Carl Jung lembra que o psiquismo humano é um espaço de lutas íntimas:

02/02/2018 15:53
cuidardoser |
 
 
 É sabido que os dramas mais emocionantes e mais estranhos não são os que se passam no teatro, mas sim no coração de todos os homens e mulheres. Estes vivem sem chamar a atenção e não deixam transparecer de forma alguma os conflitos tumultuosos que os habitam, a não ser que se tornem vítimas de uma depressão cujas causas eles próprios ignoram.(1)
 
É fundamental que reintegremos a nossa sombra. Quem recusar este trabalho sobre si mesmo arrisca-se a ter desequilíbrios psicológicos sérios. Terá tendência para se sentir stressado e deprimido, viverá atormentado por um sentimento vago de angústia, de insatisfação consigo próprio e de culpabilidade. Ficará sujeito a toda a espécie de obsessões e será susceptível de se deixar arrastar pelos seus impulsos: ciúme, cólera mal gerida, ressentimentos, desvios sexuais, gula, etc.
 
Se a sombra não for reconhecida e acolhida, não só criará obsessões como forçará a sua entrada no consciente sob a forma de projecções sobre as outras pessoas.
 
Quais são os efeitos da projecção da sombra sobre os que nos rodeiam? Sob a influência das projecções da sua sombra, uma pessoa deturpa a sua percepção do real. Atribui aos outros os traços ou qualidades que não quer ver em si. Terá então tendência para idealizar os portadores das suas projecções, para desprezá-los ou para temê-los. Em resumo, o “projector” chegará a ter medo das projecções da sua sombra. Vê-la-á em pessoas que, aos seus olhos, serão fascinantes ou ameaçadoras, como se o seu olhar fosse um espelho deformante.
 
Quando tais fenómenos ocorrem nas relações sociais, há que esperar conflitos. Por uma curiosa lei de reflexão da luz, as projecções reflectem-se no próprio projector e apoderam-se dele. A pessoa cai sob o fascínio ou a repulsa da sua própria sombra.
 
Se alguém projecta os seus próprios defeitos ou fraquezas sobre outra pessoa, dificilmente conseguirá tolerar ou amar essa outra pessoa, quer ela seja o patrão, o vizinho, o cônjuge, ou o filho. Este semelhante há-de enervá-lo e há-de dominá-lo. Referimo-nos aqui à maior parte dos conflitos interpessoais e das disputas profissionais.
 
Para Carl Jung, a tomada de consciência das nossas projecções sobre os outros e do seu reflexo em nós produz não só uma melhoria nas relações interpessoais, mas também um efeito benéfico em toda a sociedade. Segundo Jung, todo o homem que se esforça por estar de acordo com a sua sombra, a fim de reintegrar as suas projecções, faz algo que beneficiará o mundo: Por mais ínfimo que esse trabalho nos pareça, através dele conseguimos encontrar soluções para os enormes e inultrapassáveis problemas do nosso tempo (4).