PODER NARRATIVO: UM IMPORTANTE PASSO PARA O PODER PESSOAL

22/07/2017 00:29
 

Todos temos histórias para contar acerca da nossa própria vida, do que nos aconteceu, como aconteceu, que impacto teve em nós, o quanto nos mudou, o que sofremos, o quanto nos enriqueceram. Somos um aglomerado de histórias que narram a nossa vida, a forma como nos vemos, como vemos os outros. A construção final das memórias que constituem essas histórias, sofrem grande influência da forma como narrámos os acontecimentos. Como os enquadrámos, que palavras utilizámos, que conceitos e crenças instituímos, e que padrão mental se foi edificando. A forma como narramos a nossa própria história influencia positivamente ou negativamente o nosso poder pessoal. Saber escolher as palavras que usamos na construção narrativa da nossa história é uma condição importantíssima na edificação do poder pessoal.

Exemplo: “Eu sou um fracasso total. Eu não posso acreditar que cometi este erro, isso custou-me meses de tempo e esforço. Eu talvez nunca consiga recuperar. Que idiota fui que não consegui perceber o que estava vindo.”

Este tipo de autonarrativa pode tomar proporções catastróficas. A pessoa fica à mercê da sua angústia, sofrendo claramente pela interpretação que faz, usando um discurso depreciativo e negativista.

AUTONARRATIVA DESTRUTIVA

Em consulta deparo-me com pessoas que claramente estão em sofrimento e procuram resolver o seu problema. Mas, maioritariamente focam-se em como o problema as fez sentirem-se falhadas, diferentes, piores que os outros, incapazes, miserabilistas. O problema maior não está no próprio problema, mas sim na forma como personalizam negativamente o problema, narrando a história do acontecimento de forma tremendamente autodepreciativa. Falar com você mesmo acerca do quão inútil você é, não é útil. Sim, você pode estar a sofrer uma perda, uma dor infligida por outrem, mas há um custo enorme ao contar a sua história de forma limitante. Você deita fora o seu maior poder. Quando você define o seu “eu”, como sendo “um fraco” perde a sua capacidade para efetuar uma mudança positiva.

Às vezes é mais importante saber como o seu próprio crescimento funciona, do que saber como aprender coisas específicas para melhorar. Você não pode mudar nada, a menos que primeiro você acredite na sua capacidade de conduzir a mudança. Isso é o que permite que você comece a envolver-se com ideias construtivas, resolver problemas, mobilizar os outros, e concentrar a sua energia na solução do problema. Por outras palavras, para você conseguir um impacto positivo, importa pensar em si mesmo como “eu tenho valor e consigo reerguer-me”, e não como “sou um incapacitado e vou permanecer no estado que me encontro.”

Aprofundei o assunto no artigo: A consciencialização é o primeiro passo para a mudança

A maioria de nós falamos para nós mesmos de maneiras que nunca falaríamos com ninguém. Mais do que recomendado, muitas das vezes podemos tender a ser cruéis conosco quando sofremos um fracasso. Se você espera “acertar” todas as vezes quando algo não acontece como esperando, a tendência pode ser culpabilizar-se pelo fracasso. Tende a acreditar que deveria ter previsto o mau resultado e precavido a situação. Na base dessa culpabilização destrutiva pode estar a crença de que você deveria ser capaz de controlar tudo, de antecipar os erros, fracassos e decepções. Mas, deixe-me dizer-lhe, essa é uma crença irrealista. Ninguém não falha, ninguém não erra. Todos somos suscetíveis ao erro. Se nos rotularmos de forma depreciativa, certamente a narração do eu não será benéfica. Passamos a usar um discurso para nós mesmos como se fossemos o nosso pior inimigo a falar-nos constantemente ao ouvido. Imagina o poder destrutivo que isso pode ter? Quer isso para você? Acredito que não.

negatividade

PODER PESSOAL = PODER NARRATIVO

As causas de você ter desenvolvido uma narrativa interna de autoavaliação destrutiva acerca das suas ações e desempenhos, podem ser muitas ou múltiplas. Pode ter tido uns pais demasiado rígidos e críticos, pode ter instituído padrões de perfeccionismo, pode ter desenvolvido um sentimento de inferioridade. Independentemente do que possa estar na origem, o que importa agora perceber é o quanto o seu poder narrativo pode estar a destrui-lo. Para ajudá-lo nesse processo, leia: 7 Maneiras de identificar o seu diálogo autocrítico.

Depois dessa análise, torna-se premente ficar ciente que se mudar o autodiscurso que tem vindo a ter e orientá-lo para formas mais construtivas e positivas, você ficará na posse de um enorme poder pessoal para conduzir a sua vida: O poder narrativo. Transforme-se no criador da sua história e da sua vida. Converse com você como um amigo, e não como um inimigo. E lembre-se, você não pode mudar nada, a menos que primeiro olhe para si mesmo como sendo suficientemente poderoso para agir deliberadamente. A maneira como falamos de nós mesmos concede-nos o poder, o poder narrativo, do que acontece em seguida. Recomendo que leia: Cuidado com as suas palavras, 8 formas de otimizar o seu diálogo interno.

A MINHA VOZ

Aquela voz,

Que me domina e me persegue,

Me oprime e me penaliza,

Me aprisiona as ideias, os desejos e a audácia,

Lá vem ela, chega surrateiramente, e quando se manifesta torna-se ensurdecedora,

Aquela voz que me inflaciona a responsabilidade,

Que me exige a perfeição,

Que me estigmatiza a alegria,

Que me faz sentir culpado na derrota e no erro,

Aquela voz, que representa todas as vozes autoritárias,

Que representa um pai castrador,

Que manifesta a frustração de uma geração,

Que desumaniza,

Que repudia a criatividade,

Aquela voz que foi sendo implantada na minha mente,

Aquela voz que eu julgo ilusoriamente ser a minha própria voz,

Aquela voz, que representa todas as vozes negativas, castradoras, maledicentes,

Aquela voz que eu descobri dentro de mim, não mais tomará o controle da minha vida,

Jamais aquela voz se enraizará na minha alma consumindo tudo o que tenho de bom,

Jamais permitirei que perpetue e se materialize na minha desgraça,

Aquela voz, já não é mais a minha voz,

Aquela voz, tinha a voz que eu a deixava ter,

Aquela voz foi vencida pela minha voz,

A minha voz superou aquela voz,

Libertei-me daquela voz,

Hoje sou a minha própria voz,

Consciente, ouço-a,

Que bela a minha voz,

Que palavras positivas se fazem ouvir,

Palavras livres, assertivas, carinhosas, carregadas de sonhos, vontades, compaixão e vontade de gritar bem alto:

Eu sou a minha voz que se faz ouvir em mim. –  Miguel Lucas

 

A CONSCIENCIALIZAÇÃO É O PRIMEIRO PASSO PARA A MUDANÇA


Uma das coisas que mantém as pessoas imobilizadas é a necessidade de saber as razões pelas quais não conseguem mudar os seus comportamentos. Entender as razões da auto-sabotagem não é o factor preponderante para conseguir mudar a sua atitude auto-sabotadora. 

AUMENTANDO A SUA CONSCIÊNCIA PARA OBTER SUCESSO

Para iniciar o seu processo de mudança, tem de ganhar consciência de um conjunto de coisas. Primeiro que tudo, pergunte a si próprio: O que é que eu quero mudar e porquê? Se não tem uma ideia clara do que pretende mudar ou melhorar, nunca saberá onde está, ou onde não está a ter progressos. É muito importante, mas por vezes difícil saber exactamente aquilo que pretende mudar e como é que a sua vida irá ficar depois de ter feito a pretendida mudança.

Por exemplo, se pretende perder peso, não deverá dizer apenas, “eu quero perder peso”. Deverá ser específico. Quanto peso pretende perder, em quanto tempo, como é que a sua vida ficará depois do resultado e o que irá sentir ao obter sucesso. Você quer bem-estar, felicidade, segurança, confiança? Escreva isso. Estabeleça o seu objectivo de forma clara, específica, positiva e que dependa de si para alcançar o resultado – “Eu pretendo perder cinco quilos no espaço de 3 meses, para que isso aconteça vou iniciar uma dieta e exercício físico na próxima semana pois quero sentir-me confiante e orgulhoso do meu corpo”.

Lembre-se o fim último de qualquer mudança ou objetivo é e será sempre um sentimento, somos seres emocionais e agimos sempre de acordo com a nossa natureza. Por este motivo, deverá imaginar-se antecipadamente a emparelhar esse sentimento ao resultado pretendido e verá que irá surgir uma enorme vontade para a ação. A emoção é ação, e a ação coloca-nos na via das possibilidades. Ao iniciar um processo de mudança existe sempre a possibilidade de ser bem sucedido, caso não seja, existe sempre a possibilidade de tentar de novo e desta vez com mais informação e mais preparado.

Segundo, pergunte a si próprio porque razão quer fazer esta mudança. É por si, porque quer melhorar a sua vida, ou quer mudar porque o parceiro, o filho, o médico, o patrão lhe disse que deveria. Na grande maioria das vezes para que uma mudança bem sedimentada ocorra, deverá querer por si próprio. No entanto existem várias formas de se motivar se realmente acredita que a mudança proposta por outrem é do seu interesse.

Por exemplo, se tem um problema de procrastinação (tendência para adiar) e isso lhe está a causar um problema no seu emprego ou no seu relacionamento, provavelmente será melhor pensar em mudar, ainda que a procrastinação não se lhe apresente como sendo um problema para si. Se tiver um projeto para terminar, e está a pensar em adiar mais um dia, está a cair nas malhas da procrastinação. Se está tentado a adiar, deverá levar em consideração os prós e contras. Veja como poderia proceder:

PRÓS

  • Ficaria mais relaxado
  • Poderia ir ver o meu programa favorito

CONTRAS

  • Sentirei ainda mais pressão amanhã
  • Poderei não conseguir entregar a tempo
  • Poderei perder o emprego ou a confiança do meu patrão
  • Poderei ficar envergonhado

Escrever uma lista de prós e contras poderá ajudá-lo a discernir até que ponto está ou não pronto para iniciar um processo de mudança. Qualquer mudança tem coisas positivas e negativas, deverá analisar os dois lados. Serão as recompensas positivas da mudança mais capacitadoras que as negativas? Irá obter mais ganhos ou perdas ao embarcar num processo de mudança? Existem razões suficientes que o levem à mudança? Como é que quer que a sua vida esteja daqui a dois, cinco ou dez anos? Se pretende que a sua vida seja diferente amanhã, terá de mudar aquilo que faz hoje.

Assim que tenha determinado que está preparado e pronto para a mudança, poderá aumentar o seu grau de consciência de alguns dos seus obstáculos usando um método estruturado em livro de registo. O exercício de registo irá ajudá-lo a identificar alguns padrões que o levam a comportar-se de uma forma sabotadora.

O primeiro passo a ser feito no livro de registo é estabelecer o seu objetivo. Que comportamento quer mudar e porquê? Seja o mais específico possível e limite-se apenas a um objetivo de cada vez. Poderá propor-se a outros objectivos mais tarde, mas por agora comece pela coisa mais importante que pretende mudar, para que possa aprender as técnicas que constroem a sua confiança.

PLANO DE ACÇÃO EM 5 PASSOS

  • 1- O que é que quer mudar e porquê? (seja específico)
  • 2- O que é que necessita para poder realizar a mudança desejada?
  • 3- O que é que o impede (algo real ou imaginado)? (escreva os comportamentos auto-sabotadores e atitudes que consiga identificar)
  • 4- Numa escala de 1 a 10 qual é o seu nível de vontade para mudar?
  • 5- Por vezes temos comportamentos auto-sabotadores porque não nos sentimos realizados nas nossas vidas. Escreva pelo menos 10 coisas que gostava de fazer e coloque uma marca em cada uma delas à medida que as for realizando nos próximos 15 dias.

Boas mudanças e boa sorte.

Miguel Lucas