A alma coletiva
Recentes manifestações são explicadas pelo psiquismo coletivo, composto de vários psiquismos individuais, o que resulta em um produto totalmente novo

Autoridades brasileiras foram surpreendidas com as recentes manifestações de rua que aconteceram em todo o País. A bem ver foi uma verdadeira “epidemia” de protestos, os quais forçaram os políticos a capitular. Deram marcha à ré no aumento dos preços das tarifas de transportes e na PEC 37. Além disso, esses movimentos levaram à discussão sobre reformas políticas no País. Que é isso, qual a natureza dessa força colossal capaz de ditar caminhos, eclodida aqui no Brasil e em outras partes do mundo (por exemplo, Turquia e Egito)?
É a alma coletiva, o psiquismo coletivo, composto de vários psiquismos individuais, com suas heterogeneidades, os quais, fundidos uns aos outros, resultam em um produto totalmente novo. Em outras palavras, a alma coletiva (psiquismo coletivo) não é somente a união numérica dos seus membros individuais que lhe dá a potência, ou seja, uma cifra sujeita à lei simples da aritmética, mas uma fusão de partes variadas, isso porque cada psiquismo, na sua singularidade, é uma entidade que obedece à lei complicadíssima da química e que, unindo-se a outra entidade semelhante, e essas às outras, dão origem a um fenômeno sempre surpreendente, de combinação e de fermentação, uno e próprio. Lembre-se de que a junção de dois gases pode gerar um elemento líquido.
Dito de outra maneira, a reunião de homens não é uma soma, mas sempre um produto, em cuja fórmula se encontra um catalisador dos diversos elementos psíquicos e individuais, permitindo que se encontrem, neutralizem e fundam. No caso do Brasil, esse catalisador é o sentimento comum de revolta que cada indivíduo tem em particular contra aquilo que lhe incomoda física e moralmente, como se viu nos diferentes cartazes levantados nas manifestações (“Abaixo a PEC 37”, “Hospitais Padrão FIFA ”, “Fora Renan” etc.), aparentemente díspares, porém, todos em uníssono e no mesmo sentido afetivo, como caminheiros da mesma peregrinação.
A alma coletiva sempre tem dinâmica própria, mas o seu destino é incerto, tudo pode acontecer. Dependerá do fluxo e do refluxo dos elementos constituintes, do tête à tête, das mensagens de casa em casa, de computador em computador, a manter a aglomeração viva ou desaparecendo na noite do nada.
Quanto à força da alma coletiva, aqui cabe a analogia de que cada alma individual é tal qual uma gota de água no mar: bem pouca coisa em si mesma, mas uma quantidade imensa quando unida ao seu semelhante, uma potência terrível que surpreende por sua força e suas ondas que podem a tudo submergir, até restabelecer- se a calmaria.


