Paulo Freire faz uma crítica à Educação Bancária.

18/10/2017 12:46
Na visão freiriana, esse modelo de educação parte do pressuposto que o aluno nada sabe e o professor é detentor do saber. Criando-se então uma relação vertical entre o educador e o educando. O Educador, sendo o que possui todo o saber, é o sujeito da aprendizagem, aquele que deposita o conhecimento. O educando, então, é o objeto que recebe o conhecimento. A educação vista por essa ótica tem como meta, intencional ou não, a formação de indivíduos acomodados, não questionadores e submetidos à estrutura do poder vigente.
 
 
                Homogeneizar a forma de pensar e de agir da sociedade é uma das maneiras  dos opressores controlarem e impedirem o livre pensamento. Pedro Demo afirma que: “ O sistema não teme o pobre que tem fome. Teme o pobre que sabe pensar.”  A massa homogeneizada já não pensa, não age, não sonha, não transforma, não almeja ser mais.       
               Se pensar é altamente perigoso. Cabe-nos perguntar perigoso para quem? Ora, para todos aqueles que uma sociedade transformada seria incomodo, isto é, todos que se beneficiam com  o status quo. E ao sentirem-se ameaçados os opressores negam o direito de pensar e impõem suas ideias com o objetivo de manter a ordem das coisas a seu favor.
                    Neste contexto, a escola e os educadores bancários servem ao objetivo dos dominadores que é impedir   a formação de  uma educação que seja libertadora, autônoma e emancipatória.
Como se dá então o conhecimento?
                   Na lógica da Educação Bancária o currículo mantém uma concepção epistemológica arraigada de no empirismo, através de uma escola tradicional, onde o saber é fechado e o educando é concebido como aquele que recebe a transferência do conhecimento e de informações. Cabendo ao professor o papel  ativo, opressor, visão epistemológica de transferência de informações e fatos, cultura do silêncio e do falso saber. E ao aluno cabe o papel passivo, oprimido, depósito.
 
                       Nesta visão de Educação Bancária os conteúdos são automaticamente desligados da situação existencial do aluno. A comunicação é unilateral. E a Metodologia Didática  é a exposição oral pelo professor, teoria antidialógica, onde o opressor encontra sua possível ação, ou seja uma relação de poder  unilateral.  A avaliação tem como função, neste contexto,  selecionar, classificar, contabilizar.
                Como bem escreveu Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” ( FREIRE, 2011, p. 24) Ora, se o professor ou o material didático, fornece aos educandos o saber “mastigado”, como, ou de que forma ele, serão criadas condições para que essa construção seja feita com a autonomia deles? Mal comparando, seria como uma mãe zelosa, que estivesse preocupada com a falta de condições de seu bebê em mastigar desse a ele, somente, caldos por muitos anos, ainda que se possa compreender o zelo dessa mãe, nos restaria uma questão importante: de que forma essa criança iria criar um dentição forte?

                Com a aprendizagem é preciso desde cedo, lá nos anos iniciais do Ensino Básico, que o aluno aprenda a construir seu conhecimento, que investigue, pesquise, construa seu conhecimento. Ainda em Freire “quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender, tanto mais se constrói e desenvolve o que venho chamando de curiosidade epistemológica” (FREIRE, 2011, p. 27) Se a escola através do professor ou do material didático der ao aluno, principalmente, nos anos iniciais tudo pronto ou “mastigado” estará matando a curiosidade dos jovens.
                    Em contrapartida Freire propõe a Educação Libertadora ou Problematizadora nela  o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Tornando-se ambos os sujeitos do processo da construção do conhecimento. "Ninguém educa a ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. (Paulo Freire)".
 
  
 
                     Necessariamente a Educação Libertadora abre espaço ao diálogo, a comunicação, o levantamento de problemas, o questionamento e reflexão sobre o estado atual de coisas, na busca incansável por  transformação.
                             Na Educação que ser quer ser Libertadora o aprender é um ato de conhecer a realidade. Na visão de Paulo Freire essa é uma prática política, que pode libertar o homem e a mulher de sua ignorância social e possibilitar, assim, a luta pelos direitos básicos, tornando-os capazes de pensar e analisar o mundo.
                     Segundo Freire, a educação problematizadora visa a uma transformação por ser uma educação critica. Tanto o professor quanto aluno são midiatizados pelo mundo e pela realidade que o apreende e da qual extraem o conteúdo da aprendizagem.  Os conteúdos então,  passam a ser temas geradores extraídos da problematização da prática para despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida. (Libânio)
                        Inquietamente deveras que, geralmente, o aluno goste da escola até o 5º ano das séries iniciais e que depois esta se torne um fardo pesado que ele é obrigado carregar por mais alguns anos.  E, muitas vezes, isso ocorre porque eles deixam um professor incentivador para  se depararem com disciplinas e professores compartimentados  onde, não poucas vezes, o lado humano é esquecido.
                  Na educação  problematizadora tem o aluno e o professor, o professor e aluno papeis importantes no processo pedagógico. Oportunizando que a aprendizagem venha da realidade concreta. Para tanto é preciso que se renovem os espaços escolares de modo que tenhamos um ambiente motivador. Na busca do crescimento pessoal do educando, mas também de seu crescimento social e coletivo. Na convivência respeitosa com as diferenças e os diferentes. Para tanto, precisamos a intervenção na prática pedagógica do professor, dos currículos, nos programas, nos sistemas educacionais, bem como na sociedade.
                  O envolvimento do professor para que seja possível, então  (re) criação dessa nova prática, é indispensável. Não se faz uma Educação Libertadora sem um professor  engajado e comprometido com esse objetivo.