Comportamento Destrutivo

04/07/2014 16:51


 

 
 

BUSCA implacável

Comportamentos autodestrutivos são formas mal sucedidas de conviver com os problemas e traumas ou fugir deles, além de serem maneiras de buscar alívio e superação

 

Os comportamentos autodestrutivos são todas as ações em que o sujeito provoca prejuízos para si mesmo. Inconscientemente, podemos causar danos orgânicos e psíquicos. O simples fato do exagero nas atitudes, comportamentos, costumes e hábitos compulsivos pode provocar doenças graves levando até a morte. Entretanto, existem comportamentos destrutivos mais sutis como dificuldades para impor limites. Sob o ponto de vista psicológico, dizer “não” ou desagradar o outro é mais suportável do que correr o risco de ser rejeitado, mas isso não é o que acontece no dia a dia. Esses comportamentos são reflexos de conflitos emocionais negativos, que não foram elaborados na vida, tais como raiva, ciúmes, revolta, perdas, rejeição e mágoas. Na verdade, são formas malsucedidas de conviver com os problemas e traumas. Então, beber para esquecer, fumar para se distrair, drogar- -se para fugir dos problemas são maneiras de buscar alívio e superação.

A vida agitada, o tempo curto, as cobranças socioeconômicas, a violência, as dificuldades nos relacionamentos, competições, pressões, cobranças e rivalidades geram sentimentos de vazio, angústia, impotência e desesperança no homem contemporâneo. O ser humano tem acesso ao mundo inteiro apenas com um pequeno toque em seu computador, tablet ou celular. Contudo, toda essa modernidade pode propiciar isolamento e solidão, perda de identidade e individualismo. Essa modernidade trouxe um aumento de comportamentos psicopatológicos, entre eles depressão, síndrome do pânico, quadros narcisistas e borderline, uso e abuso de drogas, transtornos de ansiedade, assim como atos violentos contra si mesmo e o próximo.

Dentre os comportamentos autodestrutivos destacam-se:
1) Mentira: ainda não sabemos claramente a origem da tendência à mentira, entretanto, nos atendimentos psicológicos e psiquiátricos, observa-se que ela está relacionada com uma autoestima baixa, medo de pais castradores e punitivos, perfeccionismo e insegurança. A mentira é usada para mascarar determinadas situações em que o indivíduo não consegue assumir ou enfrentar a realidade.

2) Violência: é caracterizada por comportamento explosivo, descontrolado e agressivo. O avanço das técnicas de neuroimagem e da Neurociência tenta explicar o mecanismo cerebral que leva ao comportamento violento. As estruturas cerebrais envolvidas com as emoções se interligam. Quando citamos uma região cerebral não signifi- ca que ela é o único local responsável por uma função ou comportamento, mas, sim, que desempenha um papel importante. A destruição da amígdala cerebral, por exemplo, faz com que animais e seres humanos se tornem hiperssexualizados e indiferentes a situações de risco. Além disso, o estímulo elétrico dessa estrutura provoca crises de agressividade intensa.

3) Roubo, traição e vícios: a maioria das pessoas que apresentam qualquer um desses comportamentos tem consciência de que eles são nocivos para seu organismo e socialmente malvistos. Mesmo assim, esses maus hábitos de vida são mantidos. A dificuldade em mudar esses comportamentos destrutivos é explicada do ponto de vista comportamental e orgânico.

A traição conjugal já foi considerada uma falta de ética e de moralidade. No entanto, pesquisas já mostraram que pessoas extremamente éticas traíam, e esse estudo mostrava que isso acontecia porque para essas pessoas traição não entra na esfera da ética, e pode ter motivos culturais, fatores de gênero ou mesmo alguma atitude considerada desleal do parceiro justificaria a traição.

No caso do fumo, frequentemente ouvimos justificativas do tipo: “minha mãe tem 80 anos, e fumou a vida inteira”, “meu avô bebeu até 96 anos e não aconteceu nada”.

IMAGENS: shutterstock

Talvez não seja possível não viver o estresse, já que ele é biológico e nos serve de proteção. Mas ele é possível de ser controlado

Apesar da divulgação sobre os males físicos do tabagismo, a justificativa em manter esse comportamento pode não ser somente química, mas também psicológica.

Uma psicóloga canadense, da Universidade de Alberta, levantou cinco razões, além da biologia, para justificar o porquê das pessoas não largarem seus vícios. Seriam elas: rebeldia interna natural, necessidade de ser aceito socialmente, incapacidade de compreender os riscos do vício, visão egocêntrica do mundo (não se preocupar com as pessoas que vão sofrer se você morrer) e predisposição genética.

O simples fato do exagero nas atitudes, comportamentos, costumes e hábitos compulsivos pode provocar doenças graves levando até a morte

Com relação ao vício no jogo, ele também foi encontrado entre os macacos que disputavam uma tigela de frutas. Psicologicamente, nosso cérebro tende a buscar o prazer e acreditar nas próprias vitórias; sendo assim, desconsidera o risco da perda e foca somente, o ganho, como no caso dos jogadores de cassino, que mesmo tendo perdido no dia anterior, voltam e se arriscam novamente.

4) Estresse: Será que as pessoas têm a escolha de se estressar ou não diante da vida que levam? Talvez não seja possível não viver o estresse, já que ele é biológico e, muitas vezes, nos serve de proteção. Mas ele é possível de ser controlado, uma vez que aprendemos a lidar de forma diferente com nossos problemas.

 

Por que cantores, atores, atletas e personalidades do mundo inteiro que obtiveram status dignos de inveja, construíram riquezas e ganharam a admiração incondicional dos seus fãs fazem cada vez mais parte de uma triste estatística de atos suicidas e comportamentos destrutivos? Chorão, Walmor Chagas, Leila Lopes, Amy Winehouse, Kurt Cobain, Marilyn Monroe, Ernest Hemingway, Sigmund Freud, Santos Dumond, Abraham Lincoln, Ludwig Van Beethoven, Vincent Van Gogh, dentre outros, deixaram saudades. Na Wikipédia é possível encontrar uma lista com centenas de personalidades que cometeram suicídio ao longo da história.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o comportamento suicida é um dos mais impactantes fatores de risco à vida nos países membros, sendo que, somente em 2003, o número de mortes por suicídio chegou a cerca de 900 mil pessoas ao redor do mundo. O suicídio, entre os 15 e 35 anos, está entre as três principais causas de morte.

Segundo dados do National Center of Health Statistics, dos EUA, aproximadamente 30 mil pessoas por ano tomam uma decisão inexplicável de se matar e aproximadamente 13,7% já tiveram pensamentos ou desejos suicidas ao longo da vida, apesar de viverem no país mais rico do mundo com um PIB (produto interno bruto) em torno de US$ 15,6 trilhões.

Dentre os fatores considerados importantes na condição do suicídio, registra-se que a maioria dos casos são do sexo masculino

O termo suicídio tem origem no latim sui – “próprio”, caedere – “matar”. Na busca por uma definição tecnicamente aceitável de suicídio e que evite rótulos estigmatizantes e preconceituosos (ex. suicídio histérico, pseudossuicídio, entre outros), o termo suicídio se aplicará a “morte causada por comportamento danoso autoinfligido com qualquer intenção de morrer como resultado desse comportamento”.

De acordo com a OMS, o comportamento suicida é um dos 
mais impactantes fatores de risco à vida nos países membros

PARA SABER MAIS

Burnout e Boreout

Ser famoso e requisitado por fãs o tempo todo pode fazer com que algumas pessoas desenvolvam um estresse tão intenso – que na classificação dos estágios do estresse denomina-se por exaustão, mas que apresenta algumas características especiais, tais como na síndrome de burnout: “reação tensional crônica proveniente do contato direto com as pessoas” e também o “esgotamento para atingir uma meta irrealizável” imposta pelo próprio indivíduo ou pela sociedade. O burnout possui três componentes principais, sendo estes: 1) exaustão emocional, caracterizada por cansaço extremo e sensação de não ter energia para enfrentar o dia de trabalho; 2) despersonalização, adoção de atitude de insensibilidade ou hostilidade em relação às pessoas que devem receber o serviço/ cuidado e 3) baixa realização profissional, sentimentos de incompetência e de frustração pessoal e profissional.

Ao acompanharmos a rotina de eventos dos famosos, é fundamental que percebamos como eles conseguem realizar tantas atividades simultaneamente, lidando com a expectativa de milhares de pessoas, entrevistas à TV e na maior parte das vezes com um sorriso e simpatias características. Famoso não tem dia ruim, não tem cólica, sono, fome – acordam sempre belos, corpos sempre joviais e são sempre otimistas em suas declarações.

Os pesquisadores sobre a síndrome de burnout já estudaram exaustivamente profissionais da saúde (ex. médicos, enfermeiros), policiais, professores, mas ainda não são vistos com frequência trabalhos com famosos – talvez estes não tenham tempo e nem interesse em participar de tais estudos, que poderiam arranhar sua aura mítica. Talvez uma das piores condições por trás da fama é ter de esconder o sofrimento real, a “ferida que dói e não se sente”.

Muito menos conhecido em nosso meio, o boreout é uma condição resultante do trabalho sem sentido ou propósito, algumas vezes pode ser confundido com o “presenteísmo” nos ambientes de trabalho, mas que se refere à ausência de tarefas significativas. Teoricamente o boreout é composto por três elementos: o tédio, a falta de desafio e a falta de interesse.

As pessoas acometidas pelo boreout estão “insatisfeitas com a sua situação profissional”, frustrados por mecanismos sociais e institucionais ou obstáculos que o impedem de atingir o seu potencial ou mesmo na perda do reconhecimento por seus esforços.

Vida de artista tem picos e vales, diferentemente do cidadão comum que é anônimo. Os picos são momentos compartilhados por milhares de pessoas, são extremamente reforçados nos seus talentos e amados, a sociedade dá aos seus artistas, talvez a mesma inundação química de condições especiais (ex. alimento, sexo, segurança – todos estimulantes de dopaminas e endorfinas), mas inegavelmente há uma “bad trip” – o esquecimento, o isolamento, não mais ser reconhecido ou admirado, não ganhar o disco de ouro, o prêmio do ano, não estar na lista de best-sellers, condições que o tornarão ainda mais vulnerável a quadros psiquiátricos (ex. depressão, pânico) e ao abuso de substâncias.

Inequivocadamente, os acontecimentos estressantes, principalmente aqueles que são experimentados como vergonhosos e humilhantes, o fracasso durante a realização de um projeto, a rejeição afetiva, abuso físico e sexual, prisão e perdas, todos têm o poder de aumentar o risco de comportamentos suicidas.

 

Entre os fatores psicológicos por trás do ato suicida, encontram-se: perdas recentes, perda de figura parental na infância, conflitos familiares, datas importantes, reações de aniversário, traços impulsivos, agressivos e humor lábil

De acordo com um debate promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) a respeito do suicídio, conclui-se que, além de se tratar de um importante problema de saúde pública – e que no Brasil chega-se a cerca de 24 mortes diárias, o ato suicida está relacionado a doenças mentais em 90% dos casos. Entre os transtornos mentais que são mais associados ao risco de suicídio estão: transtornos do humor (ex. depressão), dependência química, transtornos de personalidade, esquizofrenia, transtornos de ansiedade e comorbidade psiquiátricas (quando ocorre associação entre um ou mais transtornos). Outros fatores também são considerados importantes na condição do suicídio, dentre eles: sexo masculino (3,8 homens: 1 mulher), faixa etária entre 15 e 35 anos e acima de 75 anos, extratos econômicos extremos, residir em área urbana, desempregados (recente), aposentados, isolamento social, solteiros ou separados e migrantes.

O estresse pode representar o “gatilho” para que outros fatores precipitem a ideação até o ato suicida

A respeito dos fatores psicológicos por trás do ato suicida, encontram- se: perdas recentes, perda de figura parental na infância, conflitos familiares, datas importantes, reações de aniversário, traços impulsivos, agressivos e humor lábil. Existem ainda fatores clínicos que aumentam o risco de suicídio, dos quais: doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica, lesões desfigurantes, epilepsia, trauma medular, neoplasias malignas e aids.

Culpa do estresse
Apesar da multicausalidade do ato suicida, alguns estudiosos da “suicidologia” – área de investigação científica do comportamento suicida – apontam para o estresse como um dos fatores de risco mais importantes para esse desfecho, principalmente o estresse relacionado a eventos percebidos como vergonhosos ou humilhantes. De acordo com o modelo integrado das causas do comportamento suicida, o estresse pode representar o “gatilho” para que outros fatores (ex.: genéticos, transtornos psiquiátricos, abuso físico e sexual, ausência de apoio social, traço de impulsividade, dentre outros) precipitem a ideação até o ato suicida propriamente conhecido.

De acordo com a American Association for Suicidology, dos EUA, três sinais-chaves para uma intervenção imediata consistem em ameaçar 
ferir ou matar a si mesmo, procurar formas de matar a si mesmo e falar ou escrever sobre a morte

No modelo baseado na teoria cognitiva do suicídio são encontradas cinco classes de variáveis psicológicas que responderiam sobre a vulnerabilidade psicológica ao suicídio, sendo essas: 1) desesperança; 2) cognições relacionadas ao suicídio; 3) impulsividade aumentada; 4) déficits na resolução de problemas e 5) perfeccionismo. De acordo com a American Association for Suicidology, dos EUA, três sinais-chaves para uma intervenção imediata consistem em: 1) ameaçar ferir ou matar a si mesmo; 2) procurar formas de matar a si mesmo, como buscar acesso a pílulas, armas ou outros meios e 3) falar ou escrever sobre a morte, sobre morrer ou sobre o suicídio. Outros sinais apresentados: desesperança, ira, raiva, busca de vingança, ação inconsequente, sentimento de aprisionamento, uso de álcool e outras drogas, isolamento social, ansiedade, agitação, dificuldade de dormir ou dormir o tempo todo, mudanças dramáticas de humor, ausência de motivos para viver ou falta de propósitos na vida.

Muitos fãs sonham com o bônus da notoriedade, mas poucos reconhecem o ônus dessa vida de celebridade

Para o psiquiatra Aaron Beck e criador da Terapia Cognitiva, o modelo cognitivo dos atos suicidas faz referência à existência de esquemas cognitivos negativos “suicidas”, que são ativados mediante a vivência de situações (reais ou imaginárias) sufi- cientemente capazes de serem interpretadas como vergonhosas ou humilhantes, além de serem potencializadas por outros fatores pré-existentes (ex. a história familiar pode aumentar em até 6 vezes o risco de suicídio, a neurobiologia explica que os níveis baixos do neurotransmissor serotonina estão associados a aumento do risco de comportamentos suicidas e que mais de 90% dos suicidas sofriam de transtornos psiquiátricos, dentre outros).

Todos os fãs sabem como é frenético o ritmo de vida dos seus ídolos. Viagens, shows, temporada de jogos, excesso de trabalho, eventos, atividades sociais incessantes, distância dos familiares, “paparazzi”, prêmios, notoriedade, fofocas e histórias criadas para se vender revistas e programas sobre celebridades, hotéis, deslocamento aéreo e terrestre, pouco sono ou alteração constante dos hábitos de sono, dos hábitos alimentares, relacionamentos sociais e afetivos conturbados, traições etc. Claro que grande parte de tudo isso é acompanhado bem de perto pelos fãs, pelos fãs clubes, pelos fãs anônimos e também por invejas, competição e “puxões de tapete”. Quem já não acompanhou notícias sobre “a unha quebrada”, “o cabelo desfeito”, “a gafe” e as “crises pessoais” na vida dos famosos?

Muitos fãs sonham com o bônus da notoriedade, mas poucos reconhecem o ônus dessa vida de celebridade. Assistimos a um número crescente de programas que levam pessoas anônimas em busca de prêmios e uma chance para se tornarem famosos. Exemplos de reality shows como o Big Brother Brasil (Globo), A Fazenda (Record), Casa dos Artistas (SBT), dentre outros, sinalizam o encantamento da população com a fama: tais programas são líderes de audiência, independentemente do tempo e das versões apresentadas.

O estresse após desastres naturais também é outro motivo para o aumento das taxas de suicídio. Estudos com base em dados de 337 países que experimentaram desastres naturais nos anos 1980 mostram que esse tipo de estresse aumentou as taxas de suicídio em 13,8% nos quatro anos após enchentes graves, 31% nos dois anos após furacões e 62,9% no primeiro ano após um terremoto.

Prevenção 
Apesar do ato autodestrutivo e do comportamento suicida ser multicausal, são reconhecidos os fatores protetores que devem ser promovidos em diversos setores da sociedade. Nas escolas, por meio da educação é possível promover a conscientização sobre o problema – envolvendo educadores, estudantes, família e sociedade. De acordo com o modelo integrado do comportamento suicida desenvolvido por Susan Blumenthal, da Faculdade de Medicina da Georgetown e Tuft s University nos EUA, os fatores protetores são: flexibilidade cognitiva, forte apoio social, ausência de acontecimentos precipitantes, nenhuma perda, ter esperança, tratamento de transtornos psiquiátricos e de personalidade.

A síndrome de burnout é uma reação tensional crônica proveniente do contato direto com as pessoas ou o esgotamento para atingir uma meta irrealizável

Estudos mostram que o estresse após desastres naturais aumentou as taxas de suicídio em 13,8% nos quatro anos que sucederam enchentes graves, 
31% nos dois anos após furacões e 62,9% no primeiro ano depois de um terremoto

Ainda segundo o relatório Estratégia Nacional para Prevenção do Suicídio – 2012, nos EUA, existem quatro componentes básicos em programas para prevenção do suicídio e que, segundo esse relatório, podem salvar 20 mil vidas nos próximos 5 anos. Eles consistem em: 1) Criar ambientes que promovam indivíduos e comunidades saudáveis; 2) Melhorar os serviços de prevenção em contextos clínicos e comunidade; 3) Aumentar a disponibilidade de tratamento adequado e apoio; 4) Promover a prevenção do suicídio por meio de pesquisa e avaliação.

Em um modelo baseado na Terapia Cognitivo-Comportamental aplicado à prática clínica, as intervenções terapêuticas para pacientes suicidas, devem voltar-se a: 1) focar a terapia primeiramente para a ideação suicida e proporcionar aos pacientes estratégias para lidar com crises e 2) estruturar a terapia de modo que ela possa ser administrada em um número relativamente breve de sessões, comparando- se com a duração do tratamento geralmente disponível em centros de saúde mental.

As intervenções também devem ser planejadas para atingir os familiares, uma vez que, para cada suicídio há, em média, 5 ou 6 pessoas próximas ao falecido que sofrem consequências emocionais, sociais e econômicas do ato.

Quatro D´s podem ajudar as pessoas a identificar um maior risco para o comportamento suicida, são: Depressão, Desesperança, Desamparo e Desespero.

Algumas frases de alerta também podem indicar uma atenção especial para o risco de suicídio: “Eu preferia estar morto”, “Eu não posso fazer nada”, “Eu não aguento mais”, “Eu sou um perdedor e um peso pros outros”, “Os outros vão ser mais felizes sem mim”.

A prevenção da ideação e de atos suicidas deve fazer parte da formação geral dos profissionais da saúde, especialmente dos profissionais da saúde mental, que precisam estar prontos para lidar com uma demanda crescente e de alto risco.

Precisamos aprender a reconhecer os pedidos de ajuda, mesmo entre aqueles que povoam o imaginário social, que nos proporcionam tantos momentos alegres e de entretenimento. “Ainda que eu falasse a língua dos homens/ e falasse a língua dos anjos/ sem amor eu nada seria (...) é só o amor, é só o amor” (Monte Castelo – Legião Urbana).

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 
 

 

SINAIS de ALERTA para o suicídio

Comportamentos que indicam a intenção de cometer um suicídio, como relato de querer desaparecer ou de dormir para sempre, devem se levados a sério. Prestar atenção aos sinais, ideação e fatores de risco é importante medida de interv

shutterstock

Define-se como suicídio o ato intencional de matar a si mesmo. Para a Psicologia, essa “intencionalidade” pode ser consciente ou não. Ter ou não o direito de optar pela própria vida e morte é um assunto polêmico e possível de ser abordado sob vários pontos de vista: histórico-cultural, religioso, filosófico e psicológico.

Os primeiros relatos de suicídios datam da época antes de Cristo. No Egito antigo também ocorriam os suicídios coletivos dos servos, com a finalidade de acompanhar o Faraó após a sua morte.

O ato de tirar a própria vida, de certa forma, era estimulado pela Igreja que acreditava ser um modo de entrar no Céu com mais facilidade. Todavia, na Idade Média, esse tipo de atitude passou a ser condenada e o indivíduo que atentava contra a sua própria vida, então, era excomungado ou privado de funeral religioso. No século IV, Santo Agostinho condenou tal atitude e o suicida passou a ser considerado um discípulo de Judas, ou melhor, um traidor da humanidade. A partir da Revolução Francesa, a repressão aos suicidas diminuiu e proibiu-se qualquer tipo de condenação. Atualmente, sob o prisma religioso, há uma tendência de compreender o ato, mas sem condená-lo, o que muitas vezes é difícil. Há pacientes terminais que brigam pelo direito da “eutanásia” (suicídio medicamente assistido), mas essa é uma questão médica atualmente controversa. Então, é bastante comum, por exemplo, existir um certo “desprezo” até mesmo das equipes de saúde que recebem nos prontos-socorros, indivíduos que tentaram se matar, visto que esses profissionais foram treinados para salvar vidas. Em certos casos, a atitude é aceita e vista como altruísta (pais que deixam de comer para alimentar seus filhos e acabam morrendo).

Infância e Adolescência

Os fatores de riscos que levam crianças e adolescentes a cometerem suicídio têm características individuais importantes de serem abordadas. Além de individuais elas também variam de acordo com as fases da vida (idade), com o gênero (sexo), fatores culturais e doenças psiquiátricas.

No caso das crianças, é de suma importância identificar possíveis fatores de risco de suicídio através da dinâmica familiar. Isso também inclui a fase gestacional, se a gravidez foi desejada ou não. Existem estudos que relacionam a rejeição da mãe, a dinâmica familiar complicada e a percepção dos bebês a tudo isso e alterações comportamentais que sinalizam o suicídio indireto, como recusar a alimentação. Além disso, as crianças que tentaram se matar, geralmente tem pais que sofrem de alguma doença mental (ex: alcoolismo, depressão, uso de outros tipos de drogas etc.).

A criança que cresce num ambiente familiar de discussões, pobre em afeto e respeito, maus tratos (físico e psicológico), abuso sexual ou qualquer outro tipo de violência, podem ter dificuldade no desenvolvimento de sua personalidade, o que contribui para o aparecimento de comportamentos que facilitam o suicídio (violência, impulsividade, baixa autoestima e dificuldades de relacionamento interpessoal).

As doenças psiquiátricas, como nos adultos, também são fatores de risco no suicídio infantil.

Já a morte por suicídio entre os adolescentes tem aumentado significativamente na última década. Os fatores desencadeantes começam na infância, onde se formam as bases estruturais da personalidade, como já citado anteriormente. Na verdade podemos dividir em 3 fatores:

– que predispõem (ex: infância problemática, contexto familiar desestruturado);

- questões que reforçam (ex: dificuldade para lidar com mudanças físicas inerentes à idade, sexualidade);

- aqueles que precipitam o ato (ex: ruptura de uma relação importante, morte de familiares, término de namoro, briga com amigo, etc).

As notícias sensacionalistas, tão comuns nos veículos de comunicação, podem ser um fator desencadeador do suicídio. O jovem passa a considerar o ato como algo heroico. O uso de drogas, como um meio de lidar com conflitos, o acesso a armas e o surgimento de transtornos mentais na adolescência, principalmente os de humor e a esquizofrenia, podem ser um fator de risco para o suicídio.

 

 

Ter ou não o direito de optar pela própria vida e morte é um assunto polêmico e possível de ser abordado sob vários pontos de vista

 

O uso abusivo de álcool, ter relação sexual sem usar preservativos, praticar esportes radicais, dirigir sem prudência ou andar em locais perigosos são comportamentos que sinalizam ideação suicida

Há também suicídios justificados como religiosos ou atos terroristas.

Pode-se afirmar que, apesar da onipotência do ser humano que vive na maior parte do tempo como se fosse imortal, pelo menos alguma vez na vida todo mundo pensou em sua própria morte. Mas, o que será que as pessoas que se suicidam buscam? Talvez busquem uma outra vida. Acreditar na vida após a morte é uma forma de combater a angústia, portanto, partindo desse pressuposto, o suicida não procura a morte (porque não conhece o pós-morte) e, sim, uma outra forma de vida fantasiada em sua mente, o encontro com Deus e o reencontro com pessoas queridas que faleceram. Até mesmo num momento de frustração o suicida pode usar o fato de se matar como uma autopunição (vitimismo) ou como vingança, esperando que as pessoas próximas se sintam culpadas, tristes ou punidas. O suicídio torna-se, para muitos, uma forma ilusória de alívio.

Há uma série de fatores que podem levar ao suicídio, desde a questão socioeconômica até eventos traumáticos e transtornos psicológicos

A criança que cresce num ambiente familiar de discussões, pobre em afeto e respeito e que sofre maus tratos, pode ter difi culdade no desenvolvimento de sua personalidade, o que contribui para o aparecimento de comportamentos suicidas


 

 

Suicídio na velhice
O comportamento suicida no idoso tem algumas peculiaridades como a utilização de métodos violentos. Eles também não costumam dar indícios de suas intenções, os atos são geralmente premeditados e podem assumir a forma de situações passivas (ex: não usar medicamentos essenciais). No caso da mulher, a menopausa, por exemplo, pode significar o fim de feminilidade, visto que não poderá mais gerar um filho. As alterações corporais e hormonais, o não se sentir atraente, os filhos independentes, a aposentadoria, doença, solidão, desencadeiam processos melancólicos e até mesmo o suicídio.

Automutilação

A automutilação não é uma tentativa de suicídio, mas já foi considerada erroneamente como tal. Define-se então, como comportamento onde feridas são autoinfligidas sem intenção de morte.

Na verdade os indivíduos usam desse comportamento como forma de aliviar uma dor emocional, visto que apresentam grandes dificuldades para expressar as suas emoções. Não conseguem chorar mesmo quando estão sozinhos, se sentem “um lixo humano” ou um “grande fracasso” e, portanto, não merecedores de conviver com os demais, afastando-se então de amigos e familiares.

As pessoas que se automutilam, escondem suas feridas e cicatrizes, não acreditam que podem ter coisas boas, além de não ter expectativas positivas em relação ao seu próprio futuro. Entretanto, acreditam num alívio de sua dor emocional (ex: ódio, raiva, medo) através da dor física.

Existem algumas possíveis causas para esse tipo de comportamento como transtorno de personalidade borderline. Entretanto, grande parte dos automutiladores sofrem de problemas como depressão, transtorno bipolar, síndrome do pânico, transtornos alimentares e bullying. A causa também pode estar relacionada à associação entre amor e dor, visto que o comportamento de autodestruição carrega uma carga de prazer associado, muito comum nos masoquistas.

Como forma de tratamento, associa-se a psicoterapia e medicação. A primeira visa ajudar o paciente a lidar com frustrações que não seja a automutilação. A medicação também é importante, pois pode aliviar sintomas ansiosos e depressivos que colaboram para a manutenção da autoagressão.

 

O uso de drogas, como um meio de lidar com confl itos, o fácil acesso a armas e o surgimento de transtornos mentais na adolescência, principalmente os de humor e a esquizofrenia, podem ser um fator de risco para o suicídio entre jovens


Luto patológico
Ocorre quando o indivíduo enlutado não consegue se desligar do morto e passa a viver de recordações. Esse tipo de comportamento pode ocorrer no processo de luto, entretanto torna-se patológico à medida que persiste por mais de seis meses. Também é comum ocorrer de a pessoa que perdeu um ente querido falecer logo em seguida. Nesses casos, fica claro que o fator afetivo influi nessas mortes, e a m otivação inconsciente é a d e encontrar o parceiro.

É difícil precisar o número de pessoas que se matam ou tentam se matar, visto que as estatísticas são obtidas através dos atestados de óbito

Indivíduos que se automutilam usam desse comportamento como forma de aliviar uma dor emocional, visto que apresentam grandes dificuldades para expressar as suas emoções

Em relação às causas genéticas do risco de suicídio, há controvérsias. A questão da hereditariedade é significativa nos transtornos mentais, então um jovem que se mata pode cometer o suicídio porque herdou de seus pais uma doença mental. O fato de ter um indivíduo com comportamento suicida na família não transmite isso aos seus por hereditariedade.

Outro ponto importante são as questões sociais como problemas familiares, amorosos e financeiros que podem levar o indivíduo a tentar se matar. Diariamente vemos nos jornais histórias de pessoas que colocaram fim em suas vidas após uma decepção amorosa ou por ter perdido o emprego. Em muitos casos, a pobreza pode não ser uma causa direta, mas pode aumentar o risco de depressão e consequentemente levar ao suicídio.

Para a psicologia, existem alguns comportamentos que indicam a intenção de se cometer um suicídio, como relatos de querer desaparecer ou de dormir para sempre, que devem se levados a sério. Então, não é correto dizer coisas do tipo “quem quer se matar não avisa antes” ou “fulano quer somente aparecer...”, frases comuns de serem ouvidas.

O uso abusivo de álcool, associados à história familiar de alcoolismo ou aos problemas amorosos, pode potencializar a ideação suicida. Ter relação sexual sem usar preservativos, praticar esportes radicais, dirigir sem prudência ou andar em locais perigosos também são comportamentos que sinalizam ideação suicida. Portanto, ficar atento aos sinais de alerta de ideação e fatores de risco são importantes medidas de intervenção.

Epidemiologia 
É difícil precisar o número de pessoas que se matam ou tentam se matar, visto que as estatísticas são obtidas por meio dos atestados de óbito. Nesse documento consta a causa da morte, entretanto sabemos que existem suicídios que são confundidos com acidentes ou situações que o individuo provoca. No caso dos suicidas inconscientes, como o diabético que negligencia o seu tratamento, recusando ou esquecendo-se de tomar os remédios, em seu atestado de óbito não vai constar o suicídio como causa da morte.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é um grave problema de saúde pública em todo mundo. É a décima maior causa de morte no mundo e a terceira maior na faixa entre os 15 e 35 anos. No Brasil, o Ministério da Saúde implantou, em 2005, a Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio com manual de orientação para os profissionais da saúde mental.

A avaliação da OMS deixa nosso país em 13° lugar entre os 100 países pesquisados com altas taxas de suicídio

Os índices de mortes violentas em nosso País, em destaque o suicídio, foram estudados pelo Instituto Sangari e divulgados os resultados em fevereiro de 2011. De acordo com essa pesquisa, o número de pessoas que tiraram a própria vida passou de 6.985, em 1998, para 9.328, em 2008. Houve um aumento de 33,5%. Todavia, se comparados aos índices de outros países, a taxa de suicídio no Brasil é baixa. A avaliação da OMS deixa nosso País em 13° lugar entre os 100 países pesquisados. Contudo, o Mapa da Violência apontou para altos índices entre jovens brasileiros de 15 a 24 anos em relação a outros países.

Mulheres que tentam
A observação dos casos de suicídio no Brasil, em artigo publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, leva à conclusão de que as mulheres tentam se suicidar aprox. 4 vezes mais que os homens. Porém, pelo uso de métodos letais mais eficazes (disparo de armas de fogo, enforcamento, dentre outros), os homens se matam, em média, aproximadamente, 3 vezes mais do que as mulheres. Estas, por razões psicológicas a serem investigadas, empregam meios bem menos violentos e com grandes chances de falhar no suicídio, tais como remédios, venenos e cortes nos pulsos.

Como forma de apontar o problema existem projetos como os realizados no Pronto Socorro do Hospital Ouro Verde (Campinas-SP), que capacitam as equipes de saúde a lidar com as tentativas de suicídio e também estimular a pessoa que tentou se matar a continuar em tratamento psicológico e psiquiátrico. Isso é um começo, mas sabemos que o suicídio é uma questão de alta complexidade, em que a pergunta principal é para entender o porquê de o indivíduo se matar.

A morte por suicídio entre os adolescentes tem aumentado signifi cativamente na última década

O psicólogo Nilson Berenchtein Netto, em seu livro Do Assédio Moral à Morte de Si, fala da necessidade de focar os motivos de fundo em vez de simplesmente estancar os efeitos. Outro fator importante abordado pelo autor, é que a política pública nessa área deve se preocupar com as condições que mantêm nas pessoas o desejo de viver.


 

 

Na verdade, há uma série de fatores que podem levar ao suicídio, desde a questão socioeconômica até eventos traumáticos e transtornos psicológicos, como:

• Transtorno de humor (depressão, distimia e transtorno bipolar);

• Psicoses (esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo, transtornos delirantes);

• Transtorno de ansiedade (transtordossieno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de ansiedade generalizada);

• Demências (Alzheimer, problemas cerebrais vasculares e mal de Parkinson);

• Transtornos de personalidade (borderline, antissocial e transtorno de personalidade histriônica). O abuso de substância química é a segunda causa mais comum de suicídio depois dos transtornos do humor. Esse risco ocorre tanto em indivíduos que fazem uso crônico de drogas como entre os que usam de maneira aguda. O uso dessas substâncias associadas a um sofrimento pessoal potencializa ainda mais o comportamento autodestrutivo.

O abuso de substâncias químicas é a segunda causa mais comum de suicídio depois dos transtornos do humor