A aceitação é o caminho para superar o luto

15/11/2017 18:46

Mulher tentando superar o luto


A morte faz parte do ciclo da vida, mas nem por isso é um acontecimento fácil de superar. Após a morte de um ente querido ou uma separação de um casal, entre muitas outras situações dolorosas que podem acontecer, você precisa entrar no quarto do luto. No entanto, às vezes ficamos presos dentro desse quarto porque nos esquecemos de que não é possível superar o luto sem aceitação e sem sofrimento. Aceitar é reconhecer essa nova realidade e aprender a viver com ela.

Todo luto exige vontade, compromisso, fé, recursos, etc. Por outro lado, é um período difícil: no primeiro momento negamos o que aconteceu, para depois surgirem outras emoções como a irritação e a raiva. Então, o nosso mundo “desaba” e sentimos muita tristeza. Os sentimentos de vazio e dor surgem com maior intensidade para finalmente aceitarmos o que aconteceu. Mas, durante todas essas fases sofremos muito e, às vezes, esse sofrimento nos leva a ficar estagnados em alguma delas.

Podemos passar uma longa temporada negando que essa perda ocorreu: é muito doloroso encará-la de frente. Talvez seja mais fácil nos irritarmos, culpar os outros ou o mundo pelo que aconteceu. Portanto, ficamos lá, sem nos permitirmos chorar, ficar triste, libertar toda a tristeza que sentimos por dentro.

Não há luto que se cure sem lágrimas, momentos de solidão e tristeza, sentimentos de desesperança e a perda do desejo de seguir em frente.
Não é possível superar o luto sem sofrimento

Pode parecer paradoxal, mas não há cura sem dor. Precisamos nos afundar no poço dos nossos sentimentos: perceber o nosso sofrimento enquanto tentávamos negar o que aconteceu, perceber toda raiva e irritação que sentimos, para depois liberarmos toda a tristeza que se instalou no nosso interior. Nesta penúltima fase, quando o desespero aparece, a situação se torna mais crítica devido ao perigo do abandono e da depressão.

A desesperança nos tira o desejo de viver. Nos sentimos vítimas das circunstâncias e inconscientemente buscamos a depressão. Acreditamos que não temos forças para avançar e sair desse poço em que mergulhamos. Um poço que parece não ter saída.


No entanto, tudo é o resultado da nossa perspectiva, ou pelo menos uma boa parte: criamos a realidade que desejamos perceber. De alguma forma, nesses momentos a dor é tão profunda que acreditamos que não há esperança para nós: estamos presos em um quarto escuro e não temos forças para sair.

Podem passar semanas, meses, e esse sentimento nos mantém presos. No entanto, a dor que alimentamos acabará cessando e nos cansaremos dessa situação em que nos envolvemos. Um dia vamos acordar querendo sair desse poço de tristeza, onde estamos afogados nas nossas próprias lágrimas.

Se você se sente sem energia, se o desapontamento e a tristeza se apoderaram de você, o mundo pode tornar-se insuportável. Mas pense nos momentos em que você foi feliz. Era muito bom, não é mesmo? A nossa visão do mundo muda, dependendo de como nos sentimos

Embora saibamos que não conseguimos superar o luto sem sofrimento e aceitação, na próxima vez que entrarmos no mesmo quarto, provavelmente nos sentiremos tão desajeitados como na primeira vez. Isto acontece porque temos medo de sentir e, quando sentimos, ouvimos uma pequena voz interior que nos diz que essas emoções serão para sempre. É por isso que queremos fugir.

Quando não temos outra escolha senão lidar com a situação, utilizamos certas estratégias para evitar a dor. Então, passamos por todas as fases do luto, cada uma mais dolorosa do que outra. Evitamos a aceitação, mas o que evitamos tanto nos libertará. Aceitar não é esquecer: significa continuar vivendo, buscando novos caminhos e novos sonhos.

O poço, na realidade, é um túnel! Deve ser percorrido, entramos e temos que sair. No entanto, o nosso medo de sentir, de experimentar e aceitar a realidade, a nossa falta de esperança, nos fazem percebê-lo como um poço onde nada tem sentido.

Por essa razão, muitas vezes, com a morte de um parente ou uma separação de um casal, acreditamos que não vamos encontrar a felicidade novamente e seguir em frente. Acreditamos que não haverá mais realizações ou aventuras. Nós nos apegamos tanto a essas pessoas e situações vividas que acreditamos que não poderemos continuar vivendo. No entanto, não é bem assim. Para compreender e superar o luto é preciso abraçar a dor, senti-la e, finalmente, aceitá-la para seguir em frente.
“Em todo caso, havia apenas um túnel, sombrio e solitário: o meu”.
– Ernesto Sabato –

quele que sofreu uma perda muito próxima sabe do que estamos falando. O luto patológico é como uma espiral de dor que cresce no interior tornando cada vez mais difícil respirar e viver. É o ar que falta diariamente, é o consolo que não existe, é a falta de esperança que cobre o nosso presente.

O luto, essa fase completamente normal na qual todos mergulhamos quando acabamos de perder alguém (ou alguma coisa importante em nossas vidas), é um momento doloroso para quem o vive. Mas quando este se prende à pessoa, quando não tem fim e quando impede de viver em paz, estamos falando de um estado diferente. Esse salto qualitativo no processo leva ao chamado luto patológico.

É um tipo de sem-descanso emocional. Uma tortura encarnada na rotina, no sentir… no próprio corpo. Mas como é possível distinguir um do outro? É muito importante alertar para estas diferenças porque condicionam a forma de trabalhar o luto. Além disso, seja a nível profissional ou por um relacionamento que a gente mesmo tenha com seu próprio luto, a forma de trabalhar também mudará em função de estarmos vivenciando um estado ou outro.

O luto patológico aparece quando a dor é contida ou negada

Existem muitas pessoas para as quais a dor é um tipo de areia movediça da qual querem sair, mas enquanto se movem ou esperneiam sentem que cada dia que passa no calendário ficam mais presas. Muitas vezes a causa dessa sensação é o fato de que não aprenderam a se relacionar com a sua própria dor. Não cumpriram esse aprendizado porque não admitiram que essa dor existia. De fato, muitas pessoas que ficam presas em um luto patológico jamais admitiram essa dor, por mais evidentes que fossem os sintomas.

Nesse sentido, existe um pensamento no seio da sociedade que é uma prisão para esta dor: “Sentir dor é para covardes, é preciso ser corajoso, como me ensinaram desde bem cedo”. Esta crença silencia o luto e o reduz à intimidade, o lugar onde esta bomba causa mais destroços e aflições.


Este tipo de mecanismo de pensamento não ajuda a percorrer o caminho do luto. Só o piora. O torna arraigado. Tantas pessoas negam o seu luto, se colocam como figuras indestrutíveis nas suas famílias e engolem qualquer manifestação de “vulnerabilidade”. Porque “agora não é hora de estar triste”, “ele nunca teria desejado isso”.

Luto patológico

Estes pensamentos não fazem nada senão nos prender ao processo vivenciado, um luto patológico. O negam e o encapsulam. O jogam para debaixo do tapete ou o lançam no baú dos “objetos esquecidos – sempre lembrados”. Quanto mais esforço eu fizer para sufocar alguma coisa e impedir que venha à tona, mais aumentarei o que estou encobrindo, dando-lhe ao mesmo tempo o controle de como se manifesta. Chegará um ponto em que isso que a pessoa fez para evitar a dor será inútil, e ela sairá como a lava de um vulcão que estava esperando entrar em erupção.

Nosso corpo é sábio e expressará essa dor mesmo que a mente queira distraí-lo

Se existe uma “força” no nosso corpo que reprimimos, com total certeza terá que sair pelo outro lado. Muitas vezes estas pessoas desenvolvem sintomas somáticos. O que não sai em forma de relato verbal, sairá de forma corporal e comportamental. Não podemos enganar nosso ser. Somos corpo e mente. Nosso corpo e nossa mente estão intimamente ligados, de forma que as causas têm efeitos em ambos os lugares.

Outras vezes o luto se complica quando ultrapassa barreiras de tempo. Quando passam os anos e o sofrimento continua estanque e imóvel. Quando não perdeu intensidade, nem foi revertido em um aprendizado de vida.

Intensificam-se os “sintomas” normais do luto. Podem desenvolver transtornos depressivos, quadros de ansiedade e uma desadaptação a nível comportamental que impeçam um funcionamento normal na vida de uma pessoa. Desenvolvem sintomas que podem levar a outros problemas associados. Nestes casos será preciso intervir o quanto antes para não agregar mais sofrimento ao que já existe.

A terapia ajudará a dar novos significados a esta experiência tão dolorosa

É muito importante não negar as emoções que sentimos, mas também é importante poder trabalhar com elas quando estas nos superam a ponto de parecer impossível continuar existindo. A terapia ajudará a trabalhar essa perda que foi arraigada, já que cada pessoa é um mundo, com uma riqueza totalmente única e diferente dos outros.

Como enfrentar o luto patológico

Sempre haverá orientações que nos ajudem a tornar mais fácil o dia a dia quando estivermos nesta situação. Neste sentido, é importante contar com alguém para compartilhar a própria dor. Alguém com quem poder construir pouco a pouco novos significados sobre esta experiência. Uma experiência dolorosa, mas cheia de sabedoria sobre a própria existência.

Não hesite em pedir ajuda quando precisar e não reprima suas verdadeiras emoções por como você ouviu que “deveria” reagir. Cada um reage como o seu corpo lhe diz. Ouça o seu corpo e dê a ele a oportunidade para se curar ou para, simplesmente, não adoecer.

Reprimir as emoções pode acabar deixando-o doente.