Você já se perguntou como as crenças são construídas? Você sabe por que algumas são tão limitantes e nos deixam desconfortáveis?

03/04/2024 19:46
A psicologia vem estudando esses atalhos mentais há algum tempo. Descubra todas as informações no texto a seguir.
A importância das crenças na psicologia

As crenças na psicologia constituem a pedra angular do comportamento humano. São aquelas convicções construídas sobre a realidade e que funcionam como atalhos mentais para quase todas as situações. Graças a elas, o cérebro obtém um significado – verdadeiro ou não – sobre as coisas para se mover em um ambiente sempre complexo e desafiador.

Agora, o problema é que uma parte dessas crenças que nos permitem interpretar o mundo pode ser prejudicial. Da mesma forma, levam a conclusões incorretas ou agem contra nosso próprio benefício. Isso explica por que parte da terapia psicológica consiste em abordar esses tipos de construções cognitivas que os pacientes criam.

“Somos aquilo em que acreditamos.”

-Wayne Dyer-

As crenças na psicologia: o que são, como funcionam e como se formam

As crenças são convicções construídas sobre o mundo e que servem para funcionar no piloto automático. São modelos inconscientes que facilitam a compreensão da realidade, a passagem por ela e até a sobrevivência. Da mesma forma, grande parte do que se acredita forma, por sua vez, a base das atitudes e estas impulsionam os comportamentos cotidianos.

Como aponta o psicólogo e ganhador do Prêmio Nobel Daniel Kahneman, algumas crenças não têm comprovação e, apesar disso, têm validade absoluta. Ou seja, embora uma parte desses produtos mentais seja útil e benéfica para nós, há outros que agem contra eles. Um exemplo disso são as crenças limitantes. O problema é que não é fácil desativá-los ou alterar seu significado. Confira mais dados.



Mente com labirinto dentro simbolizando crenças da psicologia
A maioria das crenças mais básicas é formada durante a infância.

Qual função elas têm?

Na psicologia, as crenças são usadas para entender e navegar em todos os cenários sociais. No entanto, há mais peças que ainda precisam ser entendidas sobre elas. Além disso, elas têm as seguintes funções:

  • Orientam a lembrar quem você é e o que o define.
  • O cérebro usa crenças para categorizar e avaliar instantaneamente todas as informações, tirar uma conclusão e agir.
  • Esses atalhos mentais permitem que você “preencha” o desconhecido. Por exemplo, quando se trata de saber se você pode ou não confiar em uma pessoa, você acessa suas crenças para entender como agir.
  • Ajudam a adaptar as novas informações recebidas, a partir do quadro de ideias internalizadas. Em outras palavras, você nunca começa do zero quando se trata de processar o que chega: isso é feito a partir de crenças.

As crenças permitem que você se mova por um mundo onde às vezes nada parece fazer sentido e o imprevisível domina o horizonte. Aquilo em que você acredita fornece uma base e um filtro para entender (ou acreditar entender) o que está acontecendo.

Como são formadas as crenças?

Acreditar em um deus, em OVNIs, em teorias da conspiração ou na autoeficácia para atingir objetivos. As crenças determinam, impulsionam e são a base de atitudes, comportamentos e até emoções. Mas como elas são formadas no cérebro? Qual mecanismo projeta esses processos?

  • As crenças são formadas de duas maneiras: por experiências e inferências ou pela influência do meio social.
  • Boa parte desses atalhos mentais são construídos na infância, por meio da educação e do meio imediato (família e escola).
  • Trabalhos como os publicados na revista Nature destacam que o cérebro é como “um motor para a construção de crenças”. O que ele faz é dar sentido a todas as informações que recebe e depois racionalizá-las. Uma vez concluído esse processo, ele se recusa a validar qualquer coisa ou ideia que desafie essa convicção.
  • A pesquisa divulgada pela JSS Academy of Higher Education & Research indica que as crenças também são um produto do cérebro emocional. Sua forma de internalizar também parte de complexos processos bioquímicos e neurológicos. Isso explica a dificuldade em mudar as crenças.

As crenças são a base de nossas atitudes e comportamentos, mas são muito difíceis de mudar, mesmo que sejam prejudiciais, limitantes e causem infelicidade.

Homem iluminando a mente para representar crenças da psicologia
Revisar crenças pode trazer grandes benefícios.

Tipos de crenças e sua importância para a psicologia

As crenças na psicologia constituem um assunto de grande interesse e significado. Contribuem para a compreensão de fenômenos como a discriminação e o preconceito. Também é a causa de muitos desconfortos, infelicidades e transtornos mentais. Depressão e ansiedade têm crenças irracionais em sua base.

Por outro lado, é importante saber que as crenças podem ser fortalecedoras ou limitantes por natureza. Nem todas medeiam nossas potencialidades, daí a importância de revisar, de tempos em tempos, esse sistema interno profundamente enraizado.



Crenças prejudiciais ou irracionais

As crenças são internas ou externas, ou seja, podem vir do meio social ou serem construídas por nós mesmos. Em alguns casos, o ambiente familiar, social ou cultural transmite convicções que são prejudiciais e causam danosA Universidade e Pesquisa de Wageningen, na Holanda, destaca algo interessante a respeito.

É a mente que na maioria das vezes estabelece ou valida crenças prejudiciais por meio de feedback ou pensamento dicotômico ou preto e branco, armadilhas que anulam as perspectivas mentais mais racionais e saudáveis.

O psicoterapeuta Albert Ellis deu vários exemplos desses padrões irracionais que muitas vezes são internalizados:

  • Culpa.
  • Crença de que você não tem controle sobre nada.
  • Percepção de que tudo o que está por vir é adverso.
  • Crenças de aceitação: todos devem me aceitar e me validar.
  • Crenças indefesas: eu sou assim e não consigo evitar. Faça o que fizer, tudo dará errado.

Crenças nutritivas

As crenças na psicologia também podem ser positivas, fortalecedoras e saudáveis para o ser humano. São aquelas que permitem valorizar e promover a autoeficácia para que os pensamentos tenham forma e as emoções sejam mais enriquecedoras. Mas por que existem pessoas dotadas de um sistema de crença mais positivo?

  • A educação recebida intervém na integração de crenças ajustadas e saudáveis.
  • A capacidade de trabalhar, atualizar e reformular crenças, quando necessário, medeia diretamente o bem-estar.

Por que as crenças são relevantes para a psicologia?

Os sistemas de crenças afetam, para o bem ou para o mal, quase tudo o que você pensa, sente e faz. A psicologia concentra a atenção naquilo que você acredita para entender boa parte do sofrimento, dos comportamentos limitantes e da infelicidade. Afinal, o que recebe um significado de você molda a maneira como você entende o mundo.

  • As crenças seriam o germe de muitos atritos enquanto seres sociais.
  • Muitas vezes, o que é transmitido na infância constrói boa parte de alguns transtornos mentais. Crenças de inferioridade, inutilidade ou não merecimento de amor são prejudiciais em todos os níveis.
  • A terapia psicológica trabalha o substrato das crenças do paciente. Mudar ou, pelo menos, refletir sobre o que damos validade pode gerar mudanças muito benéficas.

Para concluir, às vezes perguntar algo tão básico como “No que eu acredito?” é muito repulsivo. Isso permite que você perceba quais crenças não são úteis para substituí-las por outras fortalecedoras. A psicologia sempre estará presente para ajudar nessa jornada de mudança e transformação.

5 sinais de que você deve revisar suas crenças

É importante rever suas crenças de tempos em tempos, especialmente quando elas o levam a sentir um desacordo essencial com o mundo, desrespeitar o outro ou lhe dão uma sensação de superioridade.
5 sinais de que você deve revisar suas crenças

Revisar suas crenças de tempos em tempos é um exercício saudável. Nada melhor do que colocar na mesa aquelas ideias arraigadas que nos orientam no dia a dia e que muitas vezes não sabemos de onde vieram ou quão válidas são.

Há circunstâncias em que esta não é apenas uma ação conveniente, mas também necessária para se posicionar melhor no mundo. Existem sinais que você não deve ignorar e que indicam que é hora de rever suas crenças. Por quê? Porque elas começaram a atrapalhar sua vida e seus relacionamentos com os outros. As crenças são sempre um fator muito influente, mas há momentos em que sua influência se dispara. Por exemplo, elas levam você, sem que você perceba, a um comportamento irracional ou a uma intolerância infundada. A seguir estão alguns dos sinais de que é hora de rever o que você pensa e como você faz isso.

A realidade é aquilo que, mesmo que você deixe de acreditar nela, continua a existir e não desaparece.”

-Philip K. Dick-

1. Você quer mudar o comportamento dos outros

É muito bom que você acredite em algo e faça disso uma das “bandeiras” da sua vida. Adotar essa atitude militante em relação a alguma crença pode ser muito saudável, pois lhe dá um norte e dá sentido a muitas das coisas que você faz. Muito melhor quando aquilo em que você acredita se traduz em ações concretas.

É natural que você queira compartilhar suas crenças com os outros e até mesmo tentar “recrutá-los” para sua causa. O ruim vem quando você assume a idéia de que quem não pensa como você está necessariamente errado. Por outro lado, você cruza a linha vermelha quando, a favor da persuasão, viola os direitos do outro ou pensa que o valor da conversão justifica essa prática.

Mulher conversando com seu parceiro
Querer mudar os outros implica não aceitá-los ou respeitá-los.

2. Você tem a mesma discussão muitas vezes

É algo que, em geral, é derivado do exposto. Você levanta as mesmas ideias repetidamente para pessoas que já expressaram para você de maneiras diferentes que pensam ou querem agir de maneira diferente do que você. Apesar disso, você insiste e tem a mesma discussão repetidas vezes.

Tudo o que se repete de maneira estéril nos fala de estagnação. O que impulsiona nossa cegueira é a obstinação. Há uma relutância em abandonar o assunto sobre o qual não há acordo. Pensa-se erroneamente que a persistência é o que vai quebrar a barreira quando a única coisa que quebra é a boa comunicação.

3. Você sente que “odeia” pessoas que não conhece

Este é um sinal claro de que é hora de rever suas crenças. Se com base nelas você acaba sentindo raiva, desprezo ou até ódio por pessoas que você nem conhece, significa que aquilo em que você acredita se tornou uma força destrutiva e prejudicial para os outros. Seria necessário ver quão válida é uma ideia ou uma causa que pode prejudicar outras pessoas.

Na base dos atos de violência está aquela atitude de “odiar” o outro simplesmente porque não coincide com o que é considerado bom ou valioso. Este é o fundamento último das guerras e do terrorismo. Este tipo de atitude invalida moralmente as ideias ou causas que se defendem.

4. Você julga os outros com muita severidade

Uma das fontes mais comuns de conflito é a ideia de que as próprias crenças são superiores às dos outros. Essa suposta superioridade é o suporte para que alguns se sintam no direito de julgar os outros, às vezes de uma perspectiva tão tendenciosa quanto injusta. Nesses casos, partimos da ideia de que o mundo de quem não pensa como “eu” apresenta uma carência.

As coisas não funcionam assim. Toda crença é respeitável, pois não precisa ser validada cientificamente, nem por meio de religião ou política para existir. Somente as idéias que fazem uso do crime, da mentira ou da destrutividade devem ser rejeitadas.

Colegas conversando no trabalho
Julgar continuamente os outros indica rigidez cognitiva e, portanto, a necessidade de revisar as próprias crenças.

5. Você é excessivamente apaixonado por uma tendência ou ideia

Algo acontece com essas paixões que levam a um entusiasmo vivo, em comparação com aquelas que levam a um sofrimento sombrio. No primeiro caso, há uma adesão alegre e firme a uma ideia ou causa; na segunda, as crenças tornam-se pretexto para dar vazão a impulsos obsessivos ou autoritários.

Lembre-se que é bom rever suas crenças sempre que detectar que elas lhe causam conflitos contínuos ou distanciamentos com os outros. Também quando você percebe que pode haver algo exagerado ou superdimensionado nelas, ou  se elas estão presentes em áreas de sua vida onde não deveriam estar.