos. No entanto, nem sempre expressamos isso de forma concreta. Um dos pequenos atos que nos fazem felizes é criar situações para demonstrar esse amor de uma forma mais evidente.

Que tal se hoje você abraçar o seu filho, sem uma razão especial, e disser o quanto o ama? Você pode fazer a mesma coisa com o seu companheiro sentimental, com os pais, ou com as pessoas que são importantes para você. É renovador e maravilhoso fazer algo assim, sem nenhuma superficialidade. Além disso, não se esqueça de presentear as pessoas com pelo menos um sorriso por dia.

5. Caminhe e respire fundo

Nunca esqueça o enorme valor do descanso. Acostume-se a respeitar de forma sagrada as pausas de lazer, que são determinantes para a saúde física e mental. Descansar é algo que você deve fazer diariamente, várias vezes ao dia.

Uma maneira genial de descansar é se permitir fazer uma pequena caminhada; pode ser de dia e quando o sol estiver ainda no céu. Trata-se de um dos atos mais relaxantes que, além disso, liberam o estresse e fazem você se sentir melhor. É importante respirar o ar fresco, não se confinar o tempo todo em espaços fechados.

Pessoa deitada em campo de flores

 

Como mencionávamos no começo, é possível encontrar a felicidade nos pequenos gestos. É uma soma dos momentos agradáveis. Podemos construir um estilo de vida em que essas pequenas ações tenham um verdadeiro significado. Com certeza, a consequência disso é um melhor estado de ânimo e mais alegria de viver.