Medo de mudanças: como ter a coragem de arriscar?

18/01/2019 16:26

Se você tem medo de mudanças e isso tem sido um obstáculo em sua vida, não acredite que você é o único que passa por isso. É mais comum do que você pensa e tem uma razão de ser. O medo da mudança pode ser útil em algumas situações, mas em outras pode nos paralisar. Vamos nos aprofundar nesse tema.

O medo da mudança é um sentimento que pode ser útil para nos adaptar a uma situação, mas também pode se tornar um obstáculo. É algo que aprendemos com nossas experiências, com nossos pais, professores, amigos e inclusive com toda a cultura.

Podemos encontrar ditados populares que nos alertam para sermos cautelosos ao tomar a decisão de fazer uma mudança. Por exemplo, “melhor um mal conhecido do que um bem por conhecer“. No bom sentido, este ditado nos adverte dos possíveis riscos das mudanças. No entanto, se for levado ao pé da letra, pode nos limitar, porque evitaremos a mudança mesmo quando for necessária.

Então, temos medo da mudança porque a vemos como um risco e, por isso, optamos por manter o mal, o desconfortável, mas conhecido, antes de assumir o risco da mudança e enfrentar o desconhecido. Desta forma, nos mantemos em nossa zona de conforto.

Homem abrindo porta para um recomeço

A zona de conforto

A zona de conforto é aquele lugar ou estado mental em que aparentemente nos sentimos confortáveis ​​e seguros. Isso acontece porque é um estado conhecido, porque sabemos o que podemos esperar dele. A zona de conforto também pode se referir a um local físico, mas sempre é acompanhada por uma sensação de segurança e conforto mental, o que não implica necessariamente um bem-estar.

Agora, esta área não é, em si, negativa. O que pode se tornar negativo e prejudicial é permanecer nela sabendo que não é útil, que não nos impulsiona a crescer ou a nos sentirmos bem. Portanto, se ela se tornar um fardo que nos ancora e limita nosso crescimento, é melhor que a questionemos.

Como fazer isso? Em primeiro lugar, refletir sobre as razões do nosso comportamento e, acima de tudo, o que queremos alcançar com ele. Estamos ali por hábito ou talvez por necessidade? É medo, comodidade ou talvez um sentimento de se sentir seguro?

Ao não fazer nenhuma mudança, pode parecer que os riscos diminuem. Mas nem sempre é o caso, permanecer como estamos também implica o risco de nunca ser feliz ou de não continuar crescendo. Dar um passo assusta, até aterroriza às vezes, mas pelo simples fato de correr riscos e encarar o desconhecido.

Medo de mudanças

Por que a mudança é tão aterrorizante? Quantas vezes rejeitamos propostas para evitar correr riscos? Provavelmente muitas e em quase todas as áreas da nossa vida.

Às vezes tomamos a decisão de manter situações em que não nos sentimos confortáveis. Preferimos continuar assim do que ter que enfrentar as possíveis consequências negativas de uma mudança,esquecendo, por outro lado, as positivas. Tudo isso à custa da nossa felicidade.

Ser cauteloso é uma atitude positiva e benéfica. Isso nos mantém seguros em muitas situações. Aquele que não arrisca, nem ganha nem perde. Em outras palavras, permanecemos nessa normalidade que criamos. No entanto, a vida é uma mudança constante e, às vezes, você tem que assumir certos riscos para crescer pessoalmente, profissionalmente, financeiramente ou como um casal.

A mudança nos dá medo porque vem carregada de incerteza, daquele sentimento em que é impossível prever resultados e consequências. Pode ser positivo, mas também pode não ser assim. A questão é que há momentos em que é necessário assumir certos riscos.

Mulher cobrindo o rosto

Como enfrentar os riscos da mudança?

Esta é uma pergunta difícil, e não há uma fórmula secreta para responder. Toda mudança implica múltiplas variáveis, e nem todas dependem de nós mesmos. Esse é um aspecto sobre o qual temos que ser muito claros, mas não devemos nos deixar assustar com isso.

Se considerarmos fazer uma mudança em nossas vidas, é muito importante estarmos cientes das razões para realizá-la. Porque se estivermos cientes das razões e do porquê da nossa decisão, metade do caminho já terá sido percorrido.

Podemos ter medo de mudar, e isso é algo totalmente válido. De fato, medo é uma emoção que nos adverte de que algo pode ser perigoso.Devemos escutá-lo para decifrar o que ele quer nos dizer e, ao mesmo tempo, nos ouvir.

Um bom exercício é dar nome a esse medo, um rosto. Uma vez feito isso, será mais fácil saber em que terreno estamos pisando. E isso, juntamente com as respostas para o nosso porquê e para quê, nos dará a força necessária para enfrentar a mudança.

Arriscar para crescer

Não queremos dizer que devemos passar pela vida assumindo todos os riscos que surgem em nosso caminho, mas que no momento em que sentimos que algo não está indo bem em algum aspecto de nossas vidas, devemos correr o risco de promover uma mudança.

Ser cauteloso ao tomar decisões que impliquem uma mudança, tal como indicado por esse ditado popular, é válido. Mas não podemos ficar presos em uma situação em que não nos sintamos confortáveis ou que não nos traga crescimento algum.

Mulher caminhando em estrada

Às vezes não é uma questão de fazer uma grande mudança, talvez sejam apenas pequenos detalhes que farão a diferença pouco a pouco. O importante é perceber isso, cultivar a força necessária para avançar e começar a ser corajoso. Somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade e depende de nós seguir um ou outro caminho.

Mais cedo ou mais tarde fazemos isso: percebemos que a verdadeira inteligência está em saber se adaptar às mudanças com a cabeça erguida e o olhar desperto. No final do dia, nada do que chega fica, e nada do que se vai é completamente perdido. Resistir às mudanças é o que dói, e assumi-las é entender que não existiriam borboletas sem mudanças.

Há um fato que não deixa de ser curioso em relação às mudanças: a nossa espécie chegou até onde está graças a elas e ao progresso evolutivo que essas pequenas inovações nos ofereceram. No entanto, o cérebro prefere a permanência, a estabilidade e a zona de conforto onde não há perigos e onde a nossa sobrevivência fica protegida. Mas nessa zona de calma e segurança onde não acontece nada de novo surgem inevitavelmente a insatisfação e o tédio.

Já disse o próprio Charles Darwin em suas obras: quem sobrevive a este mundo complexo e às vezes ameaçador não é o mais forte, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. No entanto, ninguém nos ensinou como fazer isso, não nos ensinaram a ser corajosos quando alguém nos deixa, não temos um manual sobre como assumir o passar do tempo, nem nos disseram quais habilidades precisamos para transformar esse sentido de que às vezes a nossa existência precisa para ser um pouco mais feliz.

Às vezes, assim como nos explicava David Bowie em sua canção “Changes“, não há outra escolha além de dar meia volta e enfrentar o desconhecido, esse “algo” que esperamos por tanto tempo enquanto vivíamos uma vida equivocada.

Vamos refletir um pouco sobre isso a seguir.

baleias-voando-flores

As mudanças na mulher: crises e revoluções

Quando falamos de mudanças na mulher, pensamos quase instantaneamente no avanço da infância para a juventude ou da juventude para a vida adulta, onde a revolução hormonal nos leva para um universo complexo de ciclos, de fases e de etapas para enfrentar novos desafios e novos aprendizados. Agora, vamos deixar de lado estas dimensões físicas ou hormonais para focar o que realmente importa: as mudanças emocionais e o desenvolvimento de novas atitudes.

Bowie dizia em sua canção: “I still don’t know what I was waiting for“, ou Eu ainda não sei o que eu estava esperando, uma sensação comum e persistente durante uma boa etapa de nossas vidas, até que de repente escolhemos deixar de esperar para agir. Pode parecer curioso, mas esse “salto” no crescimento pessoal da mulher e a busca real de uma mudança não acontece aos 40 anos. Ele se inicia nessa etapa, mas culmina aos 50 anos.

Assim nos explica Rosi Braidotti, professora de Filosofia e diretora do Centro de Humanidades da Universidade de Utrecht, que afirma que as “cinquentonas” estão derrubando mitos na sociedade atual. São mulheres que enfrentaram dificuldades e que iniciam outra etapa para alcançar uma nova plenitude de vida. Elas fazem isso graças à realização de objetivos renovados, a uma maior segurança pessoal e ao conhecimento de que um divórcio não é o fim do mundo e de que o ninho vazio também não é motivo para a depressão.

As mudanças são novas oportunidades que temos que enfrentar sem medo, rotas que não foram exploradas para continuar navegando ao som da própria vida.

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As três emoções que acompanham as mudanças

Nem todas as mudanças são traumáticas ou significam o fim de uma etapa. A maior parte delas é uma simples continuidade, um avanço que está em perfeita harmonia com o nosso processo de crescimento pessoal. No entanto, e aqui vem o aspecto controverso, nem todos estamos dispostos a ver essa necessidade de avançar, de dar esse passo corajoso que nos coloque mais além das cercas da nossa zona de conforto.

Graças a um interessante estudo realizado no Harvard Decision Science Laboratory, foi possível demonstrar que na hora de iniciar uma mudança o nosso cérebro coloca em marcha três tipos de emoções muito concretas que é necessário esmiuçar, entender, mas não evitar. Temos que vivê-las para canalizá-las e, assim, facilitar o progresso.

Vamos ver isso detalhadamente.

A raiva

Permitir-se sentir uma emoção forte de vez em quando não é algo negativo. A raiva, por exemplo, pode agir como uma grande motivadora, pois nos revela o desconforto atual com toda sua crueza.

Da mesma forma, a raiva ou a ira podem nos dar uma certa sensação de controle na hora de nos motivarmos para assumir riscos e iniciar mudanças.

A paixão

Nós sabemos: pode ser um pouco contraditório pensar que depois da raiva pode aflorar a paixão. No entanto, vamos considerar estes detalhes para entender isso:

  • raiva nos convenceu de que precisamos de uma mudança.
  • Essa “ira” nos obriga a lutar pelo que desejamos e, por sua vez, esse objetivo colocado em nosso horizonte é o que nos inspira todos os dias, o que nos dá paixão, vontade, desejo.  

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Humildade

Quando tivermos ligado a máquina da mudança e a tivermos alimentado com paixão e expectativa, não devemos cair no falso orgulho, nesse espelho onde nos refletimos todos os dias para dizer a nós mesmos que tudo vai dar certo.

  • O sucesso nem sempre está garantido, por isso, nada melhor do que manter uma mente humilde que vê a realidade das coisas em cada momento.

As mudanças requerem vontade e inspiração, mas também exigem que mantenhamos sempre o norte das nossas bússolas da vida para não nos desviarmos, para mantermos sempre um rumo seguro, tranquilo e satisfatório em cada uma das nossas mudanças.

Imagens cortesia de Hajin Bae.