Segundo Geertz (1989), na Antropologia o conceito de cultura sofre uma revisão e passa a ser visto como:

23/06/2019 23:15
: um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos e materializado em comportamentos. Complementar a esta noção, está à idéia de que as imagens públicas do comportamento (cultural) são vistas como os mais eficazes elementos do controle social. Deste modo, a cultura é em parte controladora do comportamento em sociedade e, o mesmo tempo cria e recria este comportamento, devido ao seu conteúdo ideológico, impossível de ser esvaziado de significado.
A compreensão dos símbolos sagradas tornam-se objetos dos estudos da Antropologia visto que os mesmos “sintetizam o ethos de um povo – o tom, o caráter e a qualidade da sua vida, seu estilo e suas disposições morais e estéticos – e sua visão de mundo”. (p. 103). Neste sentido formula o seguinte conceito de religião:
 
(1) um sistema de símbolos que atua para (2) estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da (3) formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e (4) vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade que (5) as disposições e motivações parecem singularmente realistas. (p.104-5).
 
 
1. A percepção do significado do símbolo é o que define o imaginário do indivíduo e da coletividade, estabelecendo a ordem social e os padrões comportamentais da mesma.
2. As disposições – tendências, capacidades, propensões, habilidades, hábitos, compromissos e inclinações -, e as motivações – tendências persistentes, inclinações crônicas para executar certos tipos de atos e experimentar certas espécies de sentimentos em determinadas situações – projetam no individuo um modelo de comportamento. São comuns tanto nas disposições religiosas quanto nas seculares. Tanto uma quanto a outra são produtos do sistema simbólico.
3. Os símbolos sagrados induzem as disposições nos seres humanos ao mesmo tempo em que formulam idéias gerais de ordem, produzindo uma diferenciação empírica da atividade ou do fenômeno religioso. Dentro do conjunto de justificativas necessárias para o estabelecimento da ordem torna-se necessário a interiorização de postulados que a religião se presta bem ao papel de fornecer: a questão relacionada ao conceito de mal, do sofrimento e mesma as respostas da teodicéia.
4. A crença, a fé, a confiança no significado simbólico gera uma fatualidade nas concepções que impulsionam o indivíduo ao seu enquadramento ao contexto social da ordem fundamental. Existe uma aceitação prévia, não empírica, mas religiosa que faz com que o indivíduo se sujeite a uma autoridade. Essa é uma perspectiva religiosa “aquele que tiver que saber precisa primeiro acreditar” (p.126). A perspectiva religiosa difere da do senso comum, da científica e da arte, visto que “se move além das realidades da vida cotidiana em direção a outras mais amplas, que as corrigem e completam..” gerando esperança.
5. “As disposições que os rituais religiosos induzem têm, assim, seu impacto mais importante – do pondo de vista humana – fora dos limites do próprio ritual, na medida em que refletem de volta, colorindo, concepção individual do mundo estabelecido com fato nu” (p. 135). O homem por mais religioso que seja vive a maior parte do tempo no mundo da pratica, no cotidiano, no entanto os símbolos religiosos imbricam com o senso cumum e de forma silenciosa projetam a visão de mundo e o ethos do individuo e da sociedade.
 
Gueertz (1989, p. 142) conclui que “o estudo antropológico da religião é, portanto, uma operação em dois estágios: no primeiro, uma análise do sistema de significados incorporado nos símbolos que formam a religião propriamente dita e, no segundo, o relacionamento desses sistemas aos processos sócio-estruturais e psicológicos”.
 
Referências:
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro. Guanabara: 1989, p. 100-142